Economia
Com calor, preço do alface dispara 170%, e comerciantes usam até sombrinha para proteger legumes
Mercados contratam caminhões refrigerados, normalmente usados para carnes, para transportar frutas e transferiram o transporte de legumes para a madrugada
Legumes frescos por menos tempo, frutas azedando, verduras murchas e folhas queimadas e que amarelam mais rapidamente. A onda de calor que atinge o país já impacta a produção e a venda de alimentos, aumentando os preços e levando os comerciantes a adotarem estratégias para tentar reduzir as perdas — desde proteger os produtos do sol até reforçar a refrigeração nas gôndolas dos supermercados.
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Com a máxima prevista de 40 graus nesta sexta-feira, os comerciantes da Ceasa-RJ, em Irajá, na Zona Norte da cidade, fazem o que podem para proteger legumes, frutas e hortaliças e evitar o desperdício. Dona de uma barraca de legumes, a saída encontrada por Betânia Okano foi colocar uma sombrinha para proteger bandejas de pepinos, berinjelas, abobrinhas, vagens e pimentões do sol quente.
— Os legumes estão mais fracos, sem cor. O jiló, por exemplo, está chegando muito amarelado. A sombrinha dá uma quebrada no sol — diz.
Enquanto alguns legumes resistem mais, as frutas acabam ficando mais vulneráveis ao calorão. O comerciante Flagner Marinho calcula que, normalmente, a perda diária de frutas como morango, uva, pêssego, ameixa e mamão era de, no máximo, 20 caixas, o que já dobrou nesta semana.
— Tudo está vulnerável. O morango, por exemplo, até vem refrigerado, mas chega aqui e fica desprotegido, no calor. Aí não tem para onde correr — afirma.
Preço de alface dispara
Com as perdas aumentando, o preço dos alimentos sobe. Na barraca de Flagner, a caixa de bananas — que custava R$ 60 — agora sai por R$ 100. Já as quatro caixinhas de morango, que até a semana passada eram vendidas por R$ 12, já custam R$ 20.
No caso das verduras, a situação é ainda mais dramática. Produtor de Teresópolis, na Região Serrana, Evandro Lima observa que, antes, chegada ao Ceasa-RJ com cerca de 150 caixas de verduras. Nestes últimos dias, foram apenas 40. Com menos oferta, o preço sobe: a caixa de alface saltou de R$ 15 para R$ 40, um aumento de 167%.
— O alface chega murcho, o brócolis logo amarela, o repolho fica com as folhas queimadas, o tomate sai da plantação ainda meio verde mas chega aqui já quase estragando. Tudo está piorando. Antes mesmo de colher a produção já está murcha, queimada — lamenta.
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Nas bancas de flores e folhagens, a estratégia do vendedor Airton Furlan foi reforçar a quantidade de regas ao longo do dia:
— Antes trazia dois tonéis de água com 250 litros cada. Agora são quatro.
Caminhões refrigerados e vaporizadores
Da distribuição às gôndolas, redes de supermercados também precisaram rever os protocolos por conta das altas temperaturas. A rede Mundial transferiu o transporte de legumes para a madrugada, em busca de algum refresco, e contratou caminhões refrigerados extra para as frutas, antes levadas às lojas em veículos comuns.
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Responsável pelo setor de Qualidade do Mundial, a médica veterinária Josie Montebello explica que, sem a refrigeração, frutas climatérias – que continuam a amadurecer mesmo depois de colhidas, como bananas, maracujás e abacates – acabariam estragando mais rápido.
— As hortaliças a gente já transporta de madrugada, direto do campo, sem intermediário. Quando chega na loja, elas ficam estocadas numa sala climatizada e sendo repostas na área de venda. Agora instalamos vaporizadores, que associados ao ar condicionado da loja, mantêm as verduras úmidas e frescas por mais tempo. E fizemos uma revisão geral nos aparelhos de ar para manter as temperaturas baixas e manter a qualidades dos alimentos.
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Para driblar o desperdício, os supermercados recorrem também a iniciativas que facilitam o comércio de alimentos ainda próprios para consumo. Na Food to Save, já há um aumento na oferta dos estabelecimentos parceiros. A plataforma comercializa com desconto o excedente de supermercados e padarias do Rio, Belo Horizonte, Brasília e outras 18 cidades da Grande São Paulo.
CMO e cofundador, Murilo Ambrogi observa que, tradicionalmente, o volume de produtos disponibilizados é maior no verão, mas a onda de calor tem impulsionado as vendas.
— Na base de parceiros em geral, tivemos um incremento de 11% entre os dias 13 e 16 de novembro, na comparação com a média diária de três meses atrás. Especificamente em hortifruti, o aumento é de 17%, já que esses produtos naturalmente é a categoria que mais sofre com o calor — calcula.
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