Geral
Acordo comercial em negociação entre Argentina e EUA coloca Washington como o claro vencedor
Especialistas apontam assimetria em esboço de pacto: Argentina concede benefícios imediatos, enquanto vantagens oferecidas pelos EUA permanecem indefinidas
O esboço de um acordo comercial entre Estados Unidos e Argentina, divulgado pela Casa Branca, revela uma parceria marcada por forte desequilíbrio, potencialmente prejudicial ao país sul-americano, segundo especialistas ouvidos pela Sputnik.
O entendimento, que ainda está em fase de negociação, promete redefinir o relacionamento bilateral e consolidar o alinhamento político entre o presidente argentino Javier Milei e o ex-presidente norte-americano Donald Trump. O anúncio partiu inicialmente de Washington, detalhando amplas concessões argentinas e adiando a definição dos benefícios concretos que os EUA oferecerão em contrapartida.
Pelo acordo, os Estados Unidos terão acesso preferencial ao mercado argentino para medicamentos, maquinário, tecnologia, veículos e produtos agropecuários. Em contrapartida, a Argentina aceitará normas e certificações americanas para alimentos, automóveis e medicamentos, reduzindo a atuação de organismos reguladores nacionais.
O pacto também prevê cooperação em minerais estratégicos, como o lítio, e coordenação no comércio global de soja, setor em que as duas economias concorrem diretamente.
O anúncio ocorre após o apoio financeiro inédito concedido por Trump a Milei durante a campanha eleitoral prévia às eleições legislativas argentinas.
Analistas consultados pela Sputnik destacam a assimetria do acordo. Fernando Riva, analista internacional, alerta que “Argentina e Estados Unidos são economias que competem” e que a entrada de produtos sob padrões norte-americanos “é prejudicial em setores como medicamentos e veículos”.
“Veículos, alimentos, medicamentos, laticínios e gado vivo sob os padrões dos Estados Unidos que não consideram os organismos nacionais. O mais grave é que não está garantido o investimento direto na Argentina”, destacou.
O analista Ezequiel Magnani acrescenta um diagnóstico político incisivo:
“O alinhamento de Milei com Trump chega a tal ponto que os interesses dos Estados Unidos são assumidos como próprios pelo governo argentino”.
Para Magnani, o anúncio transforma o acordo comercial em um contexto em que Washington define as prioridades e Buenos Aires se adapta. Segundo ele, “o acordo implica concessões concretas às demandas de Washington, sem estipular com precisão o que a Casa Branca oferece em troca”.
Na avaliação do especialista, o anúncio aprofunda uma relação assimétrica em que a Argentina cede regulação, enquanto os benefícios dos Estados Unidos permanecem vagos ou são adiados. “O claro vencedor é Washington”, resume.
“Os produtos dos EUA poderão entrar sem considerar os organismos nacionais, especialmente em medicamentos e veículos, o que altera a capacidade do país de regular seu próprio mercado”, acrescenta Magnani. “Milei está em uma situação de dependência concreta em relação a Trump”, conclui.
Ambos os especialistas concordam que o acordo consolida uma relação desigual, com obrigações claras para a Argentina e benefícios indefinidos por parte de Washington. Enquanto o governo argentino apresenta o pacto como um avanço estratégico, os analistas alertam para possíveis impactos negativos sobre o emprego, a indústria e a soberania regulatória do país.
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