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Tribuna resgata entrevista em que Nadja Tamires acusava ex-marido de abusar da filha antes de homicídio em Arapiraca

Redação Tribuna do Sertão – Arapiraca (AL) | Matéria em atualização 17/11/2025
Tribuna resgata entrevista em que Nadja Tamires acusava ex-marido de abusar da filha antes de homicídio em Arapiraca
- Foto: Reprodução

A morte do médico Alan Carlos de Lima Cavalcante na tarde desta domingo (16), em Arapiraca, tendo como principal suspeita a ex-companheira, Nadja Tamires, reacendeu um caso delicado e extremamente sensível que já vinha sendo discutido há mais de um ano no município: a denúncia de estupro de vulnerável supostamente praticado contra a filha do casal, então com dois anos de idade.

Algumas semanas antes do crime de hoje, Nadja Tamires concedeu uma entrevista ao repórter Wendel Salustiano, na rádio Líder FM de Arapiraca, em que relatou, em detalhes, a acusação que fez contra o ex-marido.

À época, ela afirmou ter procurado a polícia, a Justiça e serviços especializados para proteção da criança, descrevendo sinais de regressão no comportamento da filha, atendimento psicológico, medidas protetivas e disputas judiciais em torno da guarda e do contato do pai com a criança.

Segundo comentários que circulam nas redes sociais e em grupos de mensagens, o ex-marido teria sido inocentado no processo relativo à acusação de estupro. Os relatos dão conta de que a Justiça não acolheu integralmente as provas apresentadas pela mãe, levando à queda das medidas protetivas e à retomada de contatos obrigatórios da criança com o pai por decisão judicial.

Diante da repercussão do homicídio ocorrido hoje e do forte conteúdo da entrevista, a Tribuna do Sertão reproduz abaixo, como documento jornalístico, a fala de Nadja Tamires ao programa radiofônico. O conteúdo reflete exclusivamente a versão apresentada por ela naquela ocasião e deve ser entendido dentro do contexto de um processo ainda em discussão judicial à época.

Trechos da entrevista de Nadja Tamires à rádio Líder FM, com o repórter Wendel Salustiano

“Nossa reportagem, com riqueza de detalhes, conta uma situação enfrentada por uma mãe, a senhora Nadja Tamires, que busca justiça após denunciar o seu ex-companheiro por estupro da própria filha de dois anos.

Naquela oportunidade, o casal vivia junto.

Nadja vinha buscando justiça desde que denunciou o ex-companheiro por estupro de vulnerável cometido contra a própria filha do casal, que na época tinha apenas dois anos e alguns meses.

A denúncia foi registrada no dia 27 de agosto do ano passado.

Nadja Tamires procurou nossa reportagem e disse acreditar que, de fato, a justiça será feita.

Acompanhe agora esse material exclusivo, com detalhes ainda não divulgados nos meios de comunicação.”

Questionada por Wendel sobre quando passou a desconfiar do ex-companheiro, Nadja respondeu:

“Eu passei a desconfiar dele quando houve sinais de regressão na criança. Ela era uma criança que teve boa adaptação na escola, boa aceitação de alimentação.

A partir de certo momento, funcionárias da creche e da escola começaram a sinalizar mudanças. Ela passou a não querer mais trocar fralda, tinha medo de tomar banho, queria só tomar leite, não queria mais as comidas.

Quando ele estava fora e fazia vídeo de chamada, ela se escondia embaixo da mesa, dizia que amava ele ‘só um pouquinho’ e a mamãe ‘muito’, o que gerou conflitos dentro de casa.

Fui avisada pela babá, pela escola e comecei a perceber que era um pedido de socorro.

Em determinado momento, eu flagrei ele tentando introduzir o dedo no ânus dela, por baixo da fralda, no sofá de casa, achando que eu estava dormindo. A partir daí, eu não tive mais dúvidas.

Pedi ajuda à minha cunhada, que falou com minha sogra. Ela disse que era ‘comum’, que eu tinha que colocar ordem na casa, que era comum isso acontecer nas famílias e que eu tinha que olhar no olho dele e dizer que não podia.

Depois, na escola, perguntei como estavam as trocas de fralda e as responsáveis confirmaram estranhamentos.

Em casa, eu falei com a minha filha: ‘a mãe pode trocar a fralda, a vovó pode, não precisa nenhum homem trocar’. E ela mesma me falou que o pai colocava a mão no pipi e no bumbum dela, que doía, que ela estava triste e que ele não tinha pedido desculpa.

Comecei a gravar, mostrei à minha cunhada, e ela disse: ‘faça o que tem que ser feito, porque isso tem nome’.”

Nadja afirmou ter procurado a polícia, advogado e o sistema de proteção:

“Procurei um advogado, tomei as medidas cabíveis, fui à delegacia pedir socorro. Pela cultura, eu teria que ficar calada, aparentar um casamento e passar a vida vigiando e fiscalizando os comportamentos dele dentro de casa.

Mas eu fui pelo caminho correto, corri atrás dos direitos dela.”

Sobre o andamento do caso, ela relatou:

“Foram estabelecidas medidas protetivas para mim e para ela. Ele não poderia se aproximar da criança.

Levei minha filha à área Lilás, na cidade, para ser avaliada. Ela verbalizou os atos ilícitos para duas psicólogas. Elas pediram que eu continuasse o acompanhamento psicológico, e isso vem sendo feito semanalmente.

Enquanto ele estava distante, ela conseguiu verbalizar, foi fechado diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático. Hoje ela faz uso de medicação controlada, prescrita por psiquiatra infantil, que também ouviu dela o que teria acontecido.

Só que, na sentença, foi relatada ausência de relatórios psicológicos, como se eles não existissem. Os relatórios existem, a psicóloga foi testemunha na audiência de guarda.

Devido à não apreciação das provas, a medida protetiva caiu e agora ela é obrigada a fazer videochamadas com ele três vezes na semana. Isso impactou muito a realidade dela.

Ela voltou a apresentar regressão, não quer se alimentar direito, não consegue sentar na sala com os coleguinhas, tem comportamentos agressivos, pede peito o tempo todo.”

Ela disse ainda que buscava proteger a filha enquanto aprendia, na prática, o funcionamento da Justiça:

“Eu sou médica, não entendo nada de Direito, estou aprendendo nessa triste situação.

Minha súplica é que, até que saiam os recursos, ele seja mantido afastado dela para que ela não piore mais.

Hoje ela tem transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada e continua sendo obrigada a ter contato.

Mesmo ela verbalizando que não quer, infelizmente a psicóloga escolhida pelo genitor não respeitou a criança.

Minha mãe, que é paciente psiquiátrica, também foi influenciada por ele e tenta forçar a criança a falar com ele.

Há uma falta de respeito muito grande com a criança, que já tem transtorno e toma medicação.”

Nadja também mencionou aspectos culturais e familiares:

“Minha mãe teve o primeiro filho com 13 anos, para ela isso é normal.

Minha sogra teve que silenciar abusos que sofreu na adolescência para manter um casamento de aparência.

Eu disse a elas que a força que eu tenho hoje vem justamente do silêncio que elas tiveram que manter. O que elas não puderam dizer, hoje eu posso.

Confiei e confio que a justiça vai ser feita, mas a demora e a quantidade de processos fazem com que, enquanto isso, minha filha sofra.”

Ao final, o repórter Wendel resume ao ouvinte:

“Você está acompanhando o relato de uma mãe que busca justiça após denunciar o próprio companheiro.

Na época, eles ainda viviam juntos. A denúncia foi registrada em 27 de agosto do ano passado.”

A Tribuna do Sertão seguirá acompanhando a apuração oficial sobre o homicídio ocorrido hoje em Arapiraca, bem como eventuais informações da Polícia Civil, do Ministério Público e do Poder Judiciário sobre o histórico das denúncias anteriores.

Audios

Entrevista de Nadja Tamires a Wendel Salustiano,da Líder FM.mp3