Curiosidades
Patrícia Marx: ‘É a 1ª vez em que me sinto nesse lugar da grande MPB’
Aos 51 anos, lançando álbum totalmente dedicado à obra de Ivan Lins, com série de shows no Rio e em SP e com livro autobiográfico a caminho, ex-cantora infantil conta por que está na ‘melhor fase da vida’
Conhecida na infância por sua participação no grupo Trem da Alegria, a cantora Patrícia Marx tinha já os seus 22, 23 anos de idade quando sofreu um assalto e foi, na madrugada, formalizar o boletim de ocorrência em uma delegacia.
— O delegado me chamou pra sala dele e eu sentei assim, meio longe. Ele falou: “Você não é a Patrícia que canta?” Eu falei: “Sou.” Isso, numa delegacia, onde você entra já devendo até o que não fez. Aí, ele prosseguiu: “Nossa, gosto muito do seu trabalho, e tem uma música que eu adoro... canta para mim agora?” E eu tive que cantar! — indigna-se ela. — Esse é o nível de familiaridade (que as pessoas têm comigo). É uma invasão, com o qual eu tenho lidado na minha análise há mais de 15 anos. Porque quando a gente cresce num ambiente que invade, é muito difícil você ser uma pessoa normal na vida adulta.
Essa é uma das histórias que a artista, de 51 anos, pretende contar em um livro, misto de autobiografia e tese acadêmica, que está preparando. Hoje, cursando o quinto período do curso de Psicologia (é a primeira incursão em sua vida por uma universidade), Patrícia garante, porém, estar “na melhor fase da vida”. E celebra na noite desta quinta-feira, no Teatro Rival Petrobras, no Rio, estreando (com ingressos esgotados) o show de “Nos dias de hoje, esteja tranquilo”, disco todo dedicado à obra de , que lançou nas plataformas no mês passado (ano que vem, ela repete a dose dia 16/01 no Blue Note de São Paulo e volta ao Rival nos dias 13 e 14 de março).
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Há alguns anos, a cantora começou a pensar na ideia de seu produtor de gravar um disco de intérprete, dedicado a algum compositor importante. E o nome de Ivan (de quem ela nunca tinha cantado ou gravado música alguma) veio à baila.
— Eu lembrava só das mais famosas dele. Aí fui buscar coisas lá atrás, na educação musical que recebi da minha família. Ouvi o “Abre alas” (LP de 1974), um outro de capa amarela, que tem “Aparecida” e “Mãos de afeto” (“Somos todos iguais nessa noite”, de 1977), e fiquei apaixonada — conta. — Fui sacando que, bem no comecinho da carreira, o Ivan era mais rock, nem parecia ele. Depois veio essa coisa mais política e, já nos anos 1980, o pop, de músicas para novela, que não deixam de ser obras primas. Na época, eu estava escutando muito yatch rock e vi nele essa mesma mistura de rock com black e com soul, que é bem interessante.
Para “Nos dias de hoje, esteja tranquilo”, ela pescou a faixa-título de “Abre alas” (gravada em dueto com Seu Jorge), “Aparecida” e “Mãos de afeto”. E também “Cartomante” (tentando não ouvir a clássica gravação de Elis Regina, “porque senão eu ia acabar cantando como ela”), “Setembro” (que fez como faixa instrumental, tal qual ela se popularizou no exterior em gravação de Quincy Jones), “Vieste”, “Ai, ai, ai, ai ai” e “Chega”.
— Estou muito feliz, é a primeira vez em que me sinto nesse lugar que eu sempre desejei, o da grande MPB — admite Patrícia, que até há pouco se via como uma artista “entre o pop, a bossa nova e o soul” e, no novo disco, investiu em uma formação instrumental básica, de trio de jazz. — (É uma formação) convencional de propósito, crua, para a chegar à alma, à essência das músicas. Jamais mexeria em um arranjo do Ivan, cantei as músicas nos tons originais. Ensaiei meses, porque eu não alcançava esses tons mais baixos dele. E fui conseguindo chegar neles muito por conta da minha idade. Entrei na menopausa e a voz foi ficando mais grave.
O repertório, o título e a capa do disco (para a qual Patrícia posou com uma balaclava de crochê) dão conta do aumento do seu interesse por política, que caminhou junto com seu curso de Psicologia. As intenções da Patrícia Marques, que na adolescência ainda passou a assinar Marx (“aos 16 anos, eu já era o Karl Marx e Groucho Marx, a crítica com uma certa piada”, explica), são bem claras agora.
— Uma das coisas que eu quero fazer depois que me formar é atuar no campo social, como psicóloga social e psicanalista. Então, nada mais justo do que falar disso agora, de uma maneira muito intrínseca, no meu trabalho — diz ela, que não deixou de sofrer retaliações nas redes por suas posturas progressistas. — Aconteceu na época do Inominável, tinha o povo que mandava coisas no Instagram e eu nem dava bola, já trancava os comentários. Mas acho que agora, com o conhecimento do que eu posso fazer, a minha entrada no social fica melhor. A ação comunitária é mais importante do que você ficar postando coisas no Instagram.
No show, além das canções do disco, Patrícia Marx relê números pouco lembrados de sua carreira solo (como a regravação de “Charme do mundo”, de e ) e hits como “Espelhos d’água” ( e Cláudio Rabello),
“Te cuida, meu bem” e “Sonho de amor” (as duas, da fase inicial de sua carreira solo, compostas pelos midas das rádios ):
— Acho os dois geniais, é música de qualidade. Eles fizeram muito sucesso, mas foram muito criticados na época, eram tachados de bregas. Hoje a gente vê uma geração tentando fazer igual a eles, tentando puxar para essa simplicidade, essa construção única da canção.
Autoproclamada “pessoa pouco interessante enquanto celebridade”, Patrícia Marx segue sua vida. Desde o começo do ano, tem frequentado a Umbanda. E há cinco anos, revelou a sua homoafetividade ao ir viver uma história de amor com a advogada Renata Pedreira. Ela diz não ter sofrido ataques homofóbicos.
— Estou num lugar privilegiado. Se eu fosse uma mulher negra ou trans, seria bem mais difícil — acredita ela. — (Descobrir-me) foi libertador em vários sentidos, até para entender o masculino e o lugar que eu estava antes, como uma mulher hétero. Aprendi a ter uma outra visão. A maturidade, a psicanálise, as minhas relações, os meus casamentos, tudo isso só agregou para mim.a
Mesmo mais para low profile, a cantora topou participar em 2023 do programa de TV “The Masked Singer”.
— Só faço coisas que me divertem, que me dão prazer. Já fiz muita coisa que eu tinha que fazer, porque eu não tinha esse entendimento que hoje eu tenho — diz Patrícia, nada saudosa dos primeiros anos de sua carreira solo. — Tinha sempre alguém me dirigindo, eu não podia dar muito palpite, rolava um machismo velado. Só fui ter autonomia artística na (gravadora) Trama, quando eu casei e tive filho (Arthur, hoje com 26 anos) — conta. — Meu sonho adolescente era ter uma banda de rock de garagem. Eu gosto muito de grunge, queria muito aprender a tocar guitarra, cantar umas músicas da Patti Smith!
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