Finanças
Trump diz não ver espaço para nova redução de tarifas, mas para o Brasil 'distorção' persiste
Indústria cobra avanço nas negociações de sobretaxa; setor de café avalia que situação ficou pior pois rivais terão condições melhores
Após o presidente dos Estados Unidos anunciar ajustes tarifários na sexta-feira (7), o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou neste sábado que as mudanças foram “positivas”, mas insuficientes. Ele destacou que ainda há “distorções a corrigir”, especialmente no caso do café brasileiro, enquanto diversos setores seguem apreensivos com o chamado tarifaço.
O que mudou entre agosto e outubro
No decreto publicado pelo governo americano, houve reduções pontuais em tarifas aplicadas a diversos países. O Brasil, porém, continuou submetido à sobretaxa adicional de 40%, em vigor desde agosto. A alíquota anterior era de 50%.
Alckmin lembrou, em Brasília, que a discrepância permanece elevada:
“Todo mundo teve redução de 10%. No Brasil, a tarifa era 50% e ficou 40%, que é muito alto. No caso do Vietnã, caiu de 20% para zero.”
O vice-presidente citou ainda o encontro recente entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que as negociações seguem abertas.
EUA eliminam “tarifas recíprocas”
O decreto americano também extinguiu tarifas recíprocas criadas em abril para produtos que não são produzidos nos Estados Unidos, como carne bovina, tomate, café, banana e açaí.
A medida foi interpretada como uma tentativa de conter a inflação, especialmente após o Partido Republicano sofrer derrotas em eleições locais. Nos últimos 12 meses, segundo o BLS, os preços médios nos EUA subiram 18,9% para o café torrado e 14,7% para a carne bovina.
Apesar das reduções para vários países, Trump afirmou que novos cortes não estão previstos:
“Não acho que serão necessárias novas reduções. Houve um pequeno retrocesso em alguns alimentos, como o café, mas os preços vão cair em pouco tempo.”
Setores brasileiros demonstram cautela
Exportadores brasileiros, ao analisarem o decreto, inicialmente tiveram dúvidas sobre o impacto real para o Brasil. Depois, prevaleceu a interpretação de que a sobretaxa de 40% foi integralmente mantida, sem isenções adicionais.
Para cafeicultores, cenário ficou pior
A situação da cafeicultura brasileira é vista agora como ainda mais desvantajosa.
Como as tarifas recíprocas foram eliminadas para todos os países, fornecedores concorrentes — especialmente o Vietnã — passam a exportar para os EUA com tarifa zero.
Enquanto isso, o café brasileiro continua taxado em 40%.
Marcos Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), avaliou:
“Piorou a situação para nós. Todos os nossos concorrentes ficaram zerados, e isso nos deixa em grande desvantagem.”
A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) afirmou que a decisão “amplia as distorções” e deve intensificar a queda nas exportações de cafés especiais. De agosto a outubro, esses embarques caíram 55% em relação ao mesmo período de 2024.
Segundo dados da Secex, 16% das exportações brasileiras de café têm como destino os Estados Unidos. Entre agosto e o fim de outubro deste ano, houve queda de 51,5% nas vendas para o mercado americano.
Indústria cobra ação diplomática
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) declarou que, mesmo com reduções parciais, a tarifa extra de 40% compromete a competitividade brasileira nos EUA, que absorvem 11% das exportações da indústria nacional.
A Fiemg também cobrou avanços. Para o presidente Flávio Roscoe:
“É necessário remover todas as barreiras adicionais.”
A Abrafrutas lembrou que a uva, segunda fruta mais exportada do Brasil para os EUA, ficou de fora das reduções anunciadas na sexta-feira.
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