Curiosidades

Foi Lô Borges quem 'criou' o Clube da Esquina; entenda

Termo se refere a um cruzamento de Belo Horizonte onde o músico reunia amigos do bairro para brincar, conversar e tocar violão nos anos 1960.

Agência O Globo - 03/11/2025
Foi Lô Borges quem 'criou' o Clube da Esquina; entenda
Lô Borges - Foto: Reprodução / Instagram

Morto neste domingo (2), aos 73 anos, Lô Borges foi o verdadeiro criador do Clube da Esquina. O nome nasceu do cruzamento entre as ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, onde a família Borges residia. Ali, Lô reunia a juventude do bairro para brincar, conversar e tocar violão, nos idos dos anos 1960.

O grupo que se formava naquele ponto inspirou a canção “Clube da Esquina”, presente no quarto álbum de Milton Nascimento, “Milton” (1970). A música virou disco, e o disco se transformou em movimento: um novo jeito de fazer música, um verdadeiro estado de espírito. Não há nada comparável ao Clube da Esquina. As influências vinham, muitas vezes, de fora para dentro — os Beatles, por exemplo, foram um pilar fundamental da estética do grupo, marcada fortemente por Minas Gerais, sua cultura e sua geografia montanhosa, suas janelas, vielas e ladeiras íngremes. Não por acaso, eles cantavam orgulhosos: “Sou do mundo, eu sou Minas Gerais”, como na canção-carta “Para Lennon e McCartney”.

Lô era um dos 11 filhos do jornalista Salomão Borges e da professora Maria Fragoso Borges, a Dona Maricota. Eles moravam na rua Divinópolis, em uma casa que permanece de pé até hoje e ainda pertence à família. Como um personagem vivo, a casa foi fundamental não só para o movimento que surgiria depois, mas também como abrigo para inúmeros encontros da turma que orbitava os Borges, entre eles Toninho Horta, Wagner Tiso, Tavito, Flávio Venturini e Beto Guedes.

Por conta de um problema na fundação, a residência precisou de reformas, e a família se mudou para o Edifício Levy, no Centro de Belo Horizonte. Por acaso, foi na escada do Edifício Levy que Lô conheceu uma voz incomum — um encontro que mudaria para sempre a música popular brasileira.

“Uma semana depois que chegamos no Levy, minha mãe pediu que eu fosse comprar café, leite e pão. Como todo garoto, preferia escada ao elevador”, contou Lô Borges ao GLOBO em 2022. “Morávamos no décimo sétimo andar. Descendo os degraus, de repente me deparo com um som divino, que ficava mais alto conforme eu descia. Eram uns falsetes de voz acompanhados de violão. Quando cheguei no quarto andar, estava lá o Bituca. Eu era uma criança de 10 anos e o Milton um cara de 20, mas não fez a menor diferença, rolou uma empatia forte. Fiquei totalmente seduzido, abduzido pela voz e pelo violão dele.”

Lô Borges estava internado no Hospital Unimed, em Belo Horizonte, desde 18 de outubro, tratando um quadro de intoxicação medicamentosa. Ele morreu por falência múltipla de órgãos, conforme boletim divulgado pela assessoria de imprensa da Unimed.