Curiosidades
Luiz Fernando Guimarães fala de filhos e de envelhecer: 'Tem dia que acordo com 50 anos, aí depois do almoço fico com 100'
'Estou velho, mas me sinto bem', afirma ator de 75 anos com projetos de filme, programa de TV e peça

Conhecido pelo jeito bem-humorado, elétrico, por vezes nervoso, mas sempre agitado, recebeu um desafio inédito em sua carreira: interpretar um morto. O ator é protagonista da comédia “Quem é morto sempre aparece”, de Rodrigo Van Der Put e Ju Amaral. Produção do Núcleo de Filmes dos Estúdios Globo, o longa estreou sexta-feira com exclusividade no .
Na trama, Luiz Fernando interpreta um milionário que é encontrado morto pelo porteiro de seu prédio (Augusto Madeira) e um trambiqueiro (). Endividada, a dupla vê a chance de tentar enriquecer às custas do falecido e decide carregá-lo por todos os lados aplicando pequenos golpes. O filme marca a volta do ator ao cinema após 12 anos. O lançamento coincide com um momento especial na vida de Luiz Fernando, que possui outros projetos na TV e no teatro. O ator apresentou ao lado de Susana Vieira o especial “Falas da vida”, exibido quinta na TV Globo e já disponível no , em que apresentou uma perspectiva bem-humorada sobre o envelhececimento. Em novembro, ele entra em cartaz nos palcos cariocas na peça “Curto-circuito”, com direção de Gustavo Barchilon e texto de Gustavo Pinheiro, colunista do GLOBO.
Luiz Fernando recebeu O GLOBO em seu apartamento no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, para uma conversa sobre os novos projetos, envelhecimento, carreira e família. Perto de completar 76 anos, ele fala ainda sobre como a paternidade mudou sua vida com a chegada dos filhos Dante e Olívia, de 14 e 12 anos, adotados em 2020 pela ator e pelo marido, Adriano Medeiros, com quem vive há mais de 20 anos. A seguir, os pontos principais da conversa.
Morto-vivo
“Foi um dos personagens mais difíceis da minha vida. Eu jamais faria um morto desmaiado, porque sou muito ativo. Eu tive que permanecer imóvel, senti como se eu tivesse sido embalsamado. Foram cenas intermináveis. Me levavam para todos os lados, me colocavam de patins. Foi um trabalho em que ultrapassei meus limites de forma maravilhosa. De todos os meus personagens, fazer um morto foi o mais difícil. Eu sou muito agitado.”
Envelhecimento
“Temos essas nomenclaturas que a sociedade coloca. É o idoso, o velho, o da melhor idade… e ninguém sabe exatamente qual é o melhor. O ‘Falas da vida’ tem um humor incrível e uma super sinceridade em falar sobre o tema do envelhecimento, do etarismo. Foi incrivel reencontrar a Susana (Vieira) depois de tanto tempo. Tínhamos trabalhado juntos em “Minha nada mole vida” (2006). Falamos sobre as vantagens e desvantagens de envelhecer. Tem coisas muito divertidas quando você tem uma certa idade. Os cabelos se descontrolam. No nariz, na orelha, na sobrancelha, não existe mais direção. Você para de pagar passagem de ônibus, mas por outro lado as dores musculares... A quantidade de médicos que você passa a frequentar. São muitas as contradições que cercam a vida da gente. Eu tenho 75 anos, mas não me sinto com 75. Meu filho brinca que estou velho. Estou, mas me sinto bem, tem dias que acordo com 50 anos, aí depois do almoço eu fico com 100. Gosto de ter a idade que eu tenho, não voltaria no passado.”
Fonte de juventude
“As crianças me reconectaram com meu eu mais alegre e divertido. Elas exigem de você um companheirismo, jovialidade. Os filhos fazem você olhar para a própria infância. Quando meu filho fala que não quer ir pra escola, eu falo que também não queria. Ninguém quer. Mas tem que ir. Os meus estão na fase de porta fechada, numa idade que não querem muita conversa. E eu entendo, também tenho meu momento de porta fechada, mas às vezes temos que insistir no diálogo. Nos damos muito bem, são muito poucos os conflitos. A minha coisa de pai é gostar de abraçar. O menino não gosta muito, mas a menina gosta. Outra coisa é que os filhos nos dão vontade de viver mais para ver eles crescidos. Eu nunca tive medo da morte, mas hoje a morte significa desaparecer da vida deles, então me cuido e quero estar mais presente.”
Fernandas
“Acompanhei incessantemente a trajetória da Nanda () com ‘’. Eu conversava com ela diariamente pelo telefone. Nós fomos juntos no Oscar em que ‘O que é isso, companheiro?’ concorreu (em 1998). Antes do Globo de Ouro, ela me disse: ‘Eu não vou ganhar, não tem como ganhar dessas louras lindas’. Eu disse, você vai ganhar. O filme é muito lindo que nos lembra aquele momento horroroso da ditadura militar. Passei por situação parecida, meu irmão foi preso e exilado, então fiquei muito impactado. É um filme que veio num momento oportuno para o Brasil. Não podemos esquecer, não dá para vacilar. Eu estava no sítio no dia da premiação, tentei assistir pelo celular, mas acabei dormindo. Acordei com ela me ligando: ‘ganhei’. E eu disse: ‘não falei, cacete, que você ia ganhar’. Tenho um amor enorme pela Nanda e pela mãe, são minha família. A Fernanda (Montenegro) me manda mensagem de áudio e fala: “Luiz, aqui é a Fernanda, a mãe.”
‘Os normais’
“Toda hora eu vejo as pessoas compartilhando cenas de ‘Os normais’. Não tenho ideia da quantidade de coisas que fizemos, mas tratamos de todos os temas possíveis e trabalhamos com todo o elenco da TV Globo. Guardo com muito carinho. Recebo memes no Instagram todos os dias, é muito legal.”
Carreira
“‘’, ‘Os normais’, ‘O super sincero’... tive personagens incríveis na minha carreira e trabalhos com os quais as pessoas se identificavam de forma muito direta. O bom humor não envelhece. O humor deixa de ser bom quando ele constrange, quando você escuta e não te bate bem.”
Novo livro
“Gostaria muito de escrever um novo livro (o ator lançou a biografia ‘Eu sou uma série de 11 capítulos’, pela Globo Livros em 2022). Tenho histórias que não entraram e coisas que vivi depois. Vou esperar um pouquinho para dar uns cinco anos do primeiro, mas já tenho história suficiente para mais um.”
Redes sociais
“Acho as redes ferramentas bacanas para conversar com o público, com pessoas que te admiram e você nem imagina. É algo que me dá conforto e é um retorno sobre o meu trabalho. E eu sou aquele cara que eu leio mesmo os comentários, tiro um tempo para isso. 90% das pessoas estão falando coisas legais e os outros 10% falam coisas que não tem nada a ver. Mas faz parte, não perco a cabeça. Eu foco nos 90%.”
Natureza
“Amo a floresta. Meus filhos são da Amazônia, já fui para Brasília levando cartas de um milhão de brasileiros para chamar a atenção para a necessidade de salvar a Amazônia. Fiz uma floresta no meu sítio (em Itaguaí, no Rio de Janeiro), onde moramos por três anos, durante a pandemia. Hoje, voltamos a morar no Rio, mas temos planos de passar mais tempo lá. E vamos sempre. O sítio me ajudou muito até como pessoa. Eu era muita ansioso, impaciente, achava chato essa coisa de plantar um negocinho e levar anos para crescer. Mas notar que dessa impaciência nasceu uma floresta é algo que me transforma.”
Nos palcos
“‘Curto circuito’ é uma peça que fala de comportamento humano. Fala do cidadão no momento de desistência, não da vida, mas daquilo que quer fazer. São oito cenas cotidianas que todo mundo já passou, desde o homem que precisa fazer ressonância magnética, que é aquela coisa horrivel, ao cidadão que não consegue dormir porque tem um trabalho importante no dia seguinte. Além de interpretar as oito situações, eu chamei algumas amigas (, Fernanda Torres, Debora Bloch, Regina Casé e Patrycia Travassos) para participar através de áudios na peça. Gosto de fazer teatro. É como jogar uma partida de vôlei. Vou sai suado, com a alma lavada. Foi onde comecei há 50 anos (como parte da companhia Asdrúbal Trouxe o Trombone) e quero permanecer sempre.”
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