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‘Mpox não é a nova Covid’, diz diretor da OMS

Hans Kluge citou experiência com o surto anterior da doença, em 2022, e diferentes meios de transmissão como principais fatores que distinguem as crises sanitárias

Agência O Globo - GLOBO 20/08/2024
‘Mpox não é a nova Covid’, diz diretor da OMS
‘Mpox não é a nova Covid’, diz diretor da OMS - Foto: Reprodução/internet

O diretor regional da Organização Mundial da Saúde ( OMS) para a Europa, Hans Kluge, reforçou que a nova emergência internacional de mpox, decretada pelo órgão no último dia 14, não é comparável à crise sanitária causada pela Covid-19, que também recebeu o nível mais alto de alerta da autarquia entre 2020 e 2023.

— Conforme enfrentamos a mpox como uma emergência de saúde pública de importância internacional pela segunda vez em dois anos, gostaria de transmitir hoje três mensagens básicas em nome da OMS/Europa. A primeira é que a mpox não é a “nova Covid” — disse o diretor em coletiva de imprensa nesta terça-feira.

Na semana passada, após recomendação do Comitê de Emergência, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que a mpox configurava novamente uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII).

A doença é uma infecção viral endêmica em alguns países da África Central e Ocidental que saiu pela primeira vez do continente em 2022, quando houve o primeiro surto global da doença. Na época, a propagação foi devido a uma versão do vírus chamada de Clado 2b, que continua a circular pelo mundo.

O Clado 2b se espalhou pelo mundo principalmente por ter adquirido a capacidade de se disseminar via relações sexuais. No entanto, a linhagem é mais branda, com uma taxa de letalidade de até cerca de 1%. Desde 2022, os casos diminuíram pelo mundo, ainda há registros de forma contínua causados pela cepa – no Brasil, foram 709 neste ano, de acordo com o Ministério da Saúde.

Agora, porém, a nova emergência foi decretada pela OMS devido a uma alta de casos em países africanos, em especial na República Democrática do Congo (RDC), onde já são mais de 500 mortos apenas em 2024, causada por uma outra linhagem do vírus, o Clado 1, cuja mortalidade chega a até 10%.

A preocupação das autoridades de saúde é especialmente devido à identificação de uma nova cepa do Clado 1, batizada de Clado 1b, que também aparenta ter desenvolvido a capacidade de se disseminar via relações sexuais, assim como ocorreu com o Clado 2b em 2022.

A linhagem foi identificada inicialmente na RDC, mas desde então já foi detectada em Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, países que até então nunca tinham relatado mpox. Fora do continente africano, o Clado 1b também foi registrado na Suécia.

— Em 2022, a mpox nos mostrou que pode se espalhar rapidamente pelo mundo. Podemos, e devemos, combater a mpox juntos, através de regiões e continentes. Escolheremos colocar em prática os sistemas necessários para controlar e eliminar a mpox globalmente? Ou entraremos em outro ciclo de pânico, seguido de negligência? — questionou Kluge.

Mas, ainda que seja um motivo de alerta, ele destacou que a mpox não é comparável à Covid, independentemente de ser o Clado 1 ou o Clado 2. Um dos principais motivos é a disseminação. Enquanto o coronavírus se espalha pelo ar, o que torna o contágio mais fácil de acontecer, a mpox “se transmite principalmente através do contato direto com lesões de mpox na pele, inclusive durante o sexo”, disse o diretor da OMS.

Para comparação, a Covid deixou até agora quase 705 milhões de infectados e pouco mais de 7 milhões de mortos pelo planeta. Enquanto isso, desde 2022, a mpox provocou quase 100 mil casos e pouco mais de 200 vítimas fatais.

— Isso me leva à segunda mensagem. Sabemos como controlar a mpox e os passos necessários para eliminar sua transmissão completamente. Há dois anos, controlamos a mpox na Europa graças ao envolvimento direto com as comunidades mais afetadas de homens que fazem sexo com homens. Implementamos uma vigilância robusta, investigamos minuciosamente os contatos de novos casos e fornecemos aconselhamento sólido em saúde pública. A mudança de comportamento, a ação de saúde pública não discriminatória e a vacinação contra mpox contribuíram para controlar o surto — disse Kluge na coletiva.

As vacinas são também um diferencial. Enquanto a Covid-19 era um vírus novo, para o qual as farmacêuticas precisaram seguir todos os testes para desenvolver imunizantes, a mpox já tem uma dose disponível. Isso porque a vacina utilizada para erradicar a varíola humana, em 1980, também confere proteção contra essa outra versão do vírus - que permaneceu em circulação por também infectar animais.

Por isso, Kluge instou governos e autoridades de saúde a manterem as medidas que funcionaram em 2022 e a fortalecerem a vigilância e o diagnóstico da mpox; emitirem orientações de saúde pública, incluindo para viajantes, "baseadas na ciência, sem medo, sem usar estigma e sem discriminação" e a comprarem vacinas e antivirais para aqueles que possam precisar, "com base em avaliações estratégicas de risco".

Ao fim da coletiva, a terceira mensagem do diretor da OMS foi que a necessidade de uma resposta coordenada é “agora maior na Região Africana”. — Os Centros Africanos para Controle e Prevenção de Doenças declararam uma emergência continental de mpox pouco antes da declaração global da OMS. A Europa deve escolher agir em solidariedade — disse.