Finanças

Correios: empréstimo suspenso tinha custo elevado; entenda o impacto da diferença na taxa de juros

Tesouro Nacional não deu aval para operação a 136% do CDI ofertada por grupo de bancos para estatal

Agência O Globo - 03/12/2025
Correios: empréstimo suspenso tinha custo elevado; entenda o impacto da diferença na taxa de juros
Correios: empréstimo suspenso tinha custo elevado; entenda o impacto da diferença na taxa de juros - Foto: Reprodução

O empréstimo de R$ 20 bilhões que estava sendo negociado pelos Correios foi suspenso após o Tesouro Nacional recusar a taxa de juros de 136% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) proposta pelas instituições financeiras. O órgão condicionou a garantia da operação a um custo máximo de 120% do CDI. De acordo com simulação do economista Alex Agostini, da Austin Rating, a diferença representa um impacto de R$ 458 milhões.

Segundo Agostini, caso a operação fosse aprovada nos termos propostos pelos bancos, o valor final do empréstimo chegaria a R$ 23,895 bilhões. Se a taxa fosse de 120% do CDI, o custo total cairia para R$ 23,436 bilhões, resultando em uma economia de R$ 458 milhões.

O cálculo considera a projeção de que o CDI encerre 2025 em 14,32%, além das condições impostas: prazo de pagamento de 15 anos, com três anos de carência para o início da quitação dos juros.

A liberação dos recursos seria feita em três parcelas: a primeira, de R$ 10 bilhões, até o fim deste ano, e as demais, de R$ 5 bilhões cada, previstas para 2026.

O economista-chefe da Austin Rating ressalta que a diferença de custos pode ser ainda maior, considerando a incidência de tributos como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

“Esses são números brutos. Há a incidência de outros impostos que afetam as operações e podem elevar a taxa efetiva para um patamar ainda mais alto”, explica Agostini.

A contratação da operação de crédito foi aprovada pelo Conselho de Administração da estatal no último sábado. Na ocasião, em comunicado interno, a empresa informou aos funcionários que as “condições financeiras da operação” ainda estavam em negociação com os bancos envolvidos.

Com a suspensão, a nova direção dos Correios deve analisar alternativas e buscar condições mais favoráveis junto às instituições financeiras, uma vez que a garantia da União reduz os riscos da operação.

Para Agostini, a reestruturação da estatal pode envolver um modelo de parceria público-privada para os serviços de entrega.

“O governo poderia adotar um modelo semelhante ao das concessões de rodovias federais, mas, no caso dos Correios, seriam ‘concessões de CEPs’. Os melhores CEPs poderiam ser concedidos à iniciativa privada, enquanto o governo ficaria responsável pelos endereços sem adesão do setor privado”, sugere o especialista.