Finanças

Galípolo reafirma compromisso do BC com meta de inflação e diz que instituição 'não briga com dados'

Presidente do Banco Central responde críticas de Gleisi Hoffmann e afirma que decisões do Copom são baseadas em evidências

Agência O Globo - 12/11/2025
Galípolo reafirma compromisso do BC com meta de inflação e diz que instituição 'não briga com dados'
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo - Foto: Reprodução / Agência Brasil

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reforçou nesta quarta-feira o compromisso da instituição com a meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ele destacou que todas as decisões do BC são guiadas por dados e evidências econômicas.

Após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa básica de juros foi mantida em 15% com indicação de permanência nesse patamar por um período prolongado, Galípolo respondeu às críticas da deputada Gleisi Hoffmann (PT), presidente nacional do PT.

“Eu acho que deixou a desejar, entendeu? O Galípolo. Deixou a desejar”, afirmou Gleisi em entrevista à Agência Estado. Questionado sobre a declaração, Galípolo respondeu:

— Já comentei algumas vezes que entendo ser absolutamente legítimo todos os ramos da sociedade se manifestarem sobre a política monetária e emitirem opiniões. Todo mundo pode brigar com o Banco Central; o Banco Central é que não pode brigar com os dados. Talvez, de todas as instituições públicas, o Banco Central seja aquela com o objetivo mais claro, pois temos uma meta absolutamente exposta e explícita.

O presidente do BC reiterou que está “bem claro” o motivo pelo qual a taxa básica permanece em nível restritivo. Sobre o papel da política fiscal na dinâmica da inflação, Galípolo afirmou que não cabe ao Banco Central ser “comentarista de outras dimensões da política pública ou econômica”.

— A bola que eu tenho que estar de olho sempre é a inflação. O que importa para a gente é como a política fiscal, ou a percepção sobre ela, afeta a inflação corrente, as expectativas de inflação e outros ativos que podem impactar a inflação. Já temos bastante trabalho com o mandato do Banco Central para nos preocuparmos com outros temas.

Galípolo enfatizou ainda que a comunicação do BC está baseada exclusivamente em dados, e que as mensagens da instituição não antecipam movimentos futuros, mas refletem a leitura atual do cenário econômico. Segundo ele, o Banco Central busca manter uma postura “humilde e modesta diante da incerteza”.

Na ata da última reunião do Copom, realizada na semana passada, o BC afirmou considerar o nível atual dos juros, mantido por “período bastante prolongado”, suficiente para cumprir a meta de inflação. O colegiado não sinalizou quando poderá iniciar a redução da Selic e destacou que continuará monitorando o ritmo da atividade econômica, fator fundamental para a inflação.

O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, ressaltou que o ambiente externo segue marcado por incertezas, influenciado pelas tarifas comerciais dos Estados Unidos, pela situação fiscal de economias emergentes e desenvolvidas e pelas dúvidas quanto às próximas decisões do Federal Reserve (Fed), após o shutdown do governo americano.

No Brasil, Guillen observou que a atividade econômica desacelerou, embora o mercado de trabalho permaneça aquecido.

— Essa desaceleração é mais forte nos setores menos cíclicos da economia no segundo trimestre. Outro ponto é a taxa de desocupação, que manteve trajetória de queda e atingiu o mínimo histórico.

Galípolo e Guillen destacaram ainda que as estimativas sobre o impacto da ampliação da isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil ainda são preliminares. A ata do Copom já incorporou a reforma do Imposto de Renda (IR) às projeções do BC.

— Por que usamos a palavra preliminar? É, novamente, o que temos comentado sobre manter uma atitude humilde, modesta e transparente diante das incertezas atuais — concluiu Galípolo.