Economia

Brasil pode ser um ‘case’ mundial de uso da inteligência artificial na saúde

Em seminário virtual sobre os efeitos da tecnologia, promovido pelas Edições Globo Condé Nast e pelo jornal O GLOBO, especialistas analisam o avanço das ferramentas na medicina

Agência O Globo - GLOBO 01/12/2023
Brasil pode ser um ‘case’ mundial de uso da inteligência artificial na saúde
saúde - Foto: Reprodução

O Brasil pode ser um exemplo mundial do uso da inteligência artificial (IA) na saúde, afirma o cirurgião e diretor do Instituto do Fígado da Rede Americas, Ben-Hur Ferraz Neto, ao participar, ontem, da 8ª edição do Wired Festival, promovido por Edições Globo Condé Nast e o jornal O GLOBO, com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. Os painéis do seminário virtual trataram do uso da tecnologia na medicina, no Judiciário, nas startups e grandes empresas. A Wired é a principal publicação internacional de tecnologia, referência em inovação e criatividade no mundo.

— O país que tem o maior programa público de saúde pode ser um case mundial. É uma revolução tecnológica que veio para ficar, as máquinas já funcionam com base na inteligência artificial. Não estamos falando de como vai ser, já está sendo — afirma Ferraz Neto.

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O primeiro painel, mediado por Paula Mageste, CEO das Edições Globo Condé Nast, reuniu ainda Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, e o diretor executivo do InovaHC, do Hospital das Clínicas, Marco Bego.

Controle dos dados

A secretaria foi criada este ano exatamente para integrar as ações na área digital que já acontecem no SUS desde 2005, com a telessaúde.

— A transformação digital do SUS passa em primeiro lugar pela integração dos dados. Há um mar de dados para poder aplicar a IA, imagens, informações pessoais, de saúde. Em relação a imagens, o uso já é melhor que o olho humano. Com os dados pessoais, é preciso muito cuidado com a supervisão dos algoritmos, para que os eventuais vieses possam ser corrigidos, equalizados, balanceados, relativizados, para que não se aprofundem discriminações que os bancos de dados podem carregar — dizAna Estela.

A secretária citou a instalação da infovia de cabos de fibra óptica, que liga Santarém e Manaus no projeto Norte Conectado, feito em parceria com o Ministério das Comunicações, usando recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Ana Estela usou como exemplo o município de Urucurituba, no interior do Amazonas, que fica a cinco horas de ônibus e mais seis horas de barco de Manaus.

— Já fizemos cerca de 200 teleconsultas (lá) — afirma.

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O diretor executivo do InovaHC, do Hospital das Clínicas, Marco Bego, lembra que o uso de IA foi impulsionado durante a pandemia. Ainda no início da crise sanitária, quando os testes ainda estavam sendo desenvolvidos, o Hospital da Clínicas coordenou projeto do uso de IA para analisar padrões nos exames de imagem do pulmão, na maior iniciativa de inteligência artificial já produzida no país nessa área.

“A transformação digital do SUS passa em primeiro lugar pela integração dos dados”

Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde

Falta de pessoal

Bego conta que foi instalado um laboratório e montada uma equipe para estudar as 82 iniciativas de saúde digital do Hospital das Clínicas, o maior da América Latina. Na hora de montar a equipe, a falta de mão de obra qualificada se impôs:

— A equipe não durou quatro meses. Um banco contratou tudo mundo. Montamos de novo. Seis meses depois, uma empresa do agro levou todo mundo embora. Temos que criar cursos para formar mais gente. Temos dificuldade de conseguir profissionais.

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Já Ferraz Neto chama atenção para regulação do uso da tecnologia. O projeto de lei 2.338/2023, que tramita no Senado, classifica os dados médicos como sendo de alto risco, o que torna a legislação mais rigorosa nesses casos. Ele teme que regulação iniba os avanços do uso da tecnologia no Brasil:

— A regulamentação nunca vai conseguir acompanhar o desenvolvimento tecnológico. A que está no Senado considera que todos os dados na área da saúde são de alto risco. Isso inviabiliza boa parte das iniciativas.

“A equipe (do laboratório de IA) não durou quatro meses. Um banco contratou tudo mundo. Montamos de novo. Seis meses depois, uma empresa do agro levou todo mundo embora”

Marco Bego, diretor executivo do InovaHC, do Hospital das Clínicas

Usar a quantidade de dados produzidos pelo sistema de saúde pode levar a um salto na qualidade do serviço, diz:

—Podemos fazer uma saúde pública mais adequada.