Economia
De volta ao campo: alto desemprego na China leva jovens para áreas rurais
País que experimentou urbanização acelerada nas últimas décadas vive uma escassez de trabalho para profissionais com pouca experiência, que migram para agricultura
Gong Chengqiang costumava ganhar 200 mil yuans (cerca de R$ 138,5 mil) por ano em uma empresa de tecnologia de Hangzhou, antes de a companhia fechar durante a Covid. Ele agora cultiva morangos na província rural de Zhejiang e calcula que vai perder pelo menos o mesmo valor após 40% de sua colheita ter sido destruída por pragas.
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Com 30 anos, Gong decidiu se mudar para o campo depois que uma tentativa em um blog de finanças fracassou e ele começou a se interessar por frutas. Outros blogueiros prometeram um investimento-anjo para Gong, que pretende mudar o sabor, a qualidade e o preço de 20 tipos diferentes de frutas.
Gong está empenhado em levar a ideia adiante, mas se sente isolado, especialmente porque seus pais estão decepcionados com sua decisão.
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“A família do meu pai trabalhou em agricultura durante a vida inteira”, disse Gong. “O único desejo deles é que seus filhos tenham uma vida diferente, e se perguntam por que me colocaram na escola por tantos anos se eu simplesmente voltei a trabalhar na agricultura.”
“Quando me formei em 2014, mesmo um estudante comum como eu, sem experiência, poderia receber diversas ofertas e encontrar trabalho em uma boa empresa”, disse Gong. “É algo que me foi dado pela época e inimaginável agora.”
A China rural atualmente proporciona alívio aos jovens. O presidente Xi Jinping, que durante anos exortou os jovens a ajudar a “revitalizar o campo”, intensificou esses apelos nos últimos meses, e a província de Guangdong revelou um plano-piloto em maio para matricular 300 mil universitários em suas regiões rurais até 2025.
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As ofertas incluem postos de dois anos no serviço público, estágios agrícolas e programas de incubadoras para ajudar a desenvolver ideias de negócios.
“Entendemos que um jovem é o maior investimento de uma família, ainda maior do que uma propriedade”, disse Du Peng, vice-presidente da Universidade Renmin em Pequim e conselheiro do Ministério dos Assuntos Civis, durante seminário no início deste ano.
“São necessários 20 anos ou mais para criar um jovem, por isso seu emprego impacta diretamente toda a família. É por isso que o governo presta muita atenção ao emprego juvenil.”
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Mas é pouco provável que o foco nos empregos rurais melhore a situação dos jovens chineses, dada a escala do desafio econômico. A Bloomberg Economics prevê que o crescimento do PIB caia pela metade, para 4% ao ano, na década após a pandemia de Covid, em comparação com 8% nos 10 anos anteriores.
A desvalorização dos imóveis deixa famílias inseguras quanto ao futuro, e a queda da confiança fez com que o investimento estrangeiro direto encolhesse para uma mínima histórica.
Afastar os diplomados das cidades onde as inovações tecnológicas são desenvolvidas pode minar ainda mais o crescimento, ao mesmo tempo que a desaceleração da urbanização reduziria a demanda por novos imóveis, um fator de peso para a economia.
Alguns veem a campanha rural de Xi mais como um movimento político para mitigar a possibilidade de o ressentimento dos jovens explodir novamente, após os raros protestos de rua do ano passado contra os lockdowns da Covid.
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Retirar os jovens dos centros urbanos poderia amenizar esse risco, disse Jenny Chan, professora associada de sociologia na Universidade Politécnica de Hong Kong, mas não aborda fundamentalmente a questão econômica.
“Trata-se apenas de adiar a crise do desemprego juvenil, porque estruturalmente você não está tentando melhorar a dinâmica econômica”, afirmou, acrescentando que o governo pode conseguir mais com a abertura da economia e promoção do setor privado. “O governo está apenas tentando ganhar tempo.”
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