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Análise: Pia Sundhage estreia com o Brasil na Copa após ciclo completo; veja números

Laís Malek

Agência O Globo - EXTRA 23/07/2023
Análise: Pia Sundhage estreia com o Brasil na Copa após ciclo completo; veja números
Pia Sundhage - Foto: CBF

Depois de 54 jogos, sete competições internacionais — três com chancela da Fifa —, quatro anos e 92 jogadoras convocadas, a sueca Pia Sundhage estreia como a treinadora do Brasil em uma Copa do Mundo. A missão, de conquistar a inédita primeira estrela, é difícil, mas durante o último ciclo, ela demonstrou que o trabalho realizado pode render frutos.

O Mundial de 2019, disputado na França, obrigou o Brasil a prestar mais atenção no futebol feminino, em um momento em que todos os olhos do mundo estavam voltados para a modalidade. Após mais uma eliminação precoce — o Brasil não consegue passar da primeira fase de mata-mata desde a medalha de prata, na China, em 2007 —, a CBF então resolveu contratar um nome expressivo para comandar a seleção.

Foi então que Pia Sundhage foi apresentada, em agosto de 2019, com excelentes credenciais e a fama de carrasca da seleção brasileira. A treinadora comandou os Estados Unidos no bicampeonato consecutivo olímpico em Pequim-2008, quando o Brasil repetiu a medalha de prata em reedição da final de Atenas-2004. Oito anos depois, a treinadora comandava a seleção de seu país natal, que foi goleada na primeira fase pelo Brasil por 5 a 1 na Rio-2016. Mas as equipes se reencontraram na semifinal, e a treinadora conseguiu transformar o panorama: após um empate sem gols, as suecas eliminaram as brasileiras nos pênaltis.

No ciclo, são 54 jogos, com 33 vitórias, 12 empates e nove derrotas, em um aproveitamento geral de 68,5%. O ataque já balançou as redes 134 vezes, em média de 2,48 gols por jogo — número consideravelmente aumentado pela campanha do octacampeonato da Copa América, no ano passado. Já a defesa ainda tem questões a melhorar: foram 40 gols sofridos, em média de 0,74, índice que foi afetado pela maior quantidade de duelos contra seleções mais competitivas, especialmente da Europa.

No trabalho, o título da Copa América, no ano passado, em campanha invicta e sem levar gols serviu com um projeto experimental da treinadora, que deu oportunidades a jogadoras mais jovens para, finalmente, promover a tão aguardada renovação da seleção brasileira. Foi a primeira vez desde 2003 que o Brasil disputou uma competição sem nenhuma jogadora do trio que marcou a história da modalidade no país. Formiga estava aposentada, Marta lesionada e Cristiane é preterida pela sueca desde fevereiro de 2021.

Um ano antes, nas Olimpíadas de Tóquio-2020, o desempenho da seleção não foi tão expressivo: o time parou apenas nas quartas de final, eliminado por pênaltis após empate sem gols contra o Canadá, que viria a vencer a competição. Mas os conceitos implementados pela treinadora — principalmente compactação, intensidade e capricho na pontaria — já começavam a se tornar a filosofia que serve como base para as 23 jogadoras que estão à disposição a partir da próxima segunda-feira, em Adelaide, na Austrália.

As participações nos dois torneios, embora com méritos, acabaram tornando-se coadjuvantes em relação a dois jogos disputados em abril deste ano que deram ânimo para o Brasil na reta final da preparação para a Copa e catapultaram a seleção ao posto de fortes concorrentes ao título. Na Finalíssima, primeira edição do torneio que mede forças entre o campeão da Copa América e o vencedor da Euro, o Brasil conseguiu um empate contra a Inglaterra, mostrando poder de recuperação após sofrer pressão durante os 45 minutos iniciais. E o gol de Andressa Alves, que igualou o placar, carimbou a vaga da atacante para a Austrália e Nova Zelândia — outra característica da sueca é dar chances para quem está em boa fase no momento das convocações, mesmo se estiverem afastadas do elenco há algum tempo.

Novamente, a seleção levou a pior nas cobranças de pênaltis, mas o vice-campeonato foi comemorado como uma vitória pelo elenco que demonstrou organização, garra e nível técnico acima das últimas exibições — na SheBelieves, em fevereiro, o Brasil perdeu para Estados Unidos e Canadá, apesar de vencer o Japão. Tudo isso diante dos olhares de 83.132 torcedores que lotaram o estádio de Wembley, número que entrou nos cinco maiores públicos de uma partida de futebol feminino no mundo.

Na semana seguinte, o Brasil enfrentou a Alemanha, em Nuremberg, e o resultado foi ainda melhor. A seleção venceu as donas da casa por 2 a 1, e demonstrou que o desempenho contra as inglesas não foi apenas um golpe de sorte. Em atuações sólidas, principalmente da defesa, que segurou as alemãs até os 46 do segundo tempo mesmo sofrendo grande pressão, a seleção deixou para trás a atual número 2 do ranking da Fifa.

A preparação visando especificamente a Copa começou ainda em junho, na Granja Comary, e se estendeu pelas duas semanas na Gold Coast. A questão física foi priorizada, em esforços conjuntos de toda a delegação, que desenvolveu esquema especial da viagem para minimizar os efeitos do jet lag, de modo a prevenir lesõs e garantir que todas as jogadoras da seleção estejam nas melhores condições físicas até a estreia.

Até o último treino, realizado já em Adelaide, onde o Brasil estreia amanhã às 8h contra o Panamá, não há confirmação da escalação que dará o pontapé inicial na campanha pelo título inédito. Pia mantém o suspense e faz questão de ressaltar que não há as "onze ideais" e que a escalação será ajustada jogo a jogo, mas pelas atividades propostas é possível estimar quem começará jogando contra o Panamá. Lelê; Antônia, Kathellen, Rafaelle, Tamires; Luana, Duda Sampaio, Ana Vitória (Adriana) e Kerolin; Debinha e Geyse (Bia Zaneratto).