Finanças

Após tombo no resultado, Banco do Brasil só deve avaliar dividendos extraordinários no fim de 2026

Falências no agro pesaram no desempenho financeiro. Instituição reduziu suas estimativas de lucro para 2025, após os custos com crédito aumentarem em ritmo mais rápido que o esperado no terceiro trimestre

Agência O Globo - 13/11/2025
Após tombo no resultado, Banco do Brasil só deve avaliar dividendos extraordinários no fim de 2026
Banco do Brasil - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Banco do Brasil deve avaliar a possibilidade de pagar dividendos extraordinários apenas no fim de 2026. Segundo o diretor financeiro da instituição, Geovanne Tobias, a decisão dependerá do desempenho do banco ao longo do próximo ano e das perspectivas para 2027.

— Então nós vamos olhar muito o nível de rentabilidade ao final de 2026, o nível de capital que teremos e também as perspectivas de novas exigências de capital a partir de 2027 para podermos avaliar, vale a pena ou não vale a pena nós distribuirmos um dividendo extraordinário para os nossos acionistas. Ou será melhor segurá-lo na nossa base de capital para enfrentar novas mudanças regulatórias. É isso que vai acontecer — disse em coletiva de imprensa nesta quinta-feira.

O Banco do Brasil reduziu suas estimativas de lucro para 2025, após os custos com crédito aumentarem em ritmo mais rápido que o esperado no terceiro trimestre. O banco registrou uma queda de 60% no lucro líquido ajustado entre julho e setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado. Houve estabilidade na comparação com o segundo trimestre deste ano.

O banco estatal informou, em comunicado nesta quarta-feira, que espera registrar lucro líquido ajustado entre R$ 18 bilhões (US$ 3,4 bilhões) e R$ 21 bilhões em 2025. A projeção anterior era de R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões.

As provisões para perdas com crédito aumentaram 78% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 17,9 bilhões no terceiro trimestre, principalmente devido às carteiras de agronegócio e grandes empresas. Segundo o comunicado, o banco espera que essas provisões somem entre R$ 59 bilhões e R$ 62 bilhões no ano.

Provisionamento pesou

Apesar da alta nas provisões, o lucro líquido ajustado do terceiro trimestre, de R$ 3,79 bilhões, superou a média das estimativas dos analistas, segundo dados compilados pela Bloomberg. O resultado representa queda de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas ficou estável em comparação ao segundo trimestre.

A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou que o banco espera recuperar a rentabilidade da carteira em 2025, já que o provisionamento impactou o resultado deste ano. Ela reafirmou que 2025 é, para o BB, um ano de "ajustes".

— Ao manter uma carteira mais sustentável, mais estruturada e somado às negociações da MP 1314 (que autoriza linhas de crédito para renegociar dívidas de produtores rurais que sofreram perdas por eventos climáticos adversos), a gente acredita que o retorno da carteira agro vai se recuperar no ano que vem e, com isso, a gente vai manter a nossa margem.

Em vídeo, ontem, Tobias havia explicado que o aumento nas provisões está parcialmente relacionado a casos pontuais não previstos anteriormente. Segundo o diretor, o banco está finalizando o orçamento de 2025, quando o foco será a expansão do crédito para pessoas físicas, com estabilidade no agronegócio. Ele avaliou que o cenário de 2026 tende a ser “benigno”, com juros mais baixos, reajustes salariais e ganhos com a reforma tributária.

Queda puxada por falências no agro

No resultado trimestral, o Banco do Brasil foi impactado por um aumento nas falências do agronegócio no país, segmento que representa um terço da carteira de crédito da instituição. Uma mudança nas regras contábeis para os bancos brasileiros agravou o impacto, pois a instituição foi obrigada a reforçar as provisões para perdas em empréstimos.

O índice de inadimplência acima de 90 dias aumentou 1,6 ponto percentual em 12 meses, alcançando 4,9% no trimestre encerrado em setembro, de acordo com o comunicado. Na carteira do agronegócio, a inadimplência subiu para 5,3%.

O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) caiu 13 pontos percentuais no mesmo período, para 8,4%, permanecendo estável em relação ao segundo trimestre.

Antes da divulgação dos resultados, analistas esperavam que o terceiro trimestre fosse o ponto mais fraco dos resultados trimestrais do Banco do Brasil em 2025.

“Esperamos que o terceiro trimestre represente o ponto mínimo da rentabilidade do Banco do Brasil, como amplamente antecipado pelo mercado”, escreveu Gustavo Schroden, analista do Citigroup, em relatório.

As ações do banco acumulam queda de 5,7% no ano, ficando atrás de seus principais concorrentes, mas subiram 8% desde o início de setembro, quando o governo brasileiro anunciou uma medida provisória com uma nova linha de crédito voltada à renegociação de dívidas de produtores rurais. O Banco do Brasil passou a oferecer o programa a seus clientes no fim de outubro.

*Com Bloomberg