Finanças
Filiado ao União Brasil, contador da campanha de governador do Amazonas autorizou aporte de R$ 50 milhões da Amazonprev no Banco Master
Governo do Amazonas afirma que aporte corresponde a 'menos de 0,5% do total de aplicações' da entidade
Filiado ao União Brasil e contador de campanhas do partido, um gestor da Fundação de Previdência do Estado do Amazonas (Amazonprev), entidade que administra recursos para a aposentadoria de servidores, foi um dos responsáveis por autorizar o investimento de R$ 50 milhões em Letras Financeiras do Banco Master, que entrou na mira da Polícia Federal (PF). A instituição financeira foi liquidada pelo Banco Central após investigação sobre fraudes.
Segundo atas de reunião de um comitê da própria Amazonprev, a operação envolvendo o Banco Master ocorreu sem autorização colegiada, sem análise de risco formal e sem o credenciamento devido da instituição financeira, o que violou regras internas da fundação.
Isso levou o Comitê de Investimentos da entidade a abrir um "processo interno para apurar a responsabilização por eventuais descumprimentos" de normas internas e da legislação.
Entre os gestores responsáveis pela aplicação financeira, ocorrida em 6 de junho de 2024, está Ary Renato Vasconcelos de Souza, que na época era gerente de Administração e Finanças da Amazonprev.
Trinta dias depois, ele foi nomeado diretor-presidente da fundação, cargo no qual ficou por dez meses até ser exonerado em maio de 2025. Criada em 2021, a fundação é a única gestora da previdência dos servidores do Estado do Amazonas.
Souza já foi secretário executivo extraordinário de Projetos da Casa Civil do governo Wilson Lima (União) e atuou como contador da campanha à reeleição do governador, em 2022. Em dezembro daquele ano, ele se filiou ao União Brasil e foi nomeado para o cargo de gerente na Amazonprev em janeiro de 2023. Depois, assumiu a presidência da entidade, em julho de 2024.
Na prestação de contas das eleições de 2022, ele aparece como prestador do serviço de assessoria financeira à campanha de Lima, recebendo R$ 15 mil, além de também ter sido contratado por outros candidatos do União no Amazonas.
A empresa de contabilidade da qual Souza é dono com outros dois sócios presta serviços de contabilidade para o diretório estadual do União. Na contabilidade apresentada pelo partido, referente a 2024, a companhia recebeu R$ 422 mil da sigla, entre pagamentos de dívidas de campanha e pelo serviço mensal prestado para a legenda.
Procurado, Souza não atendeu às ligações e mensagens enviadas pela reportagem. O partido também não se manifestou.
Em nota, o governo do Amazonas afirmou que o aporte no Banco Master corresponde a “menos de 0,5% do total de aplicações da instituição” e que o fundo previdenciário obteve um lucro de mais de R$ 1,1 bilhão.
“Esse montante não precisa de aprovação colegiada, e não oferece quaisquer riscos ao pagamento de aposentados e pensionistas do estado do Amazonas”, afirmou gestão Lima, que também destacou a “capacidade técnica” do ex-diretor-presidente responsável pela aplicação.
“A Fundação Amazonprev informa que o ex diretor-presidente da instituição Ary Renato Vasconcelos de Souza possui capacidade técnica e estava habilitado para exercer o cargo. Entre junho de 2024 e maio de 2025, período em que esteve à frente do Fundo Previdenciário, a política de investimentos resultou em um retorno de R$ 864 milhões, respeitando as regras do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)”, diz o texto.
Segundo coluna da Malu Gaspar, a Polícia Federal prevê abrir novas frentes de investigação para apurar as circunstâncias da venda de títulos a fundos de previdência estaduais e municipais, que rendeu ao menos R$ 1,867 bilhão à companhia.
Dentro desse montante está o aporte de R$ 50 milhões da Amazonprev e de outros fundos estaduais controlados por pessoas ligadas ao Centrão.
Reportagem do GLOBO mostrou que o Rioprevidência, fundo de aposentadoria dos servidores estaduais do Rio, investiu R$ 670 milhões em títulos do Banco Master. A PF apura se o dono do banco, Daniel Vorcaro, que foi preso preventivamente e solto na última por decisão do Tribunal Regional Federal, usou as ligações políticas para tentar salvar o banco da insolvência.
Em nota, o Rioprevidência afirma que investiu no Banco Master R$ 960 milhões em letras financeiras entre outubro de 2023 e agosto de 2024. Não cita, no entanto, as aplicações nos fundos da corretora do Master.
O comunicado diz ainda que “a autarquia está em negociação para substituir as letras por precatórios federais”. Sobre o fato de ter escolhido o banco para fazer aplicações de risco, esclareceu que o Master “detinha autorização de funcionamento emitida pelo Banco Central do Brasil, credenciamento ativo junto ao Ministério da Previdência Social e classificação de risco de crédito de “grau de investimento”, atestando solidez financeira e a credibilidade institucional”.
Os produtos de investimento escolhidos pelos órgão estaduais foram as letras financeiras, que não têm a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que opera como um “seguro” no mercado financeiro e cobre até R$ 250 mil em alguns tipos de investimento.
O primeiro relato sobfre esse tipo de aplicação do Amazonprev consta em uma representação protocolada no Ministério Público do Amazonas pelo coordenador-geral do sindicato dos Trabalhadores de Justiça do Amazonas (Sintjam), Roberto Dávila.
O presidência do Tribunal de Justiça do Amazonas chegou a criar um grupo de trabalho para, segundo o tribunal, proteger a administração orçamentária do fundo. Ao GLOBO, Dávila afirmou que levará a denúncia à Polícia Federal nesta semana.
Na sexta-feira passada, a Amazonprev já havia afirmado, em nota, que a operação financeira no Banco Master não oferecia qualquer risco ou interferia no pagamento de aposentados. “A Fundação reforça que a Amazonprev possui receita que garante o cumprimento integral de todas as obrigações junto aos seus beneficiários”, diz o texto.
Após a deflagração da Operação da PF, o Banco Central determinou a liquidação extrajudicial do banco, que terá como consequência o maior resgate da história do FGC, que opera como um “seguro” no mercado financeiro e cobre até R$ 250 mil em alguns tipos de investimento. Esse resgate não se aplicaria aos investimentos em Letras Financeiras das fundações estaduais.
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