Finanças

Número de celulares contrabandeados no Brasil recua e participação no mercado diminui

Para Abinee, redução está ligada a ações de repressão de autoridades e órgãos de fiscalização. Apesar disso, faturamento do setor ilegal cresce.

Agência O Globo - 04/12/2025
Número de celulares contrabandeados no Brasil recua e participação no mercado diminui
Número de celulares contrabandeados no Brasil recua e participação no mercado diminui - Foto: Ascom SSP

A participação de celulares irregulares nas vendas totais de smartphones no Brasil caiu de 19% para 12% em 2024, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Apesar da redução, o faturamento do mercado ilegal aumentou, impulsionado pela alta nos valores médios dos aparelhos, que estão sendo vendidos por preços entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil.

De acordo com a Abinee, as marcas chinesas Xiaomi e Realme permanecem como os principais alvos do contrabando.

Segundo a entidade, a queda na participação dos celulares ilegais é resultado de medidas de combate ao mercado irregular, promovidas conjuntamente por autoridades e órgãos de fiscalização, como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Polícia Federal (PF), Receita Federal e secretarias estaduais de Fazenda.

O diretor de Dispositivos Móveis de Comunicação da Abinee, Luiz Claudio Carneiro, destaca uma resolução recente da Anatel, publicada em agosto, que determina que lojas online e marketplaces respondam solidariamente pelos produtos comercializados em suas plataformas.

Resistência dos marketplaces

Apesar dos avanços, Carneiro aponta que ainda há "muita resistência" de alguns marketplaces no Brasil. Sem citar nomes, ele afirma que algumas plataformas têm movido ações contra a Anatel e a Receita Federal.

— Existem muitas ferramentas que viabilizam a retirada de anúncios irregulares. Vimos isso na recente crise do metanol, quando rapidamente foram retirados anúncios de garrafas vazias e selos de marcas — ressalta. — (Essas empresas) gastam fortunas com escritórios de advocacia em vez de investir em inteligência artificial ou contratação de pessoal para remover anúncios irregulares. Isso sinaliza que não querem cumprir as regras.

Carneiro reforça que o principal problema atual é o contrabando via Paraguai, com aparelhos sendo comercializados irregularmente em marketplaces. Ele destaca: — Importante ressaltar que não são as marcas que importam de forma irregular, mas que sofrem com a irregularidade.

Falta de chips preocupa indústria

Durante coletiva, a Abinee alertou para a possibilidade de restrições no fornecimento de chips em 2025, devido ao aumento da demanda global por inteligência artificial (IA) e à expansão de data centers, o que já elevou os preços dos semicondutores.

A entidade observa que o aumento nos valores dos componentes já é realidade tanto no cenário global quanto no brasileiro, e que as indústrias acompanham atentamente o momento e o impacto de possíveis restrições.

— Com a explosão de data centers e tecnologias de IA, o mercado se reposicionou e as empresas de semicondutores estão priorizando esse segmento, que tem maior valor agregado — explica Mauricio Helfer, diretor de Informática da Abinee. — Pela nossa perspectiva, o impacto já deve ser sentido no final deste ano e início de 2026, representando um grande desafio para nosso mercado e também para o setor automotivo.

Faturamento do setor cresce

Mesmo com uma queda de 1,4% na produção, a indústria brasileira de eletrônicos encerra o ano com faturamento de R$ 270,8 bilhões, um crescimento real de 4% em relação ao ano anterior.

— O crescimento pode ser atribuído à mudança no perfil do consumidor, que busca produtos mais sofisticados e novas tecnologias — afirma Humberto Barbato, presidente da Abinee.

Apesar do aumento das tarifas americanas sobre exportações brasileiras, as vendas externas do setor cresceram 3% em 2025, totalizando US$ 7,9 bilhões. Os Estados Unidos foram o principal destino, respondendo por 26% das exportações.

— Houve antecipação de embarques antes do início do tarifaço, o que contribuiu positivamente. Daqui para frente, a manutenção das tarifas pode trazer maiores dificuldades — conclui Barbato.