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UE adota tom mais cauteloso sobre China e acelera ações para garantir minerais e chips

Bloco europeu modera discurso público para evitar tensões diplomáticas, mas avança em medidas para reduzir dependência de insumos estratégicos chineses

Sputinik Brasil 17/11/2025
UE adota tom mais cauteloso sobre China e acelera ações para garantir minerais e chips
Foto: © AP Photo / John Thys

Sob pressão do controle chinês sobre terras raras e diante da crise envolvendo a Nexperia, a União Europeia (UE) adota um discurso público mais moderado para evitar atritos diplomáticos, ao mesmo tempo em que acelera iniciativas para garantir minerais e chips essenciais à sua indústria tecnológica.

Nos últimos meses, autoridades em Bruxelas receberam orientações para adotar cautela nas declarações sobre o controle chinês de exportações de metais e terras raras. Apesar do tom mais discreto, o bloco intensifica esforços para reduzir dependências estratégicas em setores-chave.

Segundo o South China Morning Post (SCMP), fontes oficiais confirmam que a UE está em "modo de desescalada", buscando convencer Pequim a ampliar as licenças de exportação de minerais críticos e liberar o fluxo de semicondutores da Nexperia — fabricante chinesa sediada nos Países Baixos. As negociações avançam para um possível acordo que prevê licenças anuais, em vez das atuais, de três meses, desde que não haja destinação militar dos insumos.

O novo regime chinês de controle sobre terras raras, anunciado em abril, impactou fortemente a indústria europeia. O cenário se agravou em setembro, após intervenção do governo holandês contra a Nexperia, que resultou em restrições às operações locais da empresa por questões de governança. Em resposta, Pequim impôs novos controles, bloqueando a saída de chips e intensificando a disputa comercial.

Para evitar o fracasso das negociações, diplomatas europeus defendem o abandono da chamada "diplomacia de megafone". O discurso público foi suavizado inclusive durante o Fórum Europa-China, em Bruxelas, quando representantes da comissão preferiram ressaltar áreas de cooperação, como o clima, em vez de confrontos diretos sobre temas como Rússia ou comércio.

Apesar da moderação no tom, Bruxelas segue com medidas firmes em relação à China. O bloco abriu investigações comerciais, inclusive contra a estatal ferroviária CRRC, e prepara novas legislações para reforçar a estratégia de redução de riscos. Há ainda iniciativas para limitar a presença da Huawei nas redes 5G e conter o avanço de plataformas chinesas como Shein e Temu.

No evento em Bruxelas, diplomatas defenderam o diálogo contínuo, enquanto vozes independentes adotaram postura mais crítica. Conforme reportado pela imprensa, o embaixador da Bélgica na China cobrou que Pequim reconheça a operação militar russa na Ucrânia como uma ameaça existencial à Europa, enquanto acadêmicos chineses rejeitaram as críticas e pediram que a UE não responsabilize Pequim pela crise.

Paralelamente, medidas estruturais estão sendo implementadas. A Comissão Europeia antecipou para 2026 o fim da isenção fiscal para encomendas de baixo valor e prepara uma Lei de Aceleração Industrial, que exigirá transferência tecnológica de empresas chinesas em setores estratégicos. O plano ReSourceEU pretende replicar a desvinculação energética da Rússia, agora aplicada às terras raras.

Essa estratégia dupla — suavizar o discurso público enquanto endurece nas políticas — reflete a tentativa da UE de equilibrar pragmatismo e firmeza: mantém o diálogo aberto com Pequim, mas reforça a proteção da indústria europeia em um cenário de crescente guerra econômica.