Finanças

Regulamentar trabalho por aplicativos será prioridade do governo no primeiro semestre de 2026, diz Boulos

Segundo o ministro, objetivo é concluir grupo de trabalho entre janeiro e fevereiro, para que possam trabalhar pela aprovação do projeto antes do início do calendário eleitoral

Agência O Globo - 05/12/2025
Regulamentar trabalho por aplicativos será prioridade do governo no primeiro semestre de 2026, diz Boulos
Guilherme Boulos, relator da propostaRegulamentar trabalho por aplicativos será prioridade do governo no primeiro semestre de 2026, diz Boulos - Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou nesta quinta-feira que a regulamentação do trabalho por aplicativos será tratada como prioridade do governo Lula no primeiro semestre de 2026. Segundo ele, o objetivo é concluir, entre janeiro e fevereiro, o grupo de trabalho criado para negociar direitos de entregadores e motoristas e, em seguida, trabalhar pela aprovação do projeto no Congresso entre março e abril, antes do início das restrições do calendário eleitoral.

A declaração ocorreu após reunião com entregadores no Palácio do Planalto, na qual Boulos assinou a portaria que cria o grupo interministerial dedicado aos entregadores. Um segundo GT, voltado a motoristas de aplicativos, será instalado em janeiro.

— Nós queremos ter, até o final de janeiro, no máximo início de fevereiro, a conclusão desse grupo de trabalho para traduzir ele em medidas práticas que melhorem a vida desses milhões de trabalhadores hoje no Brasil — afirmou.

Boulos reforçou que o governo quer “traduzir o debate em medidas práticas em pouquíssimo tempo” e que espera encerrar o GT dos entregadores até o fim de janeiro ou início de fevereiro, abrindo caminho para que as propostas negociadas com trabalhadores e órgãos como Ministério Público do Trabalho, TST e parlamentares sejam incorporadas ao texto que tramita na Câmara.

O que o governo quer aprovar

Boulos destacou três eixos principais que serão debatidos no GT:

Garantia de ganho mínimo para entregadores e motoristas;

Criação de um modelo de proteção social — envolvendo seguro e previdência;

Transparência nos algoritmos usados por apps como Uber, 99 e iFood, que hoje operam sem revelar critérios de distribuição de corridas e entregas.

Impasse na Câmara ameaça votação em 2025

O movimento do governo ocorre enquanto o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tenta acelerar a tramitação do projeto que regulamenta motoristas e entregadores. A intenção era levar o texto ao plenário na semana do dia 15, mas um impasse ainda sem solução — a definição da tarifa mínima — ameaça empurrar a votação para 2026.

Para cumprir o cronograma, o relator, Augusto Coutinho (Republicanos-PE), deve apresentar nesta sexta-feira o relatório final, deixando a análise na comissão especial para a segunda semana de dezembro. Motta vinha cobrando que governo, empresas e trabalhadores fechassem um acordo nesta semana. A discussão sobre a contribuição previdenciária, que travava o debate, avançou: a fórmula de considerar 25% do ganho bruto como base de incidência do INSS passou a ser tratada como encaminhada.

A tarifa mínima, porém, continua sem consenso. O presidente da comissão especial, Joaquim Passarinho (PL-PA), avalia que a adoção de um valor uniforme pode prejudicar cidades menores:

— Nas capitais, como São Paulo e Brasília, R$ 10 faz sentido; no interior, pode ficar inviável e até levar as empresas a suspender o serviço — disse.

Segundo Passarinho, sem acordo, esse ponto pode ficar para 2026:

— Previdência está ok, seguro está ok, a manutenção do modelo autônomo está ok. Só falta resolver a tarifa mínima. Risco (de ficar para 2026) tem.

O que deve constar no relatório de Augusto Coutinho

O parecer do relator deve manter motoristas e entregadores como autônomos, permitindo atuação simultânea em várias plataformas. O texto será organizado em três eixos:

Seguro obrigatório financiado pelas plataformas, com foco especial em motociclistas.

Regras previdenciárias, com base em 25% da renda para cálculo da contribuição ao INSS.

Pontos de apoio para descanso e suporte durante a jornada.

Coutinho também trabalha para que a regulamentação alcance todas as plataformas que interferem no preço ou na dinâmica do serviço, ampliando a proteção social para trabalhadores que atuam de forma contínua via aplicativos.

Apesar do esforço para votar ainda em dezembro, o período costuma ser tomado pelas discussões orçamentárias — a votação da LOA está prevista para o dia 18 —, o que aumenta o risco de adiamento.

Governo quer usar o GT para destravar o impasse

Boulos afirmou que o relatório de Coutinho já deve incorporar parte das demandas apresentadas pelos trabalhadores ao governo, e que o GT interministerial terá papel central na busca por um acordo político.

Ele também disse que a participação das plataformas ocorrerá em reuniões paralelas, mas não dentro do GT, para evitar que travem o calendário. Segundo o ministro, empresas como Uber e iFood resistem a aceitar um piso remuneratório, mas o governo pretende pressionar para que “a exploração e o sofrimento de trabalhadores sem direitos” não permaneçam sem resposta.

A estratégia, disse, é concluir o debate técnico no Executivo até fevereiro e trabalhar pela aprovação no Congresso logo após a retomada dos trabalhos legislativos.