Geral
"Nonada": romance do escritor carioca Renato Amado explora a finitude e as relações de gênero em uma Terra plana e distópica
Com prefácio de Leila Lehnen, da Brown University, obra combina existencialismo e ficção científica para refletir sobre a condição humana contemporânea
05/11/2025
"Nonada" é o segundo romance do escritor carioca Renato Amado, doutor em Literatura em Língua Portuguesa pela Brown University (EUA) e mestre em Literatura Brasileira pela UERJ. Publicada pela Editora Cajuína, a obra mergulha na crise existencial de Galeano, um motorista de aplicativo e ex-praticante de wingsuit (modalidade de paraquedismo) que, ao observar uma mulher de outro continente através de um telescópio, inicia uma relação que desvela suas fragilidades e contradições. A história se passa em uma Terra plana e mil vezes maior que a nossa, onde continentes são mundos isolados e o contato é raro e caríssimo. Neste universo ficcional, Galeano encontra em Seiryu, moradora do lado oposto do planeta, uma fuga para sua melancolia e vazio persistente. A narrativa alterna entre os encontros visuais dos dois, os diálogos de Galeano com passageiros de Uber e flashbacks de seu passado como atleta radical. Como o autor explica, a motivação para o livro veio de uma profunda reflexão sobre a finitude: "Lido pessimamente com a nossa finitude. Decidi trabalhar isso em um romance, como forma de me ajudar a sobreviver ao nosso absurdo". Um planeta expandido, um homem em crise O romance se constrói como uma crítica sutil ao presente. A distância intransponível entre Galeano e Seiryu funciona como uma alegoria potente para as relações mediadas pela tecnologia na era digital. O telescópio, nesse contexto, torna-se metáfora de um "desejo frustrado de presença, de um amor atravessado por mediações", como aponta o prefácio assinado pela professora Leila Lehnen, Chefe do Department of Portuguese and Brazilian Studies da Brown University (EUA), onde Renato fez o doutorado. Os personagens de "Nonada" são complexos e ambíguos. Galeano, em especial, é um homem comum cujas fragilidades comovem, mas seus gestos de ternura convivem com um machismo estrutural, muitas vezes inconsciente. "Ele não é um misógino, mas reproduz um machismo estrutural que afeta todos ou quase todos. O livro serve como um espelho", reflete o autor. A obra é marcada pelo não-dito e pelos silêncios, convidando o leitor a preencher as lacunas. O título, "Nonada", evoca justamente esse "quase-nada", essa presença esquiva que permeia a narrativa. A prosa de Renato transita com naturalidade entre o registro coloquial dos diálogos no Uber e momentos de puro lirismo e reflexão filosófica. Para além da trama principal, os diálogos entre Galeano e seus passageiros oferecem um retrato afiado do Brasil urbano contemporâneo, com suas banalidades, preconceitos e microviolências. São cenas que revelam um "país exausto, saturado de desigualdades", conforme destaca o prefácio. "Nonada" é um romance que se enraíza na era dos aplicativos e das relações espectrais, mas que, ao mesmo tempo, as contesta. É um convite à imaginação, à escuta atenta e ao desconforto. Uma obra que, nas palavras do autor, representa seu "mergulho de vez na escrita criativa" e que, diante do inevitável, propõe que "a melhor saída é a aceitação, pôr-se em termos com o universo e suas condições, pois nos debatermos é mero martírio diante da nossa impotência". Sobre o autor Renato Amado é escritor carioca, doutor em Estudos Portugueses e Brasileiros pela Brown University (EUA) e mestre em Literatura Brasileira pela UERJ. Formado em Direito pela PUC-Rio, deixou uma carreira de dez anos como advogado concursado da Petrobras para dedicar-se integralmente à literatura e à vida acadêmica. Lecionou língua, literatura e cultura brasileira em universidades dos Estados Unidos, onde também coordenou o programa de português da University of Arkansas. Possui uma sólida trajetória como editor e agitador cultural: fundou a Editora Flâneur, voltada para literatura e quadrinhos, e o coletivo multiartístico Caneta, Lente & Pincel, que unia literatura, fotografia e artes plásticas em publicações e exposições em espaços como o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Com contos publicados em antologias, "Nonada" é seu segundo romance. FICHA TÉCNICA Livro: Nonada Autor: Renato Amado Editora : Editora Cajuína Ano: 2025 Número de páginas: 78 páginas Gênero: Ficção ISBN-13: 978-6585957441 Disponível em: bit.ly/4h2JCed |
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