Esportes
Recém-operada, Ana Cristina fala sobre Brasil x China 'do sofá' e saúde mental: 'Precisava de tempo para me redescobrir'
Jogadora revela motivo que a fez pedir dispensa do Mundial de 2022 e como se fortaleceu para voltar à seleção; brasileiras e chinesas se enfrentam pelo mata mata da VNL
A seleção brasileira feminina de vôlei enfrenta a China, nesta quarta-feira, às 12h30 (horário de Brasília e com SporTV2), pelas quartas-de-final da Liga das Nações, em Arlington (EUA). O Brasil, que tem doze títulos do Grand Prix, nunca venceu a VNL, torneio que substituiu o GP. São três vice-campeonatos em 2019, 2021 e 2022. Essa é a quinta vez que a seleção de José Roberto Guimarães avança à fase final. E a atacante Ana Cristina, que disputou o início da VNL, torcerá do sofá. Recém-operada do joelho direito, a jogadora conta pela primeira vez sobre como se sentiu quando pediu dispensa da seleção para o Campeonato Mundial de 2022 e como está agora, impedida de atuar, com a perna para cima (não pode apoiar o pé direito o chão).
Após uma temporada de destaque na Turquia, quando foi importante na reta final para que o Fenerbahçe conquistasse o Campeonato Turco, Ana Cristina voltou para a seleção e em um treino em Brasília, para a segunda semana da VNL, sofreu uma lesão no menisco do joelho. Mesmo de molho e triste por não poder ajudar o Brasil na competição, a jogadora comemora o fato de que se fortaleceu mentalmente.
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— Foi o meu mental que me empurrou para o pedido de dispensa em 2022. Não era um problema físico. E tecnicamente eu não estava perfeita, mas poderia jogar. Foi a cabeça. Precisava de tempo para me redescobrir — conta Ana Cristina, por telefone ao GLOBO. — A verdade é que e não conseguia mais me enxergar dentro de quadra. Desde pequena sempre joguei, era titular e sofria pressão. Mas conseguia lidar. Quando parei de estar em quadra, mudou. Eu olhava para as jogadoras atuando e eu, fora... Passei a achar que tinha perdido o prazer de jogar. Porque eu queria tanto, mas dentro de mim parecia que eu não tinha forças. Como se eu quisesse desistir. Vi que precisava de um tempo para cuidar do meu mental. Porque para mim, desistir não era uma opção.
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A atacante, hoje com 19 anos, lembra que desde pequena convive no ambiente competitivo do esporte e que em todas as equipes que defendeu, seja clube, seja seleção, era a mais nova do grupo. Filha da ex-jogadora de vôlei Ciça e do ex-jogador de basquete Alex Souza, a ponteira se destacou na Superliga pelo Sesc/Flamengo e, aos 17 anos, foi convocada pela primeira vez para a seleção adulta. Em sua estreia olímpica, voltou para casa com a medalha de prata.
— Desde pequenininha sempre fui requisitada. Muitos diziam que eu ia ser isso ou aquilo, que era uma promessa, que ia chegar lá. Era expectativa de tudo quanto é lado. Inclusive a minha. Desde os 14 anos quando comecei nas seleções de base, sempre estive na seleção. Em todas as convocações. É uma pressão muito grande para uma menina. Tudo na minha vida foi muito apressado, sempre fui a mais nova nos times. Nunca fui a mais velha em nenhum lugar — explica a jogadora. — E nesses últimos anos, a pressão aumentou. Foram momentos muito difíceis para mim. Achei que seria a melhor opção porque não estava em condições de ajudar o time. Eu não queria atrapalhar ao invés de ajudar. Naquele momento tive de olhar para dentro de mim e reconhecer o que precisava fazer algo por mim.
Ana Cristina contou que se desligou das redes sociais para não ler os comentários sobre sua decisão, uma vez que foi bastante questionada. Ela se redescobriu nas pequenas ações do dia a dia. Contou que fora das quadras gosta de música, de tocar teclado e violão e também de soltar a voz. Disse que ganhou um teclado "quase um piano de tão pesado", de amigo secreto no Fenerbahçe, presente do treinador Zoran Terzic. Passou a ler mais livros, a passear em parques, contemplar o pôr do sol e o mar e voltou à igreja .
— Queria viver coisas simples como ficar perto da minha irmãzinha de 4 anos, de fazer festa de aniversário. — completa a jogadora, que teve ajuda da terapia, iniciada há dois anos. — A gente sabe que quando as pessoas querem, sabem ser muito maldosas. Não lia os comentários. Só eu sei a dor que senti, o estresse, a ansiedade, tudo o que se passava dentro de mim. Tive de me retirar para buscar dentro de mim soluções para que eu pudesse ficar melhor e voltar a representar meu time e a minha seleção. Foquei no mental e me preparei para a temporada de clubes. Todos puderam ver que, quando tive uma oportunidade de me expressar, conquistei o meu lugar.
Ana Cristina voltou para a seleção em alta, havia feito uma excelente primeira fase da Liga das Nações. E por uma ironia do destino, hoje, quando está forte mentalmente, ficou impedida de jogar. Ela passou pela primeira cirurgia da carreira para corrigir uma "alça de balde", uma lesão traumática do menisco que se caracteriza por uma rotura, um rasgo longitudinal, em que a parte interna do menisco se desloca, virando para o lado contrário (como o movimento de uma alça de balde).
A jogadora e sua família optaram por uma cirurgia de reconstrução do menisco, uma sutura, em que o menisco é "amarrado em seu lugar novamente". O tempo de recuperação é mais longo do que se retirasse a parte do menisco que se deslocou. Ana Cristina, que operou no dia 21 em Belo Horizonte, teve total apoio da seleção brasileira.
Se optasse por retirar parte do menisco, a jogadora teria um aumento de sobrecarga articular, poderia perder parte da estabilidade e amortecimento. Mas, a volta aos exercícios seria mais rápida, em poucas semanas. No caso da sutura, o retorno pode acontecer em até seis meses (cerca de de três meses para os saltos).
— Minha família cuidou de tudo para que eu pudesse me sentir confortável e que esse processo fosse o melhor para mim. Não o mais rápido. Todos entenderam que esta seria a melhor solução a longo prazo. Não tive problema algum com isso, mesmo sabendo que a seleção está sentindo falta de mim. Todos querem o melhor para mim. Sou muito nova ainda, tenho muito chão pela frente. Ano que vem tem Olimpíada e o mais importante é estar bem para esse momento que virá.
Ela se recupera em São Bernardo, onde a família mora, e faz o processo de recuperação em uma clínica na vizinha São Caetano. Por ora, não sabe quando se reapresentará ao Fenerbahçe. Também não está definido se sua família, incluindo a caçula Ana Cecília, de 4 anos, continuará a morar com ela em Istambul.
— O difícil mesmo é não poder colocar o pé no chão. Para acompanhar o Brasil na terceira fase foi um horror. Não podia pular do sofá — brinca a atleta, que disse que nas primeiras semanas teve muita dor. — Foi meio assustador. Nos primeiros dias tive muita dor. Estou melhor. Vou passar pelo mesmo problema no jogo do Brasil e China. Agora eu sei como torcedor sofre viu! Prefiro mil vezes o ponto a ponto num quinto e nervoso set.
Brasil x China
O Brasil terminou em quarto lugar na classificação geral da VNL e a China, em quinto. A líder foi a Polônia. Na fase de classificação, as brasileiras foram derrotadas pelas chinesas por 3 a 2 (Ana Cristina estava em quadra). A China tem a segunda maior pontuadora (240 pontos) e melhor atacante (50,83% de acertos) da competição até aqui, Li Yingying. A melhor brasileira nas estatísticas é a central Carol, sétima no bloqueio.
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