A Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou uma versão nova e simplificada da vacina oral contra a cólera, o que deve ampliar o número de doses disponíveis à medida que os casos globais da doença aumentam, e países relatam escassez de imunizantes.

A vacina, chamada Euvichol-S, é uma formulação simplificada da Euvichol-Plus, com menos componentes - o que deve permitir que volumes maiores sejam produzidos em menos tempo. A aplicação é produzida pela sul-coreana EuBiologics, que já tem o sinal verde da OMS para as doses Euvichol e Euvichol-Plus. Segundo o órgão, a eficácia observada na nova versão, a Euvichol-S, é semelhante à das anteriores.

— A nova vacina é o terceiro produto da mesma família de vacinas que temos para cólera em nossa lista de pré-qualificação da OMS — disse Rogerio Gaspar, diretor do departamento de Regulamentação e Pré-qualificação da agência de saúde da ONU. — Espera-se que a nova pré-qualificação permita um rápido aumento na produção e no fornecimento de que muitas comunidades que lutam contra surtos de cólera precisam urgentemente — continuou.

Cerca de 473 mil casos de cólera foram registrados pela OMS em 2022, o dobro do número de 2021. No ano passado, dados preliminares indicam que esse número subiu novamente para mais de 700 mil diagnósticos. Atualmente, 23 países relatam surtos da doença. Os impactos mais graves estão sendo sentidos em Comores, República Democrática do Congo, Etiópia, Moçambique, Somália, Zâmbia e Zimbábue.

Embora o fornecimento global de vacinas orais contra a cólera tenha aumentado 18 vezes entre 2013 e 2023, o aumento da demanda frente ao avanço da doença criou um cenário de escassez global.

Em uma declaração conjunta, a aliança de vacinas Gavi e a agência da ONU para crianças, Unicef, afirmaram que a nova aprovação pode ajudar a produzir "mais volumes de vacina, mais rapidamente e a um custo menor" e a aumentar o estoque global, de 38 milhões de doses no ano passado, para cerca de 50 milhões neste ano.

A medida da OMS "representa uma tábua de salvação para comunidades vulneráveis em todo o mundo", defendeu Derrick Sim, chefe de mercados de vacinas da Gavi. — A aprovação deste novo produto não poderia ter vindo em um momento mais importante, dado o aumento agudo de surtos de cólera que estamos vendo em todo o mundo.

A vacina líquida tem um prazo de validade de 24 meses. A Gavi e o Unicef reforçaram que a EuBiologics é atualmente a única fornecedora de vacina oral contra a cólera para o estoque global, embora se espere que outros fabricantes tenham produtos disponíveis nos próximos anos.

A cólera é uma infecção intestinal aguda que se espalha por meio de alimentos e água contaminados com a bactéria Vibrio cholerae, geralmente proveniente de fezes.

Ela pode matar em poucas horas se não for tratada por provocar um grave quadro de desidratação, mas o acesso imediato ao tratamento salva vidas, afirma a OMS.

Cólera no Brasil

No Brasil, na última sexta-feira, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de contaminação local de cólera em 18 anos. O paciente não tinha histórico de deslocamento para países com ocorrência de casos confirmados, por isso foi considerado um caso autóctone, ou seja, resultado de transmissão no país.

É o primeiro registro do tipo desde 2006. Nas últimas quase duas décadas, todos os casos da doença identificados no país foram importados, ou seja, trazidos de fora. O paciente é um homem de 60 anos, de Salvador, Bahia, que teve o diagnóstico confirmado em março. De acordo com a pasta da Saúde, porém, considerando o período de transmissibilidade da cólera, ele não dissemina mais a doença desde o último dia 10. Também não foram identificados outros casos.

“Trata-se de um caso isolado, tendo em vista que não foram identificados outros casos após a investigação epidemiológica realizada pelas equipes de saúde locais junto às pessoas que tiveram contato com o paciente”, diz nota técnica do ministério. No entanto, destaca que, “diante do cenário de casos de cólera no mundo”, é importante que profissionais de saúde estejam "sensibilizados quanto à situação epidemiológica de doença, à detecção de casos, à investigação epidemiológica e às medidas de prevenção e controle”.