Curiosidades
'A língua colonizadora foi recoberta pelas línguas marginalizadas', diz Silviano Santiago na Fliparaíba
Vencedor do Prêmio Camões, escritor participou da mesa 'A língua como território da cidadania'
A diversidade do mundo lusófono ganhou destaque na Fliparaíba, que começou nesta sexta-feira (28), em João Pessoa. Em sua segunda edição, a festa literária reafirma o compromisso de promover o intercâmbio cultural entre nações de língua portuguesa e refletir sobre desafios contemporâneos ligados à identidade, memória e democracia.
Com o tema “Nossa terra, nossa gente — Ancestralidade, identidade e o futuro da democracia”, o evento segue até domingo (30), reunindo dez mesas temáticas e mais de 30 autores lusófonos. Entre os destaques estão Itamar Vieira Jr., autor de "Torto arado", a escritora portuguesa Inês Pedrosa e o brasileiro Silviano Santiago, vencedor do Prêmio Camões, a mais importante distinção da língua portuguesa.
A mesa de abertura, “A língua como território da cidadania”, inaugurou os debates com reflexões sobre o papel da língua na construção de identidades e na ampliação da cidadania. Participaram o curador José Manuel Diogo, as autoras paraibanas Bernardina Freire e Aline Cardoso, além de Silviano Santiago. O escritor destacou como a língua portuguesa, antes colonizadora, foi transformada pelas lutas libertárias dos povos indígenas e africanos, tornando-se um espaço plural e vivo, capaz de unir cidadãos de diferentes continentes.
— A antiga língua colonizadora foi sendo gradativamente recoberta pelas línguas marginalizadas, dos indígenas trucidados e dos africanos escravizados, através das suas respectivas lutas libertárias — afirmou Santiago. — Se nos damos conta, primeiro, de que as escritoras e os escritores aqui presentes são cidadãos europeus, americanos e africanos, e, em seguida, de que se expressam de maneira responsável e singular por uma língua que, no entanto, lhes é comum, o conceito de cidadania acabou por dar um extraordinário salto da Carta de Caminha, onde nem existia, já que éramos todos súditos da Sua Majestade, até a Revolução Francesa, onde nos tornamos cidadãos.
A poeta Aline Cardoso ressaltou a força da oralidade na formação do português brasileiro:
— A poesia abre espaço para que vozes antes apagadas possam, finalmente, ser vistas e escutadas — disse. — A língua não nasce nos livros. Ela nasce onde o povo pisa. Sotaque é memória, nossa língua é viva e se reinventa todo dia na boca do povo. O povo pensa, o povo fala, cria filosofia sem pedir licença.
Em 2024, a primeira edição da Fliparaíba celebrou os 500 anos de Camões. Já nesta segunda edição, segundo o curador José Manuel Diogo, o objetivo é mostrar como as palavras podem ser instrumentos de libertação simbólica.
— Este ano era preciso falar sobre a defesa da democracia — comentou Diogo. — Vivemos um momento em que direitos retrocedem, minorias são atacadas e questões migratórias ganham relevância. A democracia, enquanto conquista do Ocidente, está fragilizada, pois não está se defendendo nem se sustentando por si só.
* Bolívar Torres viajou a convite da Fliparaíba
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