Finanças

Governo Lula aposta em avanço nas negociações sobre tarifaço, mas mantém ceticismo quanto ao fim das sanções a brasileiros

Expectativa é de resultados concretos nos próximos dias

Agência O Globo - 14/11/2025
Governo Lula aposta em avanço nas negociações sobre tarifaço, mas mantém ceticismo quanto ao fim das sanções a brasileiros
- Foto: Reprodução

O encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, realizado na quinta-feira em Washington, elevou a expectativa do governo brasileiro de que os Estados Unidos possam aliviar o tarifaço nos próximos dias. Por outro lado, Brasília avalia que as sanções aplicadas contra cidadãos brasileiros, incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, dificilmente serão revertidas no curto prazo. Na avaliação política, recuar nessas medidas poderia fragilizar Rubio e outros integrantes do governo Donald Trump diante de suas bases eleitorais.

A reunião, que durou uma hora, ocorreu na sede do Departamento de Estado e teve início com uma conversa reservada entre Vieira e Rubio, seguida de um encontro ampliado com diplomatas das duas delegações. Após o encontro, o chanceler brasileiro afirmou que as discussões estabeleceram um marco geral para orientar as negociações e estimou que um entendimento provisório pode ser firmado ainda em novembro, permitindo que tratativas mais amplas avancem no início de 2026. O governo brasileiro propõe a suspensão temporária das tarifas até que se chegue a um acordo definitivo.

O movimento atual é visto por integrantes do governo como resultado direto da recente conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano, Donald Trump, na Malásia, há duas semanas. Os dois líderes decidiram destravar a agenda política bilateral e reabrir o diálogo técnico sobre comércio.

Segundo Mauro Vieira, o governo brasileiro encaminhou uma proposta a Washington no último dia 4 de novembro e aguarda resposta. O conteúdo do documento permanece sigiloso. Fontes próximas às negociações afirmam que o Brasil pleiteia a suspensão do tarifaço durante o período de negociação, estimado em cerca de 90 dias, ou a ampliação da lista de produtos isentos das sobretaxas.

Em julho deste ano, Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, medida que entrou em vigor em agosto, justificando-se principalmente pela situação do ex-presidente Jair Bolsonaro perante o Judiciário brasileiro. O novo tarifaço atingiu itens como carne, café, frutas, pescados, suco de laranja e máquinas industriais. Os efeitos foram imediatos: enquanto o déficit comercial do Brasil com os EUA somou US$ 234 milhões em todo o ano de 2024, apenas em outubro — terceiro mês do tarifaço — o saldo negativo saltou para US$ 1,7 bilhão. Nos dez primeiros meses de 2025, o déficit acumulado já chega a US$ 6,8 bilhões.

Os Estados Unidos impuseram sanções a Alexandre de Moraes com base na Lei Global Magnitsky, determinando bloqueio de bens, restrições financeiras e proibição de entrada no país. As medidas também atingiram sua esposa, Viviane Barci de Moraes, e o Instituto Lex, ligado à família, todos submetidos ao congelamento de ativos e impedimentos para manter relações com cidadãos e empresas americanas.

Além das sanções econômicas, Washington avançou em outra frente: a revogação de vistos de autoridades brasileiras. Entre os atingidos estão ministros do STF — Luís Roberto Barroso, Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Edson Fachin —, o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

O governo brasileiro argumenta que as medidas carecem de justificativa econômica, já que os EUA seguem registrando superávit no comércio bilateral mesmo após a entrada em vigor das tarifas. Além disso, Brasília busca evitar que a disputa avance no âmbito da Seção 301 da Lei de Comércio americana, que trata de temas como comércio digital, propriedade intelectual, serviços financeiros e o uso do Pix como sistema de pagamentos instantâneos.