Economia
Juros: Taxas sobem alinhadas aos Treasuries e por receio com área fiscal
Os juros futuros estiveram em alta durante toda a sessão, espelhando a cautela do ambiente internacional e preocupações com a área fiscal em 2023, que já pautaram a reunião inicial da equipe de transição do novo governo com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. As declarações hawkish do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ontem após a reunião de política monetária, exigiram hoje um ajuste dos ativos locais, com a curva na B3 acompanhando a trajetória ascendente do retorno dos Treasuries. Adicionalmente, o leilão de prefixados do Tesouro ajudou a colocar pressão nas taxas, com risco mais de 100% maior para o mercado do que o da semana passada.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,975%, de 12,918% no ajuste de terça-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 11,77%, de 11,69%. A do DI para janeiro de 2027 passou de 11,47% para 11,52%.
Sem negócios ontem por causa do Dia de Finados, restou ao mercado brasileiro hoje se alinhar aos movimentos pós-Fed e a curva acompanhou a reação dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos à sinalização do banco central americano. “Embora a nova alta de 75 pontos-base na taxa de juros não tenha surpreendido, declarações do presidente Jerome Powell indicaram que os juros devem subir mais do que a instituição previa, em meio a um quadro inflacionário ainda desafiador e um mercado de trabalho que segue muito aquecido”, avalia o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
Powell citou “incerteza significativa” em torno do nível de juros. “Os dados sugerem que podemos mudar para níveis mais altos do que pensamos na reunião de setembro”, disse. Afirmou também que uma pausa no ciclo não está na pauta neste momento, uma vez que os riscos de afrouxar a política monetária cedo demais são maiores. “Se não elevarmos os juros adequadamente, a inflação ficará arraigada”, explicou.
Do front doméstico, o que pesou foram os receios sobre as contas públicas no primeiro ano do novo governo. “As informações de que para acomodar as intenções do governo seriam necessários R$ 200 bilhões extra teto também favoreceram a abertura da curva”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Teve início nesta quinta-feira o processo de transição, com reunião entre a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o relator do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), segundo o qual a peça é a mais restritiva “da história”. Diante do pouco espaço para acomodar despesas de promessas de campanha – só a manutenção do Auxílio Brasil/Bolsa Família em R$ 600, considerada prioritária, exigiria R$ 52 bilhões adicionais – será discutida uma PEC Emergencial de Transição. Os valores ainda não foram definidos e a proposta a será encaminhada aos líderes e aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira.
A equipe, segundo fontes, tentará incluir nesta PEC o adicional de R$ 150 do Auxílio Brasil para mães com filhos de até 6 anos de idade, com custo adicional de R$ 18 bilhões, que, somados aos R$ 52 bilhões do Auxílio de R$ 600, apontam necessidade de R$ 70 bilhões fora do teto de gastos para bancar as promessas de Lula para o Auxílio Brasil. Aliados do petista também pressionam para ter na proposta o aumento real do salário mínimo.
Quanto aos nomes, o mercado segue no escuro. Durante o dia, voltaram a circular na imprensa informações de que Henrique Meirelles teria aceitado convite para a pasta, mas fontes informaram ao Broadcast que ele ainda não foi convidado.
Mesmo num cenário mais cauteloso, o Tesouro elevou os lotes de prefixados no leilão desta quinta-feira, mais que dobrando a oferta de LTN (de 5 milhões para 11 milhões), vendida integralmente. Nas NTN-F, foram vendidas 530 mil, do lote de 800 mil. O risco em DV01 ficou em US$ 436 mil, de US$ 186 mil na operação passada.
Autor: Denise Abarca
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