Finanças
Crédito cresce 1,3% em outubro, mas juros elevados mantêm famílias endividadas, aponta Banco Central
Taxa média de juros das novas contratações de crédito sobe para 31,9% ao ano, enquanto endividamento e inadimplência avançam
O crédito no Brasil seguiu em expansão no mês de outubro, mas os juros permaneceram elevados e a inadimplência continuou pressionada, conforme dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central. O cenário revela que, apesar do aumento na oferta de empréstimos, o custo para acessar esses recursos segue alto, sobretudo para as famílias.
O chamado crédito ampliado ao setor não financeiro — que reúne todas as formas de endividamento de empresas e famílias, incluindo financiamentos, títulos públicos, dívidas no mercado e operações com investidores estrangeiros — atingiu R$ 20,1 trilhões em outubro, o equivalente a 160% do PIB. O crescimento foi de 1,3% no mês e de quase 12% em 12 meses.
Entre as empresas, o crédito ampliado somou R$ 6,8 trilhões, impulsionado principalmente pela maior emissão de títulos de dívida privada. Já para as famílias, o volume alcançou R$ 4,7 trilhões, puxado sobretudo pelos empréstimos tradicionais ofertados pelo sistema financeiro.
Considerando apenas os empréstimos concedidos por bancos, o estoque total chegou a R$ 6,9 trilhões, alta de 0,9% no mês. Dentro desse valor, o crédito para empresas cresceu modestamente (0,3%), enquanto o crédito para famílias avançou 1,3%, refletindo maior demanda dos consumidores em modalidades como cartão de crédito, consignado e financiamento de veículos.
Nas operações com recursos livres, em que os bancos têm autonomia para definir as condições dos empréstimos, os movimentos foram opostos: para empresas, houve queda de 0,6%, com redução principalmente em capital de giro e desconto de duplicatas; para as famílias, o crédito livre avançou 1,6%, com crescimento em quase todas as modalidades.
O crédito direcionado, que inclui financiamentos imobiliários e operações com regras específicas, aumentou tanto para empresas (1,7%) quanto para famílias (0,8%), totalizando R$ 3 trilhões no mês.
Apesar da maior oferta de crédito, tomar dinheiro emprestado ficou mais caro. A taxa média de juros das novas contratações subiu para 31,9% ao ano e, nas operações com recursos livres — que incluem modalidades como cartão de crédito e cheque especial —, chegou a 46,3% ao ano. Para as famílias, esse custo é ainda maior, atingindo 58,7% ao ano.
O spread bancário — diferença entre o que o banco paga para captar recursos e o que cobra dos clientes — aumentou e alcançou 20,8 pontos percentuais. Segundo o Banco Central, parte desse avanço está relacionada ao maior uso de linhas de crédito mais caras, como o rotativo do cartão e o cheque especial.
A inadimplência também segue em trajetória de alta. No total do sistema financeiro, o atraso superior a 90 dias atingiu 4% da carteira total, ligeiramente acima dos 3,9% registrados em setembro e 0,8 ponto percentual acima do nível de um ano atrás. Entre as famílias, o atraso nas operações com recursos livres permaneceu em 6,7%, alta de 1,3 ponto percentual em 12 meses.
Os dados indicam ainda que o orçamento das famílias segue pressionado. Em setembro, o endividamento das famílias alcançou 49,1% da renda, uma leve alta frente aos 49% de agosto e 1,1 ponto percentual acima do observado um ano antes. O comprometimento mensal da renda chegou a 28,8%, avançando 0,2 ponto em relação ao mês anterior e 1,6 ponto na comparação anual — o maior patamar da série histórica.
No campo monetário, a base monetária — que corresponde à quantidade de dinheiro em circulação e reservas dos bancos — subiu 0,5% em outubro, enquanto a poupança registrou nova saída líquida de recursos, no valor de R$ 9,7 bilhões.
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