Esportes

Medalha inédita no snowboard em Jogos da Juventude mostra evolução brasileira no gelo e na neve

Além da conquista de Zion Bethonico, o Brasil teve atletas entre os dez melhores no skeleton, no bobsled, na patinação de velocidade em pista curta, e conquistou vitória inédita no curling misto

Agência O Globo - GLOBO 28/01/2024
Medalha inédita no snowboard em Jogos da Juventude mostra evolução brasileira no gelo e na neve
snowboard - Foto: reprodução

Há 22 anos, um jovem Edson Bindilatti, então com 21 anos, oriundo do atletismo, disputava sua primeira Olimpíada de Inverno, no bobsled, em Salt Lake City, nos Estados Unidos. Duas décadas depois, o atleta, já uma lenda dos esportes de inverno brasileiros e com cinco Jogos no currículo, treinou os atletas da modalidade nas Olimpíadas de Inverno da Juventude, em Gangwon, na Coreia do Sul. Uma competição simbólica para o Brasil, que conquistou sua primeira medalha na história e uma série de outros bons resultados que jogam luz sob a evolução dos esportes de inverno no país.

A medalha, primeira em Jogos Olímpicos ou Jogos da Juventude, foi conquistada por Zion Bethonico, de 17 anos, que ficou com o bronze no snowboard cross. Além dele, o Brasil teve atletas entre os dez melhores no skeleton, no bobsled, na patinação de velocidade em pista curta. Também conquistou vitória inédita no curling misto, com Pedro Ribeiro, Julia Gentile, Guilherme Melo e Rafaela Ladeira, num 6 a 4 sobre a Alemanha.

—É um prazer fazer parte dessa evolução. Quando começamos, era um “matagal”. Agora as pessoas já entendem mais sobre as modalidades de inverno, já conhecem. Não tanto quanto a gente gostaria, mas já atrai mais pessoas. Ver esses atletas ganhando medalha, coisa inédita, ganhando jogos em que só tomávamos pancadas, tendo grandes resultados, fica a sensação de que valeu a pena o esforço que todos nós fizemos — conta Bindilatti, que treinou Luis Filipe Seixas (10º no monobob, melhor desempenho brasileiro em Jogos da Juventude) e André Luiz da Silva (17º).

O treinador, que segue na ativa como atleta e buscando a sexta Olimpíada da carreira — nas cidades de Milão e Cortina d’Ampezzo, em 2026 — atravessou boa parte da história brasileira nos Jogos. Desde 2002, o país engatou uma estabilidade com ligeiro crescimento na quantidade de atletas que envia aos Jogos: foram dez em Salt Lake City-2002, dez em Turim-2006, cinco em Vancouver-2010, 13 em Sochi-2014, nove em Pyeongchang-2018 e dez em Pequim-2022. Nessa última edição, Bindilatti foi porta-bandeira e, junto à equipe brasileira, foi à grande final do 4-man, melhor resultado do país. Chegou até a se aposentar, mas retornou.

Base e captação

Por trás das modalidades de inverno no Brasil estão duas federações filiadas ao Comitê Olímpico do Brasil (COB): a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) e a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN). Em ambas, projetos internacionais de captação de atletas são realizados para identificar os talentos do inverno brasileiro.

— É um trabalho de planejamento a longo prazo da confederação, em parceria com o COB, que nos últimos anos foi bastante aumentado e acelerado justamente por essa perspectiva de possíveis resultados nos Jogos de Inverno — conta Pedro Cavazzoni, CEO da CBDN.

Ele revela que equipamentos chamados rollers (na prática, rodas) permitem que modalidades com o esqui cross-country e o biathlon sejam treinadas e até disputadas no Brasil — a CBDN organiza provas importantes no cenário sul-americano, que vale pontos para o ranking mundial. Mas o panorama geral precisa, claro, da presença da neve. Para encontrar atletas de um país tropical, é preciso ir ao exterior (Chile, Europa e Estados Unidos, principalmente) organizar e promover seletivas e eventos.

— A gente trabalha no que chamamos de projetos individuais. A confederação criou um mapa técnico do que um atleta precisa fazer em cada uma das idades nas partes técnica, física e psicológica. Que tipo de resultado precisa ter para alcançar resultados internacionais expressivos. Estamos sempre tentando detectar talentos o mais cedo possível, para que eles entrem nessa curva de desenvolvimento. É um grande radar.

É o caso de Zion e do irmão Noah, que foram “encontrados”, ainda crianças, pela confederação em um torneio brasileiro. Atualmente, são sete projetos individuais, entre atletas com potencial para os Jogos de 2026 e para 2030.

Presidente da CBDG e chefe da missão nos Jogos da Juventude, Matheus Figueiredo avalia que a preparação para esta edição foi a melhor, com bons resultados no horizonte. No curling, o projeto CBDG para a formação do time começou há dois anos, a partir da seleção de atletas.

— Eles estão baseados em Vancouver, cidade que já sediou Jogos Olímpicos. Já vinham participando de ligas regionais, vieram com uma experiência interessante — elogia o dirigente.

Embora o cenário altamente competitivo de algumas de suas modalidades, como a patinação, exijam preparação de elite em centros especializados fora do país, os esportes de gelo têm uma casa brasileira, a Arena Ice Brasil, em São Paulo. Inaugurado em 2020, o espaço serve como local de prática e iniciação em esportes de inverno. No último ano, 200 pessoas participaram de treinamentos em patinação artística, por exemplo.

A CBDG espera promover lá o hóquei no gelo 3x3 (com rinque no tamanho correspondente ao da arena), disputado nos Jogos da Juventude e com possibilidades de se tornar olímpico. Eventos em parceria com potências como Canadá e República Tcheca ajudam nesse caminho.

— Isso vai fazer essa roda girar, trazer mais atletas jovens, todo esse processo de entrada. E conectar com brasileiros que praticam hóquei no mundo.