Finanças

Quatro em cada dez brasileiros não conseguiriam manter padrão de vida por três meses sem renda, aponta pesquisa

Estudo da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira revela vulnerabilidade da população diante de imprevistos financeiros

Agência O Globo - 24/11/2025
Quatro em cada dez brasileiros não conseguiriam manter padrão de vida por três meses sem renda, aponta pesquisa
- Foto: Reprodução

Se você parasse de trabalhar hoje, por quanto tempo conseguiria manter seu padrão de vida? Uma pesquisa inédita da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN), em parceria com o Instituto Axxus, ouviu 600 trabalhadores e revelou que 41% deles conseguiriam manter seu padrão de vida por menos de três meses caso perdessem a renda atual. Outros 39% afirmaram que conseguiriam se sustentar entre três e seis meses.

O estudo, intitulado "Pesquisa ABEFIN: Aposentadoria, INSS e Previdência Privada, a realidade em 2025", apresenta índice de confiança de 95% e margem de erro de 4%.

O levantamento mostra ainda que oito em cada dez brasileiros não possuem reservas suficientes para atravessar ao menos seis meses sem renda. Para Reinaldo Domingos, presidente da ABEFIN, o cenário de extrema vulnerabilidade financeira é resultado da ausência de educação financeira nas escolas e da priorização do consumo em detrimento da segurança financeira.

— Esse padrão cria reflexos claros: muitas pessoas gastam mais do que deveriam e não conseguem organizar seus recursos. Portanto, a falta de colchão financeiro não se deve apenas à renda, mas ao modelo mental sobre dinheiro — explica Domingos.

Segundo ele, a ausência dessa reserva impacta não só a aposentadoria futura, mas também a capacidade de lidar com crises inesperadas.

Roda de vulnerabilidade

O presidente da associação destaca ainda que a instabilidade financeira tende a se perpetuar dentro das famílias. Entre os entrevistados, 41% disseram que seus pais continuam trabalhando mesmo após a aposentadoria, enquanto 29% dependem financeiramente dos filhos ou de terceiros.

— Os mais velhos, sem reservas suficientes, precisam do apoio dos filhos, que por sua vez já enfrentam dificuldades para organizar a própria vida financeira. Assim, a roda da vulnerabilidade continua girando — exemplifica Domingos, alertando que a falta de uma poupança pode empurrar os trabalhadores a permanecerem ativos na terceira idade, muitas vezes em condições precárias.

A ausência de uma aposentadoria adequada pode ainda afetar a saúde física e mental, já que a instabilidade e o medo constante podem gerar ansiedade, estresse e agravar problemas de saúde.

Alerta para o futuro

Domingos ressalta que a pesquisa serve como um alerta para quebrar o ciclo e estimular o planejamento financeiro desde cedo. Entre as recomendações da ABEFIN estão a automatização das contribuições e o uso de produtos financeiros flexíveis.

A primeira dica é aproveitar mecanismos como descontos automáticos em folha e aportes vinculados a pagamentos digitais, reduzindo a dependência da disciplina individual para poupar. Já a segunda sugere criar o hábito de realizar contribuições consistentes ao longo do tempo, ainda que de valores pequenos.

— Mesmo pequenas quantias, se separadas de forma consistente, já começam a criar segurança e dão clareza sobre prioridades. O 13º salário, por exemplo, pode ser usado estrategicamente para acelerar o alcance desses objetivos, em vez de servir apenas para despesas emergenciais ou consumo impulsivo — orienta Domingos.

Para as próximas gerações, a recomendação é investir em educação financeira desde cedo, para que se compreenda como o planejamento impacta a vida financeira, como organizar prioridades e lidar com imprevistos. A associação reforça: cada real poupado pode fazer diferença no futuro.