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Procurado pela Interpol, narcotraficante se escondia na Bolívia jogando futebol profissional com registro falso da CBF

Sebastian Marset é líder de organização criminosa e usava documento brasileiro com nome falso de Luis Amorim. É a segunda vez que ele se disfarça como atleta profissional de futebol, e chegou a jogar em time que foi à Libertadores

Agência O Globo - GLOBO 01/08/2023
Procurado pela Interpol, narcotraficante se escondia na Bolívia jogando futebol profissional com registro falso da CBF
Procurado pela Interpol, narcotraficante se escondia na Bolívia jogando futebol profissional com registro falso da CBF - Foto: Reprodução

Sebastian Marset, narcotraficante uruguaio de 31 anos, é um dos homens mais buscados da América do Sul. Procurado pela Interpol e pela DEA (agência antidrogas dos EUA), tem pedidos de prisão decretados no Uruguai, seu país natal, Paraguai e Bolívia. Foi neste último país que ele foi encontrado na última segunda-feira (31), mas conseguiu fugir. O criminoso vivia uma vida de luxo em Santa Cruz de La Sierra, onde se disfarçava como jogador de futebol. Com suas partidas documentadas em transmissões por redes sociais, que exibiam vídeos de suas atuações, Marset jogava profissionalmente com um documento falso da CBF. Ele alegava ser brasileiro e se chamar Luis Amorim.

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Com o número 23 às costas e um bom porte físico, o criminoso de 31 anos não fazia feio nas partidas, como mostram vídeos que estão sendo recuperados, após o informe da polícia sobre seu esconderijo e fuga. Ele atuava pela equipe Los Leones El Torno, que joga em uma liga local de Santa Cruz, uma divisão inferior do futebol boliviano.

Segundo o ministro de Governo da Bolívia, Eduardo Del Castillo, Marset entrou no país em setembro do ano passado e, com muito dinheiro, conseguiu fundar um clube para chamar de seu. Além de meio-campo, ele também era dono e gerente da equipe. Em um vídeo que circula nas redes, o narcotraficante dá até entrevistas antes de uma importante partida.

Nos dados das súmulas das partidas, ele aparece na súmula como atleta registrado no Brasil, com o nome completo de Luis Amorim Santos, e registro na Confederação Brasileira de Futebol. Os documentos são falsificados. Esta não é a única ligação do narcotraficante com o Brasil: suspeito de ter relações com o PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, Marset é o chefe de outra facção criminosa, a PCU (Primeiro Comando Uruguaio), que é acusada de liderar o escoamento da produção de cocaína do Paraguai através do Rio Paraná. De vários pontos do continente, a droga era enviada para países como Bélgica e Holanda.

Organizadora do campeonato, a Associação de Futebol de Santa Cruz disse que está disposta a cooperar com as autoridades e com a investigação, "ao mesmo tempo que refutamos contundentemente algum grau de vinculação com o crime investigado".

Primeira divisão paraguaia

Conhecido como o "traficante das 1000 caras" pela sua habilidade de se esconder com diferentes disfarces, Marset parece gostar de fazer o papel de jogador de futebol. Também foragido em 2021, ele se tornou atleta profissional do Deportivo Capiatá, equipe da primeira divisão do futebol paraguaio, que jogou a Copa Libertadores quatro anos antes.

O traficante ficou pouco mais de um mês no clube, após um agente prometer em troca uma grande verba de patrocínio, 10 mil dólares que, segundo o clube, nunca foram pagos. Ainda assim, Marset fez seis jogos oficiais pela equipe na elite paraguaia. Cinco meses depois de sumir dos treinamentos sem dar explicação, o "jogador" foi detido com um passaporte falso em Dubai.

Em liberdade novamente, Marset viu sua situação com a polícia piorar desde então. Além de mais provas de sua liderança no tráfico internacional, ele é o principal suspeito de ser o mentor intelectual do assassinato do promotor paraguaio Marcelo Pecci, que tinha atuação destacada contra o crime organizado no país. Pecci foi assassinado quando estava em lua de mel com a esposa, em uma praia na Colômbia. Horas antes do atentado, sua mulher, uma famosa jornalista paraguaia, havia postado que eles estavam esperando seu primeiro filho.

Na investigação liderada pelo promotor, foram realizadas mais de 100 buscas com apreensões de 98 propriedades, 28 veículos, 10 aviões, um helicóptero, 41 tratores, 48 motos, sete barcos e mais de 100 milhões de dólares, a maioria contra a facção de Marset.

O traficante foi localizado neste fim de semana em uma mansão onde vivia com a esposa e três filhos. Mesmo cercado por mais de 2 mil policiais que o procuravam, conseguiu fugir na manhã da última segunda, e tem paradeiro desconhecido. Ao todo, 12 pessoas foram presas na operação, incluindo dois jogadores de futebol uruguaios, um deles com destacada atuação na primeira divisão da Bolívia.

— Os efetivos policiais estavam realizando uma perseguição em conjunto com equipes de inteligência e um policial foi sequestrado pela organização criminosa, e liberado horas mais tarde — disse o ministro boliviano, que suspeita que o traficante ainda se encontra em solo boliviano.

Na casa onde ele vivia, foram encontrados 17 fuzis, uma pistola, 1915 munições, quatro coletes à prova de bola, uma moto, 31 veículos, além de algumas chuteiras, bolas e camisas de futebol.