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Complexidade do 'Dinizismo' agrada jogadores, mas pode ser problema pela escassez de tempo

Hoje, às 21h, contra o Uruguai, atletas da seleção brasileira tentarão colocar em prática as adoradas ideias do técnico Fernando Diniz

Agência O Globo - EXTRA 17/10/2023
Complexidade do 'Dinizismo' agrada jogadores, mas pode ser problema pela escassez de tempo
Fernando Diniz - Foto: Vitor Silva/CBF/Direitos Reservados

O discurso dos jogadores da seleção brasileira após o decepcionante empate (1 a 1) diante da Venezuela foi unânime. Ao invés de buscar algo que justificasse o resultado, o elenco se aprofundou no complexo estilo de jogo de Fernando Diniz e pediu mais tempo para colocar em prática o que tenta assimilar em poucos dias de treino, com a promessa de que “muita coisa boa está por vir neste ciclo”. Hoje, às 21h, contra o Uruguai, em Montevidéu, pelas Eliminatórias à Copa de 2026, será mais uma oportunidade para tentar colocar as intenções em ação.

Em pouco tempo — ao todo, foram dez dias de treino em campo e 18 dias com o novo treinador —, Diniz já conseguiu concretizar um dos desafios na seleção brasileira: convencer os atletas de que seu estilo, tão diferente do praticado na maioria dos grandes times do futebol europeu, pode render vitórias e um bom começo de ciclo. Afinal, não há nem a confirmação de que o treinador estará à beira do gramado na Copa América de 2024. No entanto, agora vem o maior deles: conseguir, numa quantidade de treinamentos bem menor que a que tem disponível em clubes, fazer com que os atletas coloquem na ponta das chuteiras o que adoram na teoria.

— É uma mudança muito positiva. Apesar do resultado não ter sido o melhor (contra a Venezuela), creio que a gente vem se divertindo muito em campo. Todos gostam da forma que ele (Diniz) atua, treina e trabalha. É pedir um voto de confiança para todos, para termos tranquilidade. Muita coisa boa está por vir neste ciclo e creio que os torcedores vão gostar do que vamos fazer dentro de campo — disse Marquinhos, um dos líderes do grupo.

A diversão citada pelo zagueiro se dá muito por conta do estilo de jogo praticado Fernando Diniz, diferente do promovido pelo antecessor Tite e referências do futebol europeu, como Guardiola. Sem tanta obrigação de ocuparem a posição pré-determinada, os jogadores têm mais liberdade para se movimentar e utilizar a habilidade e a criatividade. Se tratando de atletas brasileiros, que tem o improviso como uma das principais características, os estilos casam perfeitamente.

— Primeiro temos que ter consciência, porque estamos falando de sair de um jogo posicional (com Tite) para outro “disposicional”. É água e vinho. Precisa de tempo, e a gente não tem. Treinamos dois dias e temos que tentar executar em campo. É preciso paciência. Não é fácil para a gente e nem para o Diniz também — frisou o lateral-direito Danilo, um dos líderes do elenco, que foi cortado da partida diante do Uruguai por lesão muscular.

Além disso, Diniz tem como uma das principais características a ideia de ter “superioridade no setor da bola”. Contra a Venezuela, por exemplo, a seleção concentrou as jogadas ofensivas no lado esquerdo. Sendo assim, Rodrygo teria a função de sair da direita e aproximar de Vini Jr. — estreando com o treinador, o camisa 7 foi um dos que mais apresentou dificuldades táticas e até técnicas. Dessa forma, se o marcador de Rodrygo permanecesse em sua posição, a superioridade estaria na esquerda. E se o adversário acompanhasse, haveria um espaço livre para ser atacado na direita.

Três mexidas

Outra mudança significativa é em relação ao meio-campo. Casemiro, por exemplo, tem muito mais responsabilidade na troca de passes curtos e na saída de bola. Sem característica para tal, o volante é outro que parece não ter se adequado bem à dinâmica de Diniz, que, no Fluminense, conta com André, muito mais leve e móvel, para essa função. Também peça fundamental, Neymar tem mais liberdade para circular pelo campo e descer para participar da construção ofensiva desde o início. Assim, dá mais qualidade na saída de bola, mas também atrai a marcação e cria espaços.

Para enfrentar o Uruguai, o Brasil deverá ter três mudanças. Yan Couto, Carlos Augusto e Gabriel Jesus nos lugares de Danilo, Guilherme Arana e Richarlison.