Esportes

Com a ginga da capoeira e a essência da favela paulistana, b-girl Toquinha é uma das atrações do Breaking de Verão

Evento terá terceira edição neste fim de semana na Praia de Copacabana

Agência O Globo - GLOBO 20/01/2024
Com a ginga da capoeira e a essência da favela paulistana, b-girl Toquinha é uma das atrações do Breaking de Verão

A seis meses da estreia do breaking nos Jogos Olímpicos de Paris, o esporte que saiu das ruas e ganhou o disputado espaço no programa olímpico tem transformado a vida de b-girls e b-boys no Brasil. Da restrita cultura do hip hop à visibilidade internacional, os agora atletas crescem junto com a modalidade. É o caso da paulista Toquinha, que participa neste fim de semana do Breaking do Verão, principal competição do país com a presença de competidores estrangeiros e está em sua terceira edição, desta vez na Praia de Copacabana. Sportv e TV Globo transmitem.

Aos 22 anos, a jovem criada na favela do Perus, na Zona Norte de São Paulo, é uma das integrantes da seleção brasileira de breaking, conta com grande patrocínio e estrutura de atleta. Algo impensável quando ela começou na cena há uma década. À época, a dança apenas fazia parte do hip hop em áreas periféricas da cidade. Não imaginava que um dia iria competir numa das praias mais famosas do mundo, com público e transmissão na TV.

— Acredito que ainda assim poderia ter ido para um Mundial, ter chances de patrocínios se o breaking não tivesse crescido tanto. Mas seria muito mais distante para eu alcançar isso. A visibilidade era muito pouca antes de virar esporte olímpico. Agora está toda hora na imprensa, nas redes sociais. Senti que depois que se tornou olímpico, minha vida deu um up. Agora é o momento perfeito para quem quer realmente viver do breaking. Deu facilitada na vida de quem quer viver disso — diz Naiara Xavier Santos, que ganhou o apelido de Toquinha por sempre usar algo na cabeça.

Ano passado, Toquinha foi uma das representantes brasileiras entre as 16 finalistas do Red Bull BC One, espécie de mundial do breaking, disputado em Roland Garros, em Paris. Este ano, o evento será sediado no Rio de Janeiro. Seus resultados acompanham a maior profissionalização da modalidade. Hoje, ela conta com fisioterapeuta e psicóloga nas competições e ao longo dos treinamentos:

— Eu tive que mudar alguns hábitos. Não sair tanto, me preocupar um pouco mais com os meus músculos, com a força das minhas pernas, minhas unhas... Tudo para poder executar o breaking da melhor forma possível. Isso deu um salto gigantesco. Antes eu dançava por mim, se machucasse o joelho ia treinar de qualquer jeito. Hoje, tenho acompanhamento, paro para cuidar do joelho e poder competir o resto do ano bem. Tenho uma psicóloga para poder conversar sempre, pois nossa cabeça é nosso guia. Se não estamos bem psicologicamente, a dança não flui tão bem.

A nova realidade da b-girl, no entanto, não a afastou da essência da cultura de rua, que abrange o grafite, a discotecagem e os MCs num estilo próprio de vida. Apesar da pouca idade, Toquinha é consciente da importância das suas raízes. Ela até acredita que houve quem se afastasse da cena periférica por causa da profissionalização, mas o crescimento da modalidade pode e deve ser benéfico para todos.

—Eu particularmente consigo ser a o Toquinha atleta, patrocinada, da seleção brasileira e a Toquinha artista. Acho que o segredo para fazer isso é você não deixar de ser quem você é quando estar em lugares diferentes. Eu estou aqui no terceiro ano consecutivo no Breaking de Verão como convidada. E nunca precisei fingir, negar minha essência. Minha essência é o hip hop, a minha essência é a favela. Eu vim da favela e agora estou aqui em Copacabana —afirma ela, que dá aulas em oficinas em Perus, participa de eventos como MC e participa de batalhas de rima.

Com a ginga e a malícia adquiridas em seus anos de capoeira na infância em Perus para desbancar os concorrentes, Toquinha terá a companhia da paraense Mini Japa, atual campeã brasileira de breaking, da colombiana b-girl Luma, representante da seleção da Colômbia e vice-campeã dos Jogos Pan-Americanos 2023, da russa b-girl Kastet, atual campeã do Breaking do Verão, entre outras.

No masculino, o Brasil estará representado pelos b-boys Rato, Luan San e Bart. A grande atração será o b-boy Phill Wizard, campeão pan-americano de 2023 e integrante da seleção do Canadá, que conquistou vaga para os Jogos Olímpicos.

O Brasil ainda não tem vaga garantida em Paris. O b-boy Leony é o representante brasileiro com chances de estar nos Jogos Olímpicos. Ele vai participar de duas qualificatórias entre março e maio, com mais 40 competidores. Os 10 melhores dessas duas competições estarão classificados.

— O evento cresceu muito de dois anos para cá. Estamos no terceiro ano, levamos eliminatórias para Manaus e Fortaleza e estamos montando uma arena na praia mais famosa do mundo. Queremos mostrar pra todo mundo que o breaking é olímpico — afirma Fernando Bó, criador do evento.