Esportes

Nelson Piquet: entidades planejam recorrer ao STF contra anulação de indenização de R$ 5 milhões por racismo

4ª Turma Cível do TJDF anulou condenação proferida em março; Em 2021, ex-automobilista brasileiro chamou piloto inglês Lewis Hamilton de 'neguinho' durante entrevista

Agência O Globo - GLOBO 12/10/2023

Entidades de direitos humanos querem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) após o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) anular, nesta quarta-feira, a condenação do ex-automobilista Nelson Piquet por racismo contra o piloto inglês Lewis Hamilton. Piquet foi condenado, em março deste ano, a pagar R$ 5 milhões em indenização por danos morais coletivos após chamar Hamilton de “neguinho”, em entrevista a canal do YouTube.

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A apelação de Piquet foi analisada pela 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Logo após a decisão, o frei David Santos, diretor executivo da Educafro Brasil, afirmou que o grupo vai recorrer da decisão de anulação no STF.

— Vamos recorrer ao STF, imediatamente. Temos certeza de que aquele tribunal está mais preparado para assuntos novos e difíceis. Acabamos de assistir um julgamento baseado nas premissas que eram adotadas no Brasil do século XIX. O racismo e a LGBTFobia precisam ser retirados das entranhas das nossas instruções. Não recebemos a decisão com surpresa, porque lamentavelmente o preconceito e a discriminação dão a tônica nas instituições brasileiras. Mas não iremos parar. Vamos lutar até que a vitória prevaleça — diz Frei David.

Para o advogado da entidade, Márlon Reis, a proposta de recorrer se deve ao que considera uma “banalização” das palavras ditas por Piquet.

— O direito precisa estar a serviço da igualdade, não da banalização das palavras embebidas no mais puro racismo e LGBTFobia. Os tribunais precisam sentir a dor que a maioria da população sofre em momentos como esse — explica.

A ação que motivou a condenação foi movida por organizações de direitos humanos e LGBTI. As entidades sustentam que Piquet foi racista com Hamilton durante a entrevista, ao comentar um acidente no qual ele se envolveu, com Max Verstappen, genro de Piquet, em 2021, e compará-lo com um episódio que aconteceu com Ayrton Senna, em 1990.

“O neguinho meteu o carro e não deixou (desviar). O Senna não fez isso. O Senna saiu reto. O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro (Verstappen) se f... Fez uma p... sacanagem”, afirmou na ocasião.

O juiz Pedro Matos de Arruda, da 20ª Vara Cível de Brasília, em sua decisão, disse que “no sentido de que não se deve apreciar apenas a função reparatória da responsabilidade civil, mas também (e talvez principalmente) a função punitiva, exatamente para que, como sociedade, possamos nos ver algum dia livres dos atos perniciosos que são o racismo e a homofobia”.

Hamilton se pronunciou

O piloto inglês, além de sua equipe e outros representantes da categoria, se posicionou sobre o caso. Por meio de sua conta no Twitter, em português, ele disse, na época, que a prioridade no momento é “focar em mudar a realidade”.

“É mais do que linguagem. Essas são mentalidades arcaicas que precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação”, escreveu o piloto em outra publicação, em inglês.

O piloto ainda provocou ao compartilhar um post que questionava: “quem diabos é Nelson Piquet?”. Hamilton disse, apenas, “imagine” (“imagina”, em inglês).

Mas essa não era a primeira vez que Hamilton se tornava alvo de provocação da família Piquet. Nelsinho Piquet, filho de Nelson e também ex-piloto, em outra oportunidade demonstrou que não é muito fã de Hamilton, assim como o pai.

Em dezembro de 2021, ele comemorou efusivamente o título mundial de Max Verstappen, quando o holandês conseguiu ultrapassar o britânico na última volta do GP de Abu Dhabi. Depois, apareceu vestindo uma camisa com a estampa “Patrão é meuzovo”. Patrão é como fãs e comentaristas apelidaram Lewis Hamilton.

Nelsinho competiu na Fórmula 1 entre 2008 e 2009. Em 2009, protagonizou escândalo na categoria, ao confessar ter provocado um acidente para beneficiar o companheiro de equipe, Fernando Alonso. Como comprovou que a ordem partiu dos chefes da Renault e colaborou com as investigações, passou sem punição pelo caso.