Finanças

Decisão de liquidação do Master foi tomada antes do anúncio de compra pela Fictor

Negócio é visto como tentativa de Daniel Vorcaro de criar cortina de fumaça para fugir do país antes da ação da Polícia Federal

Agência O Globo - 18/11/2025
Decisão de liquidação do Master foi tomada antes do anúncio de compra pela Fictor
Banco Central - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A decisão do Banco Central de decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master já estava definida antes mesmo do anúncio da suposta compra da instituição pela Fictor Holding Financeira. Segundo fontes que acompanham o caso, a negociação teria sido uma estratégia do proprietário do Master, Daniel Vorcaro, para criar uma cortina de fumaça e tentar deixar o país antes da operação da Polícia Federal que resultou em sua prisão.

A liquidação foi oficializada na manhã desta terça-feira, menos de 24 horas após o anúncio da Fictor. No ato assinado pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, são destacados o comprometimento da situação econômico-financeira do Master, a deterioração da liquidez e o descumprimento de normas que regem a atividade bancária, além da desobediência a determinações do próprio BC.

A Operação Compliance Zero investiga um suposto esquema de criação e negociação de títulos de crédito falsos envolvendo instituições do Sistema Financeiro Nacional. A Polícia Federal apura indícios de crimes como gestão fraudulenta, gestão temerária, formação de organização criminosa e outras infrações.

As investigações tiveram início em 2024, após solicitação do Ministério Público Federal para apurar indícios de fabricação de carteiras de crédito com inconsistências. De acordo com a PF, esses títulos teriam sido vendidos a outro banco e, após fiscalização do Banco Central, substituídos por ativos sem avaliação técnica adequada. Pessoas próximas ao caso apontam que o banco comprador foi o BRB, que também chegou a fazer uma oferta pelo Master em março, rejeitada pelo regulador financeiro em setembro.

Fontes informam que o Banco Central identificou irregularidades na operação de compra das carteiras já no início do ano, antes do anúncio de intenção de compra do Master pelo banco estatal. Na ocasião, o regulador comunicou o Ministério Público Federal sobre a suspeita de fraude e determinou ao BRB que revertesse a operação para ajustar o balanço.

A liquidação decretada pelo BC também atinge a Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários. Além disso, foi instaurado o regime de administração especial temporária (RAET) para o Banco Master Múltiplo. Com a liquidação, Daniel Vorcaro teve os bens bloqueados, assim como outros controladores e ex-administradores das instituições do grupo afetadas pelas decisões do BC.

O regime de liquidação é utilizado para encerrar as atividades de instituições que apresentam graves problemas financeiros, operacionais ou de gestão, de modo ordenado e visando à estabilidade do sistema financeiro nacional. Segundo o Banco Central, esse procedimento é adotado em casos de insolvência irrecuperável ou de infrações graves às normas do setor, entre outras hipóteses legais. Já no RAET, as atividades da instituição podem ser mantidas sob administração especial.