Curiosidades

Crítica: Lenine faz um dos discos do ano simplesmente ao ser Lenine

Inspirado em termos de composição, eficiente na construção sonora e recheado de participações escolhidas a dedo, ‘Eita’ condensa influências e resume obra & pensamento do pernambucano

Agência O Globo - 28/11/2025
Crítica: Lenine faz um dos discos do ano simplesmente ao ser Lenine
Crítica: Lenine faz um dos discos do ano simplesmente ao ser Lenine - Foto: Reprodução / Instagram

Com personalidade marcante, múltiplos talentos e abertura à colaboração, Lenine construiu uma discografia diversa em projetos — o que torna a chegada de “Eita” um verdadeiro acontecimento. É saudável buscar novos formatos e desafios, mas quando Lenine se propõe a criar um disco de inéditas em sua essência, entrega algo que só ele poderia realizar.

Inspirado nas composições e eficiente na construção sonora — conduzida pelo filho e fiel parceiro Bruno Giorgi —, “Eita” poderia facilmente figurar entre os grandes discos da MPB dos anos 1990, assim como se destaca em 2025. Com o violão como guia e espaços para que a voz e o instrumento brilhem juntos, o álbum condensa influências e resume a obra e o pensamento do pernambucano, em canções onde as palavras dançam na cadência das cordas percutidas. Seja sozinho ou acompanhado de parceiros como Dudu Falcão, Lula Queiroga, Arnaldo Antunes e Carlos Posada, Lenine dispara interjeições em faixas de comunicação imediata.

Esperançoso e exuberante, ele renova a fé no inesperado em “Confia em mim”, contagia o pianista Vitor Araújo com seus ritmos quebrados na faixa-título, soa mais romântico do que nunca em “Meu xamêgo” e apresenta um maracatu indignado com baixo eletrônico e flautas de Carlos Malta em “O rumo do fogo”. Lírico ao extremo em “Foto de família”, Lenine encontra sua melhor tradução na voz sobrenatural de sua parceira de dueto — e não se intimida, brilhando em uma gravação que reluz no filme criado para acompanhar o disco.

As participações e parcerias são escolhidas a dedo: o Grupo Bongar em “Boi Xambá”, Siba na toada “Malassombro”, o guitarrista Gabriel Ventura (virtuoso nos dedilhados e ambiências de “Beira”) e o acordeonista Mestrinho em “Aos domingos” trazem beleza e dinamismo ao álbum. “Eita” ainda se permite balançar ao sabor do trap em “Deita e dorme” e expressa sábia indignação em “Motivo”: “por A + B/ a pessoa sem palavra/ pode estar cheia de prata/ que não vale um tostão”.

Cotação: Ótimo