Finanças
Crise esvazia cerimônia de sanção da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil
Ausência dos presidentes da Câmara e do Senado aprofunda desgaste entre Congresso e Planalto
A cerimônia de sanção da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, realizada nesta quarta-feira (26) no Palácio do Planalto, foi marcada por ausências significativas em meio à crise política. Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), não compareceram ao evento.
As ausências ocorrem justamente no momento em que o governo enfrenta seu período mais crítico de tensão com o Legislativo neste terceiro mandato do presidente Lula.
Pela manhã, a assessoria de Hugo Motta informou que o deputado “cumpre agenda interna” e não participaria da cerimônia. Apesar disso, Motta usou as redes sociais para celebrar a sanção e exaltar a “união dos Poderes”, adotando um tom institucional que contrasta com o ambiente real de desgaste entre as lideranças.
“Este é o resultado da união dos Poderes em favor do Brasil. Com respeito às atribuições legislativas, diálogo e equilíbrio, o país avança”, escreveu Motta em seu perfil no X.
No Senado, Davi Alcolumbre também decidiu se ausentar. O gesto ocorre no auge do atrito com o governo, motivado pela indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga de ministro do STF deixada por Luís Roberto Barroso. A escolha contrariou Alcolumbre e resultou no rompimento com o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA).
Como reação, Alcolumbre colocou em votação uma “pauta-bomba” e aprovou projeto que prevê aposentadoria integral e paritária para agentes comunitários de saúde (ACSs) e agentes de combate às endemias (ACEs), com impacto estimado pelo governo em R$ 100 bilhões em dez anos.
O senador também sinalizou que não atuará para proteger o governo na tramitação do PL Antifacção e marcou a sabatina de Messias na CCJ para 10 de dezembro, impondo um prazo curto para articulação política do indicado junto aos senadores.
Crise acumulada
A ausência simultânea dos presidentes da Câmara e do Senado evidencia o acúmulo de atritos, agora manifestados de forma coordenada nas duas Casas.
Na Câmara, o ponto de ruptura foi o desgaste entre Hugo Motta e o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ). A relação já vinha tensionada desde a tramitação da PEC da Blindagem e se agravou na votação do projeto antifacção, quando Motta escolheu um opositor para a relatoria. O cenário piorou com a fuga de Alexandre Ramagem (PL-RJ) para os Estados Unidos, episódio em que petistas passaram a acusar Motta de leniência com o deputado condenado por envolvimento em trama golpista. Embora integrantes da bancada tenham pedido desculpas, o distanciamento se consolidou.
Desde então, Motta tem dito a interlocutores que não está disposto a dialogar com a ministra Gleisi Hoffmann, reforçando o cenário de afastamento.
Cerimônia esvaziada
Para o Planalto, a sanção da nova faixa de isenção do Imposto de Renda era vista como uma oportunidade de demonstrar convergência institucional em torno de uma pauta estratégica, tanto do ponto de vista econômico quanto eleitoral. A presença de Motta e Alcolumbre seria usada como sinal de retomada do diálogo após semanas de tensão.
No entanto, o esvaziamento do evento indica o contrário: o Congresso optou por demonstrar distanciamento no momento em que o governo buscava transmitir a imagem de unidade nacional.
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