Finanças

Sem dinheiro em caixa, Correios prorrogam negociação salarial com trabalhadores

Direção argumenta que cenário financeiro da empresa exige cuidado e decisões que garantam a continuidade dos serviços

Agência O Globo - 04/12/2025
Sem dinheiro em caixa, Correios prorrogam negociação salarial com trabalhadores

A direção dos Correios prorrogou até 15 de dezembro o acordo coletivo de trabalho (ACT), firmado com federações e sindicatos de trabalhadores. Na próxima terça-feira, a empresa deve apresentar uma nova proposta aos dirigentes sindicais.

A negociação ocorre em meio à elaboração de um plano de recuperação financeira da estatal, que inclui cortes de gastos, especialmente com pessoal, e a busca por um empréstimo bancário de R$ 20 bilhões, com aval da União.

"Nessa reunião, os Correios vão apresentar propostas objetivas sobre cláusulas econômicas, benefícios e pontos importantes da operação, como distribuição domiciliária e redimensionamento da carga", informou a empresa em comunicado.

O acordo venceu em julho e vem sendo prorrogado desde então. A expectativa era encerrar a negociação até o fim de setembro, mas a troca de comando na estatal e as dificuldades de caixa adiaram o processo.

Além da reposição da inflação nos salários, o acordo coletivo prevê reajuste no vale-alimentação e na gratificação de férias, de 70%. Ao todo, são cerca de 70 cláusulas sociais e econômicas em discussão.

"O cenário financeiro da empresa exige cuidado e decisões que garantam a continuidade dos serviços", reforça nota da direção, alertando que uma greve dos trabalhadores poderia agravar a situação: "Uma paralisação agora poderia agravar a situação e trazer impactos para todos: empresa, trabalhadores e população".

As entidades sindicais ameaçam paralisação caso as negociações não avancem. O presidente da estatal, Emmanoel Rondon, tem evitado detalhar o plano de reestruturação, que prevê medidas impopulares, para não acirrar ânimos.

Segundo interlocutores, Rondon está focado em viabilizar o empréstimo, mas mantém diálogo com representantes dos trabalhadores. O presidente defende fortalecer a estrutura dos Correios, mas aponta a necessidade de rever alguns benefícios.

O balanço da estatal mostra elevado peso dos gastos com pessoal nas despesas da companhia, destaca o especialista Daniel Pecanka. O resultado do terceiro trimestre aponta aumento de 6,9% no custo com pessoal em 2025 até setembro, em relação ao mesmo período do ano anterior, o que representa alta de R$ 529 milhões, chegando a R$ 8,3 bilhões. Outro aumento expressivo foi nos precatórios, que somaram R$ 2,1 bilhões, avanço de 337% em relação aos nove primeiros meses de 2024.

Pecanka também ressalta atrasos nos pagamentos a fornecedores, salários, encargos, impostos, contribuições e no convênio Postal Saúde, que somam R$ 3,2 bilhões. O especialista em estatais ainda afirma que o perfil da dívida da empresa é preocupante. O último empréstimo, de R$ 1,8 bilhão, captado com Citibank, ABC Brasil e BTG Pactual, tem taxa de juros efetiva estimada em 25,67% ao ano.

"Os empréstimos são todos de curto prazo – dois vencem este ano, e o mais longo vence em 11/2026. Além disso, segundo cálculo do próprio Correios, o maior empréstimo também tem uma taxa de juros bem alta."

Pecanka destaca que a situação financeira se agrava a cada trimestre e que a reestruturação também gera custos, como a implementação do Programa de Demissão Voluntária (PDV).

"Na minha opinião, a ideia de 'fatiar' o empréstimo era mais adequada do que captar R$ 20 bilhões de uma vez. Não há espaço no balanço para toda essa dívida e os juros podem sufocar a empresa, além de reduzir a pressão sobre a gestão, pois o caixa ficaria confortável. A tendência é não ajustar o suficiente e, depois, solicitar mais recursos", conclui.