Finanças
Empresas têm até cinco gerações trabalhando juntas. Veja desafios e vantagens
EXTRA traz depoimentos de cinco colegas de trabalho nascidos em épocas diferentes sobre convivência
Uma geração compartilha condições sociais, culturais e econômicas que influenciam suas percepções e comportamentos. Logo, com mudanças cada vez mais rápidas no mundo, o intervalo que define esses grupos é cada vez menor. Isso, aliado a uma expectativa de vida crescente e à aposentadoria adiada, faz do mercado de trabalho atual no Brasil o mais diverso em gerações. Baby Boomers (geralmente considera-se de 1946 a 1964), Geração X (1965-1980), Millennials (1981-1996) e Geração Z (1997-2010) estão com mangas arregaçadas. E até os representantes da Geração Alpha (a partir de 2010) podem estar nas empresas, como aprendizes.
CPMI do INSS:
Trabalho temporário:
A diversidade geracional disponível no mercado nem sempre se expressa nas companhias, que temem os desafios de comunicação e integração que podem surgir, aponta Laís Vasconcelos, gerente da consultoria de Recursos Humanos Robert Half. Mas acima disso, há muitos benefícios para os negócios, ela garante:
— Embora tenhamos um leque geracional vasto, a representatividade no ambiente corporativo ainda é desigual, especialmente para profissionais com mais de 50 anos. Em um mercado que exige adaptação constante, esse grupo oferece experiência, liderança, resiliência e visão estratégica acumuladas ao longo dos anos. A combinação entre profissionais jovens e seniores cria um equilíbrio valioso entre inovação e experiência.
Serasa Experian é uma das empresas que atestam as vantagens da pluralidade no dia a dia. Vale ressaltar que não há definições únicas de quando começam ou terminam as gerações, sendo principalmente as fronteiras entre elas espaços fluidos. O EXTRA traz depoimentos de cinco funcionários da companhia, de faixas etárias diferentes, abaixo.
— O papel das gerações que estão entrando agora no mercado de trabalho é o de questionar, ser curiosa e trazer esse olhar de inovação, enquanto a experiência das gerações que já estão aqui há algum tempo consegue trazer estabilidade e estruturar melhor os processos, organizar as ideias e traduzi-las. Ver essa troca é muito interessante — diz a gerente de RH, Fernanda Guglielmi.
As trocas dependem de ambientes acolhedores. Por isso, as empresas têm apostado cada vez mais na criação de grupos de afinidade com foco em assuntos geracionais, nos mesmos moldes que reúnem funcionários há alguns anos para debater questões de gênero ou de raça. É o caso do Connecting Generations, de Serasa Experian, e do Gera+GBS, de Bradesco Seguros. Este mês, o tema da conversa do grupo da seguradora será planejamento financeiro para todas as idades.
— Os grupos de afinidade visam estimular reflexões e debates, valorizar boas práticas, incentivar a criação de novas ações na empresa e fortalecer as conexões entre integrantes. Contamos com funcionários de quatro gerações. É natural que existam diferenças nas preferências de comunicação, estilos de trabalho e referências. Mas ao criar espaços seguros para diálogo e escuta ativa, conseguimos transformar essas diferenças em aprendizados e oportunidades de colaboração — conta Valdirene Soares Secato, diretora de RH.
O que pensam os trabalhadores
‘Um senhor passando por renovação’
José Garcia Coelho, gerente de RH da Serasa Experian, de 69 anos:
Um dos grandes desafios que enfrentamos hoje é compreender verdadeiramente o modelo mental das novas gerações, seus valores, posicionamentos, escolhas de vida e formas de enxergar o mundo. As novas gerações são criteriosas. Observam com atenção, questionam com profundidade e escolhem com consciência. Elas não se conectam apenas com palavras, mas com atitudes coerentes e valores vividos no dia a dia. E foi essa convivência que me levou a revisitar conceitos, desconstruir preconceitos e abrir espaço para o novo. Imagine um senhor de 69 anos, criado sob os valores tradicionais da família mineira, passando por essa jornada de renovação. Para mim, isso é extraordinário. Como disse Raul Seixas: ‘Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’.
‘Estamos em plena evolução de processos’
Marcos Menegazzi, gerente de Finanças da Serasa Experian, de 44 anos:
Já tive bastante experiência com gerações diferentes ao longo de minha carreira. A facilidade de utilização de novas tecnologias é algo que vem se destacando bastante no dia a dia. A comunicação também mudou bastante ao longo dos anos, sendo necessário ser mais informal, direta e com bastante empatia para atender diferentes públicos. A flexibilidade e autonomia também faz parte desse processo de mudança, deixando as pessoas mais à vontade para realizarem o trabalho, impactando positivamente nos resultados. Estamos em plena evolução de nossos processos. As trocas de experiências e o aprendizado entre as gerações proporciona o desenvolvimento de habilidades complementares, engajamento, transferência de conhecimentos e melhoria de resultados e performance.
‘Vejo muito valor na troca entre gerações’
Thays Oliveira, especialista de Finanças da Serasa Experian, de 33 anos:
Percebo diferenças marcantes na forma de se comunicar entre gerações. Profissionais com mais tempo de estrada costumam trazer mais contexto, contar histórias e refletir antes de fechar um ponto, o que pode demandar mais tempo para conclusão. Já os mais jovens tendem a buscar resoluções rápidas, com preferência por mensagens curtas e objetivas. Às vezes, isso pode gerar desafios na construção de uma visão mais ampla. Já vivi situações em que senti que poderia ajudar a conectar diferentes estilos de comunicação. Vejo muito valor na troca entre gerações. Trabalho num time que mistura bem metodologia e agilidade, e isso é um baita benefício. No dia a dia, acabo contando com os mais experientes nas conversas mais estratégicas, e com os mais jovens nas entregas rápidas e práticas.
‘Tive que desenvolver alguns hábitos’
Guilherme Sibinel, estagiário de Finanças da Serasa Experian, de 24 anos:
A Serasa é uma empresa moderna e conectada com as tendências, mas, mesmo assim, tive que desenvolver alguns hábitos que não eram comuns no meu dia a dia. Um exemplo foi a necessidade de formalizar assuntos por e-mail, mesmo quando já haviam sido acertados por mensagens diretas. Além disso, a estrutura hierárquica e alguns processos mais burocráticos também foram novidades para mim, algo que não faz parte do universo jovem, mas que é essencial para o funcionamento de uma grande empresa. No fim, tudo isso contribui para o amadurecimento profissional. Vejo o convívio com gerações mais experientes mais como uma oportunidade do que um obstáculo. Enquanto eles têm visão estratégica, nós, mais jovens, conseguimos contribuir com novas formas de pensar o negócio.
‘A visão mais experiente ajudou’
Maria Eduarda Schmidit, jovem aprendiz de Finanças da Serasa Experian, de 16 anos:
Esse é o meu primeiro trabalho. O principal desafio tem sido adaptar minha forma de comunicação. Percebo que há diferenças na maneira como cada geração se expressa e troca informações, especialmente no uso de tecnologias e canais digitais. Aprender a ajustar o tom e escolher os meios certos tem sido essencial para garantir uma boa convivência e entendimento no dia a dia. Por outro lado, tenho aprendido muito com os colegas, tanto sobre o trabalho em si quanto sobre postura profissional, responsabilidade e visão de longo prazo. Já passei por situações em que a visão mais experiente de um colega ajudou a resolver um problema com mais eficiência, especialmente em decisões que envolvem histórico da empresa ou conhecimento técnico acumulado.
‘É preciso capacitar líderes para conversas difíceis’
Manter um grupo de conversa intergeracional na empresa é uma das ferramentas de integração aprovadas por Beatriz Santa Rita, professora do MBA de Diversidade e Impacto Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Rio. E ela acrescenta às recomendações:
— É importante ter nos espaços de tomada de decisões representantes das diferentes gerações, inclusive os jovens. Além disso, o time de RH precisa capacitar os líderes para ter conversas difíceis e fazer a mediação de conflitos quando acontecem.
Apesar das tendências geracionais, Maria José Tonelli, professora do Núcleo de Estudos de Organizações e Pessoas (Neop) da Fundação Getulio Vargas, ressalta que o olhar para cada funcionário precisa ser sem preconceitos:
— Além da geração, existem outros marcadores sociais. Por exemplo, a classe social interfere no acesso à tecnologia. É preciso observar as competências de cada um.
Mais lidas
-
1CRISE INTERNACIONAL
UE congela ativos russos e ameaça estabilidade financeira global, alerta analista
-
2DEFESA NACIONAL
'Etapa mais crítica e estratégica': Marinha avança na construção do 1º submarino nuclear do Brasil
-
3ECONOMIA GLOBAL
Temor dos EUA: moeda do BRICS deverá ter diferencial frente ao dólar
-
4REALITY SHOW
'Ilhados com a Sogra 3': Fernanda Souza detalha novidades e desafios da nova temporada
-
5DIREITOS DOS APOSENTADOS
Avança proposta para evitar superendividamento de aposentados