Finanças

Governo analisa acordos de Trump para definir estratégia em negociação de tarifas, diz diretor do Itamaraty

Para Fernando Pimentel, Brasil ocupa posição 'sui generis' nas tratativas com os EUA

Agência O Globo - 25/11/2025
Governo analisa acordos de Trump para definir estratégia em negociação de tarifas, diz diretor do Itamaraty
- Foto: Reprodução

O diretor do Departamento de Política Comercial do Ministério das Relações Exteriores, Fernando Pimentel, afirmou nesta terça-feira que o Brasil ocupa uma posição “sui generis” nas negociações com os Estados Unidos sobre tarifas e eventuais acordos comerciais. Segundo Pimentel, como não há um pedido específico dos EUA, o Brasil precisa mapear todos os acordos já firmados por Washington, identificar elementos aplicáveis ao país e avaliar o que pode ser aproveitado em uma negociação mais ampla.

De acordo com o diretor, diferentemente de diversos países asiáticos que firmaram entendimentos com Washington, o Brasil não se enquadra na lógica adotada pelo governo Donald Trump ao implementar medidas tarifárias para tentar reduzir déficits bilaterais.

“A maioria dos países asiáticos com os quais os americanos fizeram acordo possui um grande déficit. Eles estavam no foco do pensamento do presidente Trump, que buscava resolver o déficit por meio da imposição de tarifas e da negociação. O Brasil é um dos poucos países de relevância com déficit expressivo com os EUA. Pela lógica, estaríamos fora do escopo dos países asiáticos”, explicou Pimentel.

Ele destacou que apenas dois países com superávit em relação aos EUA negociaram acordos recentemente: o Reino Unido, em um modelo considerado “bastante diferenciado”, e a Argentina, em um acordo ainda sem detalhes, em fase inicial e em “condições muito especiais”, envolvendo apoio financeiro e um conjunto de ações específicas.

“Estamos avaliando quais desses modelos se encaixam melhor nas necessidades do Brasil e no que podemos esperar”, afirmou.

Para Pimentel, é fundamental aproximar o Brasil das condições obtidas por países que já apresentam superávit com os americanos, sem perder de vista que Washington possui interesses variados de acordo com o parceiro.

“Quanto mais nos aproximarmos dos países com os quais os EUA têm superávit, melhor. Essa é a lógica econômica, e o Brasil já está inserido nesse universo. Mas há grande diversidade de interesses por parte dos americanos. Em alguns casos, o foco é o investimento: o que será investido nos EUA? Em outros, a regulação normativa”, analisou.

Segundo ele, por ocupar uma posição “sui generis”, o Brasil deveria compor um panorama de tudo o que pode oferecer, valorizando o superávit americano em serviços e bens, bem como os investimentos brasileiros. “Devemos reunir tudo o que interessa ao governo americano — e que também nos interessa — para tentar retomar o diálogo”, ressaltou.

Pimentel também abordou o processo brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde o país contestou as tarifas americanas. Ele explicou que o caso foi levado à OMC porque, mesmo enfraquecido, o organismo pode representar uma nova oportunidade de diálogo.

“Não faz sentido esse tipo de imposição tarifária em relação ao Brasil. Estamos do lado certo das regras comerciais. É importante mostrar que o Brasil não cometeu nenhuma irregularidade”, concluiu.