Já foi o tempo de dizer que o Fortaleza é apenas uma sensação no Campeonato Brasileiro. Após 24 rodadas disputadas — e um jogo a menos —, o tricolor cearense assumiu o primeiro lugar após vencer o Corinthians no domingo passado, por 1 a 0, no Castelão. Em seu local mais seguro, deu o recado de que é capaz de encarar as principais forças do país, validando um trabalho de longa data, que se adaptou ao tempo, e busca um feito do tamanho do Nordeste.

O último time da região que chegou próximo de ter uma campanha de tal magnitude foi o Sport, em 2015, que segurou a liderança até a décima rodada. Agora, o Leão do Pici se tornou o primeiro nordestino da história a liderar o Brasileirão no segundo turno. Principalmente, desde o período de Copa América, a equipe treinada pelo argentino Juan Pablo Vojvoda só vem crescendo.

Desde o dia 16 de junho, quando foi goleado por 5 a 0 pelo Cuiabá, virou a chave e registrou apenas uma derrota em 18 jogos na temporada — para o Vasco, pelo Brasileirão. Além disso, são 13 vitórias e quatro empates. Dentro do Castelão, a “fortaleza” tricolor é atestada, com 13 triunfos seguidos, dez deles pela competição nacional.

Sem medo

Obviamente, a disparidade financeira em relação aos concorrentes na briga pelo título é outro fator que chama a atenção na atual campanha do Fortaleza. O orçamento de 2024, que vale cerca de R$ 258 milhões, contrasta fortemente com Botafogo, Palmeiras e Flamengo, que orbitam em torno das cifras de R$ 1 bilhão.

Até agora, porém, o “Laion”, como vem sendo popularmente chamado nos últimos anos, não tomou conhecimento disso. Em casa, empatou com o alvinegro e aplicou um sonoro 3 a 0 no alviverde, além de ter vencido o rubro-negro no Maracanã. Em meio à campanha que já chegou às quartas de final da Sul-Americana, competição a qual o vice do ano passado ficou engasgado até hoje, o Fortaleza volta a flertar com os títulos — venceu a Copa do Nordeste novamente em 2024.

O equilíbrio tático do Fortaleza está ligado à mudança de esquema antes do início da Série A. O time de Vojvoda, que está no comando há quatro temporadas, e é conhecido por se remodelar conforme as características do elenco, passou de três zagueiros para um 4-2-3-1, que potencializou as armas ofensivas da equipe.

Entre os destaques, a dupla argentina Lucero e Pochettino se encaixou perfeitamente, tanto que lideram em gols (oito) e assistências (cinco), respectivamente. Inclusive, o centroavante se recuperou recentemente de uma lesão na coxa direita, que o deixou fora de quatro jogos.

Nesse período, foi a vez de Renato Kayzer aproveitar a oportunidade com mais minutos em campo, e não à toa que recebe o prestígio de Vojvoda. A chegada de Breno Lopes por empréstimo, do Palmeiras, deu uma cara nova e necessária na ponta esquerda. Atacantes como Moisés e Machuca foram testados, mas não renderam como esperado, o que reforça sua titularidade, com quatro gols e três assistências no Campeonato Brasileiro.

Nomes importantes

Além disso, a volta dos ídolos Yago Pikachu, após experiência no futebol japonês, e Moisés, no início do ano, reforçou jogadores que são a cara dos últimos anos vitoriosos do clube. Os recentes gols decisivos de Pikachu não deixam muitas dúvidas.

Do lado defensivo, Brítez funciona como uma espécie de “coringa” do Fortaleza, já que pode atuar tanto de zagueiro como de lateral-direito. Essa adaptação foi justamente o que aconteceu na vitória sobre o Corinthians, que garantiu a liderança. A presença do lateral de ofício Tinga também é outra possibilidade que costuma estar nos planos do treinador argentino.

A solidez na defesa do líder da Série A, com apenas 20 gols sofridos — terceiro lugar no quesito, atrás apenas de Internacional (18) e Palmeiras (19) — passa pelo talento do volante Hércules, de apenas 23 anos, que retornou nesta temporada após sofrer uma lesão grave no joelho esquerdo em julho de 2023. A voluntariedade do jogador é peça-chave para equilibrar o time nas transições ofensiva e defensiva.

Líder x vice-líder

Tantas peças indo bem individualmente levaram um time de “apenas” 30 gols, o sétimo melhor ataque, ao topo. Para ter a melhor campanha como mandante (84,6%, após dez vitórias e três empates) e a quinta melhor como visitante (50%, com quatro vitórias, três empates e três derrotas), uma estatística peculiar chama a atenção: tem a menor média de posse de bola do campeonato (42,1%), segundo o site WhoScored. Assim, passou a trabalhar mais na velocidade e em ataques diretos e fatais.

Em busca da permanência da liderança do Campeonato Brasileiro, o Fortaleza encera justamente o Botafogo, no próximo sábado, às 21h, no Estádio Nilton Santos.