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Às vésperas do US Open, brasileiro Caio Zampieri celebra cargo em uma das principais academias do país

Ex-profissional é diretor de alta performance da John McEnroe Academy, em Nova York

Agência O Globo - GLOBO 21/08/2024
Às vésperas do US Open, brasileiro Caio Zampieri celebra cargo em uma das principais academias do país

Na próxima segunda-feira, os maiores tenistas do planeta começam a disputar a chave principal do último Grand Slam do ano, o US Open, no Queens, em Nova York. E a 11,9 quilômetros do incrível complexo do USTA Billie Jean King National Tennis Center, em Flushing Meadows, está uma das principais academias de tênis do país, a John McEnroe Academy, que leva o nome de uma lenda da modalidade e conta com nada menos que 30 quadras. Hoje com 65 anos, o dono da academia conquistou 77 títulos enquanto profissional, com destaque para os sete Grand Slams nas simples, quatro deles no principal torneio do país (em 1979, 80, 81 e 84) e outros três em Wimbledon (81, 83 e 84).

E, semana passada, o ex-tenista profissional brasileiro Caio Zampieri assumiu um cargo de destaque na academia de John. Paulista de Mogi Guaçu e ex-182º do mundo nas simples, ele é um dos dois diretores de alta performance da academia, localizada no Randall’s Island Tennis Center.

- Está sendo uma experiência muito legal, estou podendo rever alguns amigos das antigas, do circuito. Já tinha trabalhado 4 anos numa unidade menor do John McEnroe, agora estou na maior. Está sendo bem legal, agora sou diretor do programa, eu e outro treinador, dirigimos os programas, vemos por fora, podemos ajudar mais os atletas, estou curtindo bastante – conta o brasileiro.

Nos EUA desde 2018, Zampieri já tinha trabalhado em outra unidade da academia de McEnroe e, como não poderia deixar de ser, a admiração e respeito por esse fenômeno do tênis americano e mundial é muito grande por parte de quem frequenta as unidades da academia.

- Naquela época encontrei e conversei com ele um pouco, e me disse que jogou com uns brasileiros quando era profissional, lembrou de alguns nomes. Ele é fenomenal, quando ele chega, todo mundo para, respeita, ele ainda joga. Treina com a molecada quase todo dia, dá dicas. O Patrick (irmão de John) também está lá direto e eles são meus chefes agora, vou me reportar a eles sobre os treinamentos, os torneios que a molecada está jogando e tudo o mais – acrescenta o brasileiro, que havia se afastado dois anos da academia para se dedicar às aulas particulares.

Casado com Sara Burinato e pai da pequena (e linda) Martina, de dois anos e meio, está encantado com o estilo de vida americano:

- A adaptação foi fácil, porque aqui a qualidade de vida é muito boa. Aqui tem segurança, na minha casa não tem portão, só a porta direto para casa. Dá uma segurança, uma tranquilidade muito boa para criar minha filha, que tem 2 anos e meio. As escolas também são muito boas, não só nas universidades que têm esportes. Desde a escola tem desafios entre os colégios, a estrutura muito boa. Isso, pra mim, foi muito fácil, ainda mais depois que tivemos a nossa filha, muito fácil criá-la aqui com essa estrutura, há muita opção, principalmente de esporte. Recentemente, na Olimpíada de Paris, vimos a diferença de medalhas de um país de primeiro mundo que incentiva o esporte, para os outros, é incrível isso.

Jovens talentos americanos Em sua primeira temporada pela academia, Zampieri treinava desde as crianças de cinco anos até a turma de alta performance, que disputa os torneios da USTA, a federação americana. E alguns nomes promissores do tênis americano chegaram a ser treinados pelo brasileiro:

- Um deles foi o Jack Kennedy, que hoje tem 15 anos, já foi 24º do ranking mundial da ITF e atualmente é o 32º. Ele é super talentoso, me lembro desde que cheguei na academia, conversava com ele e, mesmo com 9 ou 10 anos, parecia que tinha 18. Era incrível a absorção do moleque, como ele olhava, conversava, poderíamos ter uma conversa com ele como se fosse adulto, você percebe que o moleque é diferente, inclusive sobre a a leitura de jogo. Há alguns dias ele foi vice-campeão, na categoria 18 anos, do maior torneio juvenil aqui dos EUA, o Kalamazoo. O campeão ganha convite wild card para a chave principal do US Open, e o vice, para o quali (Kennedy perdeu na estreia, para o alemão Maximilian Marterer, 116º do mundo, por 6/3 e 6/4). Ele é muito talentoso, habilidoso, e chamou bastante atenção e é bastante promissor.

História na Davis e no Brasil Open

Em sua trajetória como tenista, Zampieri guarda na memória algumas ótimas lembranças. Uma delas foi em 2004, quando, aos 17 anos, se tornou segundo mais jovem do país a vencer uma partida pela Copa Davis. O feito aconteceu em Caracas, na Venezuela, quando derrotou Yohny Romero por 6/3 e 6/4 (na época, os principais tenistas do país fizeram um boicote à CBT, e a saída foi convocar tenistas juvenis).

- Foi demais, nunca esperava acontecer tão cedo. Foi muito emocionante ganhar um jogo da Davis, uma experiência muito legal, tenho muita consideração pelo Pablo, pelo Pereirinha (Ricardo Pereira, técnico), pelo Adriano Ferreira. Foi uma semana inesquecível com o Bruno (Rosa), Thomaz (Bellucci) e o Raony (Monteiro).

A campanha no Brasil Open, na Costa do Sauípe, na Bahia, em 2009, também foi marcante para Zampieri. Afinal, após vencer os três jogos do quali, ele disputou sua primeira chave principal de ATP Tour. Com direito a uma vitória por 6 a 0, no primeiro set, contra o italiano Fabio Fognini (que venceu os sets seguintes por 7/6 6/2). Curiosamente, nesta semana, os dois se reencontraram na academia em Nova York.

- Aquele foi o torneio mais marcante da minha vida. Ganhei, na estreia do quali, do André Sá, que eu admirava e admiro até hoje por tudo que ele fez e faz pelo tênis. Depois ganhei do Leonardo Mayer (argentino), que foi muito bem rankeado também (ex-21º). Na chave principal caí de cara com o Fognini, tive chances de ganhar aquele jogo, foi incrível a sensação de acertar tudo o que a gente tenta, estava sentindo a bola muito bem. Mas acabei sentindo a hora de fechar, fiquei muito ansioso. O Léo Azevedo era o meu treinador na época, na virada do 5 a 4 nem esperei dar o tempo, peguei logo as bolas para sacar. Era um pouco imaturo também, aquele jogo me marcou, até hoje tenho pesadelos com essa partida (risos). Toda vez que penso nisso, é uma recordação para o lado positivo, poderia ter sido melhor, mas foi uma experiência que jamais vou esquecer, foi uma semana incrível, assim como a do ATP de Santiago, no Chile (em 2011), quando derrotei o Massu (Nicolas, ex-número 9 do mundo).

Recuperação dolorosa da cirurgia Em 2012, um ano depois do triunfo sobre o campeão olímpico de 2004 (em simples e duplas), na capital chilena, Zampieri encarou um enorme desafio: a cirurgia no quadril:

- Eu era o 200º do mundo, caí para abaixo de 1000, fiquei um ano sem jogar, sem dinheiro, porque não estava jogando, e tenista só ganha quando está em quadra. Foi uma recuperação muito dolorosa, sem incentivo de ninguém, foi mais na raça mesmo. Depois voltei, cheguei a 250, mas, depois de alguns anos, no começo de 2016, senti muita dor nas costas, foi quando fiz uma ressonância e vi que tinha mais um problema no quadril e que precisaria fazer uma cirurgia no mesmo quadril. Já estava um pouco mais velho e não queria mais passar o mesmo perrengue e foi por isso que decidi parar de jogar.

Fã de pescaria

Desde que se retirou, profissionalmente, das quadras, o pai da pequena Martina sempre teve como meta trabalhar nos EUA. Foi quando conheceu o site Orange Coach, viu o anúncio da academia de John McEnroe e escreveu para um dos diretores da entidade, que gostou do currículo e, depois, chegaram a fazer uma reunião por vídeo.

- Queria vir para os EUA, independente de qual academia fosse. Dei que foi uma academia grande. E com o John McEnroe, né? Um nome muito importante aqui. Nos EUA, mesmo morando numa cidade conhecida pelos diversos pontos turísticos, como a Estátua da Liberdade, o Central Park, o Summit One One Vanderbilt ou o Empire State Building, o paulista de Mogi Guaçu é fã, mesmo, de ir à praia nas horas vagas:

- O que faço no dia de folga, no verão, é pescar (risos), é meu lugar favorito, estar na praia. Peguei uma permissão para dirigir na areia, paro o carro lá, levo minha filha, minha mulher, às vezes a gente vai para Manhattan passear um pouco, mas é muita correria, loucura, então a gente prefere ficar um pouquinho afastado.

Elogios à estrutura

- E a estrutura da academia John McEnroe é fenomenal, fiquei impressionado, bola nova todo mês, mais de 50 treinadores, 1 por quadra, a estrutura, o jeito que eles fazem, é diferente, é de primeiro mundo. As quadras, o complexo, é algo diferenciado. Eu que já treinei em vários lugares, consigo ver a diferença, a estrutura.

O reinício na academia tem sido bem legal, segundo o diretor de alta performance:

- O John esteve aqui dois dias na semana passada, está sendo bem interessante, estou muito animado para, quando começar a temporada em setembro, ter bastante juvenil bom. É muito legal poder contribuir com eles agora.

A maneira como o esporte, de uma maneira geral, é encarado nos EUA é um dos aspectos que o marido de Sara e pai de Martina mais curte no país:

- Não só na academia, mas, em geral, qualquer escola ou middle school, até a oitava série, tem oito quadras de tênis, em perfeitas condições, parques abertos.

De fato, a realização de um sonho em solo americano.