Curiosidades
A noite em que Bob Marley levou um tiro: 49 anos depois, entenda como ataque mudou o reggae para sempre
Atentado de 1976 expôs um país em guerra política, redefiniu a trajetória do artista e transformou sua música em símbolo global de resistência
A noite de 3 de dezembro de 1976 marcou para sempre a história do reggae e da Jamaica. Bob Marley ensaiava com os Wailers em sua casa, na Hope Road, em Kingston, quando sete homens armados invadiram a propriedade. Rita Marley foi atingida na cabeça, o empresário Don Taylor levou cinco tiros e o músico foi baleado no braço esquerdo, além de outro disparo que roçou seu peito. O que era um ensaio para o show Smile Jamaica se transformou em uma cena de terror. Apesar do caos, todos sobreviveram — e Marley não demoraria a transformar aquela violência em um ato público de resistência.
Luto no reggae:
Bob Marley visita o Rio:
A Jamaica vivia uma campanha eleitoral marcada por violência extrema entre o PNP, de Michael Manley, e o JLP, de Edward Seaga. Gangues ligadas aos partidos disputavam territórios, assassinatos políticos eram comuns e uma grave crise econômica alimentava o clima de insegurança. Em meio a esse cenário, Marley se tornara uma figura simbólica: sua música mobilizava multidões, mas ele insistia em permanecer neutro. Como lembrou o jornalista Mikal Gilmore, da Rolling Stone, o cantor chegou a afirmar: “Políticos são o diabo”. Sua recusa a tomar partido aumentou a tensão em torno do concerto Smile Jamaica — visto por uns como gesto pacífico, por outros como arma eleitoral.
Quando os invasores entraram na casa, a polícia designada para protegê-lo não estava no local. Rita foi ferida no quintal, Taylor se jogou na frente do músico para tentar salvá-lo e Marley caiu após ser atingido. A casa ficou marcada por dezenas de disparos. Os agressores fugiram e nunca foram identificados, alimentando por décadas teorias que vão de rivalidades políticas internas a possíveis pressões internacionais.
O show que desafiou o medo
Dois dias após o atentado, Marley subiu ao palco do National Heroes Park diante de uma plateia apreensiva. Com bandagens visíveis no braço e no torso, cantou por mais de uma hora. A apresentação, transmitida em todo o país, foi interpretada como um gesto de coragem. Para muitos jamaicanos, o artista havia enfrentado a morte para reafirmar sua mensagem de paz. A repercussão internacional elevou ainda mais sua relevância cultural e política.
Nos anos seguintes, Marley consolidou esse papel. Em 1978, no One Love Peace Concert, reuniu Manley e Seaga no palco e forçou ambos a apertarem as mãos diante da multidão — um dos momentos mais emblemáticos da história política do país. Mas sua segurança continuava ameaçada. Após o ataque, ele deixou a Jamaica e se exilou em Londres, onde transformou o trauma em criação artística.
Foi na capital britânica que Marley gravou Exodus (1977), álbum que a revista Time mais tarde classificaria como o melhor do século XX. Canções como “Exodus”, “Jamming”, “One Love” e “Waiting in Vain” ampliaram sua influência para muito além do Caribe. No ano seguinte, o repertório de clássicos cresceu com “Is This Love”, do álbum Kaya (1978), reforçando o reggae como um idioma universal de união e esperança.
Durante o exílio, o artista também intensificou seu engajamento internacional, apoiando movimentos contra o racismo e a opressão. Em 1978, recebeu a Medalha da Paz das Nações Unidas por sua atuação em defesa da reconciliação. O atentado havia transformado Marley: ele deixou de ser apenas um ícone musical e se tornou uma figura moral, política e espiritual para milhões.
A despedida de um símbolo mundial
Bob Marley morreu em 11 de maio de 1981, aos 36 anos, vítima de um câncer. Seu funeral reuniu mais de um milhão de pessoas — a maior cerimônia da história da Jamaica até então. Quase cinco décadas depois do ataque que tentou silenciá-lo, sua voz permanece entre as mais lembradas da música mundial.
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