Curiosidades
Museu Judaico de São Paulo inaugura exposição com 60 obras de Lasar Segall
Entre as obras expostas está ‘Eternos caminhantes’, de 1919, conhecida por ter sido confiscada pelos nazistas em 1937 e usada na campanha contra o movimento modernista
O Museu Judaico de São Paulo inaugura neste sábado (29) a exposição “Lasar Segall: sempre a mesma lua”. Realizada em parceria com o museu que leva o nome do artista, a mostra reúne 60 obras — entre pinturas, gravuras, desenhos e aquarelas —, que vão desde sua vida na Europa até sua imigração e atuação no Brasil, na década de 1920.
Na busca por apresentar um amplo panorama da produção de Lasar Segall, a instalação não se baseia em uma linha cronológica ou em um recorte de temas que se repetem ao longo de sua trajetória — como as fortes cores e seu “flerte” com as abordagens expressionista e realista. A ideia é traçar uma dimensão poética sobre sua atuação e relembrar seu interesse por assuntos como deslocamento, espiritualidade e memória.
Responsável pelo projeto curatorial, Patricia Wa decidiu usar a imagem da lua como norte do caminho expositivo. Como a curadora explica, apesar da mostra conter representações artísticas de Segall para o satélite natural, a intenção foi colocá-lo como símbolo de profundos olhares e sentimentos do artista, em especial ao que era atribuído por ele à própria identidade judaica.
O título surge a partir de um antigo artigo de Vinicius de Moraes em defesa de Lasar Segall a ataques conservadores. Elaborado durante uma retrospectiva no Museu Nacional de Belas Artes, o poeta relembra um episódio relatado por Rubem Braga. Ao saírem juntos e observarem a lua, Segall disse ao escritor: “Essa velha lua, amigo, sempre a mesma…”.
— A lua é o fio poético da exposição. É uma imagem que evoca a ideia de que o olhar empático sempre foi uma ética do trabalho de Segall, independente do lugar em que estava. A lua o acompanha e, apesar de se transformar, é também sempre a mesma. É ela que ilumina esses caminhos dos deslocamentos (do artista) — explica Patricia.
‘Eternos caminhantes’
O núcleo central da exposição coloca lado a lado obras de Lasar Segall em sua “fase” expressionista, enquanto vivia na Alemanha, e trabalhos produzidos após sua imigração ao Brasil, em 1923. É uma mistura entre a paleta tropical brasileira e as cores densas do período alemão.
Nascido em 1889, em Vilnius, capital da Lituânia, e naturalizado brasileiro, Segall cresceu em um ambiente fortemente influenciado pela ortodoxia judaica e
tradições seculares. Filho de um escriba da Torá (livro sagrado do judaísmo), ao migrar para Berlim e Dresden, na Alemanha, aproximou-se da modernidade europeia e desenvolveu uma abordagem artística expressiva.
— As diversas linguagens (artísticas) do Segall mudaram muito mediante o lugar em que estava, a situação política do momento e as tensões que viveu. Segall estava na Europa durante a Primeira Guerra Mundial, mas já estava no Brasil na Segunda Guerra… Em Dresden, por exemplo, ele tem um encontro mais forte com as vanguardas e com o expressionismo alemão. Já no Brasil, ele entra em contato com o modernismo daqui. Então, essas mudanças tiveram impactos importantes na sua linguagem e em seu vocabulário como artista — explica a curadora.
Boa parte das obras foi emprestada à instalação pelo Museu Lasar Segall. Localizado na Zona Sul da capital paulista, o espaço surgiu a partir da casa-ateliê do artista judeu e foi inaugurado em 1967, depois de sua morte. Entre os destaques cedidos pelo museu está a famosa tela “Eternos caminhantes”. Feita em 1919, é conhecida por ter sido confiscada pelo regime nazista em 1937 e exibida na mostra Arte Degenerada, parte da campanha contra o modernismo da época. Foi apenas em 1958 que a família de Segall conseguiu reaver o quadro e fazê-lo retornar ao Brasil.
Há ainda trabalhos do acervo da Pinacoteca de São Paulo, exemplo da tela “Morte”, de 1919; obras de coleções particulares, como “Morro vermelho”, de 1926, e “Mulata com criança”, de 1924 (que, na mostra, surge acompanhada de uma problematização quanto ao título); e “Interior de pobres II”, de 1921, que foi restaurada para entrar no conjunto.
De acordo com Patricia, a união dessas obras fornece uma visão da obra de Segall que atravessa fronteiras geográficas, culturais e religiosas. A partir de seu “olhar empático para com o outro”, a exposição busca unir as vivências do artista lituano na época (como a dor dos deslocamentos e as perseguições) a discussões contemporâneas.
— Se a lua ilumina todos os caminhos, todos os deslocamentos, ela ilumina também as guerras. Ao final, ela não é apenas uma “chave” positiva, mas uma observadora. Há uma forte ligação entre Segall e o que nos é contemporâneo, por isso revisitamos sua obra à luz do presente — diz a curadora.
Exposição “Lasar Segal: sempre a mesma lua”
Onde: Museu Judaico de São Paulo. Rua Martinho Prado, 128, Bela Vista. Quando: terça a domingo, das 10h às 18h. Até abril de 2026. Ingresso: R$ 24 (inteira) e R$ 12 (meia), grátis aos sábados.
*Estagiária sob supervisão de Luiz Rivoiro
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