Finanças

Inflação vai fechar o ano dentro do intervalo da meta? Analistas respondem o que os números indicam

IPCA-15 surpreende para cima em novembro, mas economias seguem otimistas sobre alvo da política monetária do BC e possível corte dos juros

Agência O Globo - 27/11/2025
Inflação vai fechar o ano dentro do intervalo da meta? Analistas respondem o que os números indicam

A prévia da , medida pelo IPCA-15, teve alta de 0,20% em novembro, após registrar 0,18% em outubro, segundo informou ontem o IBGE. Já no acumulado em 12 meses, é a primeira vez desde janeiro deste ano que o índice fica em 4,5%, ou seja, dentro do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CNM).

Correios em apuros:

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A meta de inflação no Brasil é de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Portanto, se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminar o ano entre 1,5% e 4,5%, o objetivo da política monetária do (BC) foi alcançado.

O número do último IPCA-15, uma prévia do IPCA de novembro, é uma boa notícia para o presidente do BC, , pois indica que ele pode ser dispensado de escrever uma carta explicando o descumprimento da meta.

No ano, o IPCA-15 acumula alta de 4,15%;

Nos últimos 12 meses, o acumulado é de 4,50%, abaixo dos 4,94% registrados em outubro;

Em novembro de 2024, a taxa foi de 0,62%.

Dados apontam para inflação dentro do intervalo em 2025?

Embora o resultado de novembro tenha ficado acima do esperado e ainda possam vir mais pressões para dezembro, economistas já veem a inflação terminando o ano de 2025 dentro do teto da meta.

André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica, projeta que o IPCA cheio de novembro seja de 0,17% para o IPCA cheio do mês. Se confirmada, a inflação acumulada em 12 meses recuaria dos atuais 4,68% para 4,45%, voltando a ficar abaixo do limite superior da meta.

— Caso isso se concretize, será a primeira vez desde setembro de 2024 que o IPCA cheio encerra o mês dentro do intervalo da meta —

Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, as passagens aéreas devem continuar pressionando o IPCA do final de novembro por conta da sazonalidade de férias e final de ano — para além do impulso em Belém com a COP-30, que não chega a ter contribuição relevante para o índice final.

Black Friday ajuda a baixar preços

Ainda assim, a economista espera que a inflação acumulada em 12 meses feche o ano em 4,2%. Isso porque o preço dos alimentos segue abaixo do esperado, com itens relevantes para a cesta de consumo, como carnes in natura e cereais (como arroz) se mantendo comportados. Ela destaca ainda que o desempenho dos bens de consumo também vem se mostrando benigno, em geral.

— Vimos o repasse do câmbio ocorrendo de forma mais rápida que o projetado e medidas pontuais, como os dois reajustes de baixa da Petrobras, ajudaram o grupo de transportes. Para completar, nossa coleta de Black Friday está capturando preços abaixo dos patamares de anos anteriores. Na nossa visão, a volta desses preços aos níveis normais será gradual e não ocorrerá totalmente ainda neste ano. Logo, o impacto de alta ficará para o próximo ciclo, ajudando a manter o índice de agora comportado.

Já dá pra pensar em cortar juro?

Com o atual cenário, Andréa Angelo espera que o início do ciclo de cortes de juros aconteça em janeiro, com uma redução de 0,25 ponto percentual.

— Essa projeção se apoia nas expectativas de inflação, que têm caído bastante nos últimos tempos. Além disso, na nossa visão, a inflação terminará o ano dentro do teto da meta. É verdade que alguns serviços ainda mostram certa resistência, o que joga contra o corte, mas o comportamento favorável dos outros componentes do índice e os dados de atividade nos levam a concluir que o corte ocorrerá já em janeiro.

Ainda há economistas que preveem reduções nos juros só em março, mas não é o caso de André Valério, economista sênior do Inter, que também espera o início do ciclo de cortes para janeiro, embora sua projeção para o acumulado na inflação do final do ano seja menos otimista e esteja bem no limite do teto da meta (4,5%).

— Está tudo caminhando para ter essa convergência, vemos até pela mediana do Focus, que nas últimas semanas tem convergido mais intensamente para o teto da meta, já em 4,45%. E para dezembro, ainda tem o fator de que provavelmente vamos ter redução da tarifa de energia elétrica, mais uma pressão de baixa no índice que não teve em novembro — diz o economistas.

Ele explica que isso ajuda nas perspectivas de corte de juros porque, mesmo que essa redução da Selic só deva ter real impacto na inflação do início de 2027, os números atuais aumentam a credibilidade do Banco Central e permitem que ele tenha uma postura menos cautelosa.

Alimentos seguem surpreendendo

Para dezembro, a alimentação deve começar a pressionar, dessa vez puxada pelos itens consumidos no domicílio, onde Andréa Ângelo, da Warren, vê uma alta de 0,91% no preço, com destaque para as carnes.

— Isso ocorre porque, com as festas de fim de ano, há uma pressão natural sobre esses preços. Mas essa projeção já está na nossa conta e, se confirmada, não traz riscos ao cumprimento da meta em 12 meses. Vale destacar que, mesmo com essa aceleração prevista, o índice ainda ficará abaixo da média dos últimos 10 anos para dezembro — explica a economista, que vê alta de 0,31% no último mês do ano.

Além dos alimentos, André Valério também vê pressões das passagens aéreas em dezembro, diante do período sazonal de viagens e férias escolares.

Riscos para 2026

Mas se os alimentos vêm se mantendo comportados nesse final de 2025, eles podem voltar a aparecer como vilões em 2026, com uma possível forte alta das cernes e assim como leites e derivados e frutas, segundo Ângelo.

Fora da alimentação, ela vê ainda pressões relevantes de uma possível volta parcial de depreciação do câmbio, além de pacotes de estímulo à atividade e renda, como as mudanças no Imposto de Renda, FGTS e crédito consignado, que trazem um risco adicional para a inflação.

Por isso, Andréa prevê uma inflação acumulada de 4,5% ao fim do próximo ano, que seria mais alta que a de 2025.

Já Valério, acredita que o IPCA deve terminar 2026 mais baixo do que esse ano (4%), com uma continuidade do processo de desinflação. Na sua visão, os alimentos devem continuar com preços benignos, e caso forem impactados por algum fator climático, isso só chegaria a partir do terceiro trimestre. Ele também não projeta depreciação significativa do câmbio à frente.

— A gente não vê muito espaço para estresse. Mesmo com questões fiscais, que não devem ser um tema tão relevante em 2026, pelo menos no curto prazo, então não devem gerar tantas pressões assim. Então vemos um cenário em que a política monetária vai continuar fazendo seus efeitos gradativamente de levar essa inflação convergindo à meta.

O que mais influenciou a inflação em novembro?

O IPCA-15 de novembro, de 0,20%, foi puxado por uma alta nas passagens aéreas, que viram o seu preço subir 11,87%. O grupo de alimentação também teve número positivo, o primeiro após cinco meses de queda. Os alimentos no domicílio, no entanto, continuam no negativo, ajudando na melhora do índice em 12 meses.

A variação mensal veio acima do esperado pelos analistas de mercado, que projetavam alta de 0,18%, a mesma variação observada em outubro, de acordo com a mediana das estimativas de 27 consultorias ouvidas pelo Valor.

A alimentação, grupo de maior peso no índice voltou a crescer, embora com alta ainda leve (0,09%), após cinco meses em queda. Ainda assim, a alimentação no domicílio continuou no campo negativo, com queda de 0,15%, após recuo de 0,10% em outubro.

Os principais alimentos que tiveram baixa no preço foram o leite longa vida (-3,29%), o arroz (-3,10%) e as frutas (-1,60%). Já pelo lado das altas, ficaram a batata inglesa (11,47%), o óleo de soja (4,29%) e as carnes (0,68%). A alimentação fora do domicílio (0,68%) foi a responsável por puxar o grupo para cima, com aceleração em relação ao mês anterior (0,19%).

Entre os grupos, o maior impacto positivo veio de despesas pessoais (0,85%), que também ajudou a puxar o IPCA-15 para cima, com altas na hospedagem (4,18%) e no pacote turístico (3,90%).

Também tiveram altas relevantes os grupos de saúde e cuidados pessoais (0,29%), com o preço do plano de saúde subindo, e transportes, puxado pela alta nas passagens aéreas, o maior impacto individual no índice do mês.

Por outro lado, os transportes tiveram queda nos combustíveis (-0,46%), com redução no preço do etanol, do óleo diesel e da gasolina (-0,48%), que passou por reajuste da Petrobras no final do outubro, o que ajudou a fazer com que o IPCA-15 do mês não fosse mais alto, já que é um item com grande peso no índice. O único combustível em alta foi o gás veicular, que aumentou 0,20%.

O grupo da habitação desacelerou de 0,16% no mês anterior para 0,09% em novembro, com queda da energia elétrica residencial (0,38%). Assim como em outubro, a bandeira tarifária segue em vermelha patamar 1, adicionando R$ 4,46 na conta de luz a cada 100 Kwh consumidos.

O grupo de aparelhos eletroeletrônicos apresentou nova deflação (-1,03%), em linha com nossa coleta proprietária de

A Black Friday ajudou a puxar o preço dos aparelhos eletroeletrônicos para baixo (-1,03%), com contribuição da apreciação do câmbio e a competitividade de produtos chineses. O período de promoções também reduziu o preço dos perfumes (-0,10%), no grupo de higiene pessoal.