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Cientistas identificam novo coronavírus em morcegos brasileiros com traço semelhante ao da Covid-19
Vírus recém-descoberto em morcegos do Maranhão apresenta proteína spike com característica similar à do SARS-CoV-2, mas ainda não há evidências de que possa infectar humanos.
Uma equipe internacional de cientistas identificou um novo tipo de coronavírus em morcegos do Brasil, cuja proteína spike apresenta uma característica semelhante à encontrada no SARS-CoV-2, vírus responsável pela covid-19. Esse traço é um dos fatores que permitem ao SARS-CoV-2 infectar células humanas de forma eficiente.
Apesar da descoberta, os pesquisadores destacam que o estudo é preliminar e não comprova que esse novo coronavírus seja capaz de contaminar humanos ou causar epidemias.
O achado foi detalhado em um artigo científico publicado na última segunda-feira (27), em formato de preprint na plataforma bioRxiv. Por ainda não ter passado pela revisão de outros cientistas, o estudo acende um alerta sobre a circulação de novos patógenos com potencial de provocar surtos.
A pesquisa também ressalta a necessidade de ampliar o monitoramento genético de vírus na América do Sul, uma vez que, até o momento, os coronavírus de maior relevância para a saúde pública haviam sido identificados principalmente na Ásia.
Liderado por cientistas do Japão, Brasil e outros países, o estudo analisou amostras de tecido intestinal de diferentes espécies de morcegos coletadas em áreas rurais e de floresta no Maranhão e em São Paulo.
Ao sequenciar o material genético, os pesquisadores encontraram, em um morcego da espécie Pteronotus parnellii no município de Riachão (MA), um genoma viral com grande semelhança aos coronavírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, e MERS-CoV, responsável por um surto de síndrome respiratória no Oriente Médio em 2012.
O principal destaque no genoma desse novo vírus, provisoriamente chamado de BRZ batCoV, é a presença de uma sequência de aminoácidos que forma o chamado sítio de clivagem da furina. Esse ponto é reconhecido por uma enzima humana (furina), que pode ativar a proteína spike do vírus — funcionando como uma espécie de chave que permite ao vírus invadir a célula humana.
Esse sítio representa uma ferramenta molecular que pode facilitar a entrada do vírus nas células. No caso do SARS-CoV-2, acredita-se que essa estrutura tenha contribuído para sua alta transmissibilidade.
“Dado o papel crucial do sítio de clivagem da furina em determinar o alcance de hospedeiros, a infectividade e a capacidade de transmissão entre espécies, essa descoberta fornece informações importantes sobre o potencial evolutivo e o risco zoonótico do BRZ batCoV encontrado em morcegos”, escreveram os autores no artigo.
Os pesquisadores ressaltam ainda que sítios de clivagem da furina já foram identificados em proteínas de superfície de outros vírus de RNA altamente patogênicos, como os causadores da gripe aviária e do Ebola.
“Esses exemplos reforçam que a aquisição de sítios de clivagem da furina é uma adaptação evolutiva que pode surgir de forma independente em diversas famílias de vírus de RNA — frequentemente associada a um aumento do potencial de patogenicidade”, observam os autores.
Apesar disso, não há qualquer evidência de que o novo vírus infecte humanos. O achado reforça a importância da vigilância viral em animais silvestres, especialmente em regiões tropicais pouco estudadas, como a América do Sul, onde há grande diversidade de morcegos e de ecossistemas propícios ao surgimento de novos vírus.
Os resultados sugerem ainda que outros sítios de clivagem da furina “podem surgir naturalmente em morcegos por meio de eventos de recombinação ou mutações de inserção, reforçando o papel desses animais como possíveis reservatórios de inovações genéticas relevantes para a emergência de doenças zoonóticas”.
Os morcegos são conhecidos como reservatórios naturais de uma vasta gama de vírus, incluindo os coronavírus responsáveis pela SARS, MERS e covid-19. No entanto, a maior parte das pesquisas até agora tem se concentrado em populações de morcegos da Ásia, África e Oriente Médio.
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