Finanças

Conselho dos Correios aprova empréstimo de R$ 20 bilhões oferecido por grupo de bancos

Operação ainda depende de aval do Tesouro Nacional para ser efetivada

Agência O Globo - 29/11/2025
Conselho dos Correios aprova empréstimo de R$ 20 bilhões oferecido por grupo de bancos
Conselho dos Correios aprova empréstimo de R$ 20 bilhões oferecido por grupo de bancos - Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O conselho de administração dos Correios aprovou, neste sábado, a contratação de um empréstimo de R$ 20 bilhões, após analisar as propostas apresentadas por bancos e o quadro financeiro da estatal. O colegiado acolheu os argumentos da nova gestão, que considera a operação essencial para garantir liquidez no curto prazo, regularizar pagamentos pendentes e viabilizar o início da reestruturação da empresa. Para ser efetivada, a contratação ainda precisa do aval do Tesouro Nacional, já que o empréstimo contará com a garantia da União junto às instituições financeiras.

A informação foi inicialmente divulgada pelo jornal "Folha de S.Paulo" e confirmada ao GLOBO por interlocutores da empresa. Em nota, os Correios informaram que os detalhes da operação de crédito serão divulgados oficialmente apenas após a avaliação e liberação pelos órgãos supervisores.

O financiamento aprovado foi apresentado por um sindicato formado por Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra. A operação tem como garantia o Tesouro Nacional, que assume o compromisso em caso de inadimplência.

A taxa de juros proposta ficou levemente abaixo da oferta inicial — de 136% do CDI —, mas ainda próxima desse patamar. Os bancos, no entanto, flexibilizaram algumas exigências consideradas atípicas para operações com garantia soberana, como lucro mínimo e recebíveis futuros.

O Comitê de Garantias do Tesouro utiliza 120% do CDI como referência para operações elegíveis à garantia da União. Embora o percentual não seja obrigatório, ele serve como parâmetro para evitar custos elevados. Diante disso, a diretoria ampliou o número de instituições consultadas antes de levar o tema ao conselho, buscando se aproximar desse teto.

Tentativa de reduzir o custo não avançou

Como revelou O GLOBO, os Correios receberam uma segunda oferta, mas o custo permaneceu praticamente igual ao da proposta inicial. BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Banco do Brasil reafirmaram interesse em seguir com a operação, mas sem reduzir a taxa. A estatal havia sinalizado a intenção de captar até R$ 20 bilhões, com juro máximo de 120% do CDI, mas não houve avanço nas negociações.

Diante desse cenário, o conselho deliberou pela aprovação do pacote final apresentado pelo grupo de cinco bancos.

A análise do conselho ocorreu após a divulgação do balanço do terceiro trimestre, que apontou prejuízo acumulado de R$ 6 bilhões em 2025, ante R$ 2,1 bilhões no mesmo período de 2024. Entre julho e setembro, o déficit somou R$ 1,69 bilhão.

Em documento interno, a estatal relata queda de receitas, aumento das despesas operacionais, maior pressão de passivos judiciais e trabalhistas, além de custos associados à inflação acumulada e reajustes salariais. O fluxo de caixa está negativo em cerca de R$ 750 milhões por mês. Projeções internas indicam que, sem mudanças estruturais, o déficit pode chegar a R$ 10 bilhões em 2025 e R$ 23 bilhões em 2026.

Esses números embasaram a decisão do conselho de autorizar a contratação do crédito.

Ao assumir o comando da estatal em setembro, o presidente Emmanoel Rondon afirmou que o financiamento de R$ 20 bilhões seria necessário para estabilizar a operação, retomar pagamentos, recompor o caixa e implementar o plano de reestruturação. Segundo comunicado interno, a partir de 2026 a empresa pretende adotar ações de redução de despesas, modernização de sistemas, reorganização de unidades com baixa eficiência, automação logística e revisão do passivo do Postal Saúde.