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Apenas um reflexo seu
“Se você fura fila, se você suborna guarda de trânsito, se você troca seu voto por favores, se você tira vantagem dos outros por se achar mais ‘esperto’, se você recebe um troco a mais e não devolve, se você pra tudo na vida dá um jeitinho... você em nada difere dos políticos corruptos deste país. Eles são apenas um reflexo seu” (Facebook).
Esse rol é banal e de menor potencial ofensivo, contudo, denuncia uma “cultura”. A citação prevalece como uma de tantas manifestações de descontentamento com práticas corruptas; isso é bom. Todavia, corrupção é associada generalizadamente a político\as; isso é mau, posto que não se indicam pessoa e fato, mas se acusam político\as pelo simples fato de político\as serem.
Parênteses: interessante é que essa acusação, “tradicionalmente”, era generalizada. Mais recentemente, com a paixão de torcida por mitos à esquerda e à direita, passou-se a considerar corrupto\a o\a político\a alheio\a. Se o político\a flagrado\a em desonestidade é da minha turma, está justificado\a: “Ele\a tem que jogar as regras sujas do jogo, ou não governa”. Poisé!
Tenho insistido e solicito reflexão: político\as são flagrados em atos de corrupção porque o Legislativo e o Executivo são expostos a razoável transparência. Suas ações e contas são públicas e publicadas; quem queira fazê-lo pode avaliar números e atividades (aliás, é de se registrar que, proporcionalmente, as mulheres políticas são menos corruptas).
Já do Poder Judiciário nada se sabe, e não poucos magistrados têm feito de tudo para que nada se fique sabendo. Como a opacidade é a maior causa de corrupção, suspeito que o Poder mais corrupto pode, mesmo, ser o Judiciário. Bastou a imprensa voltar-lhe um pouco de olhos e já viu muito mais do que tantos crentes na Justiça aceitariam sequer imaginar.
O que desejo considerar, todavia, é o estranho entendimento do povo acerca das causas da corrupção que crassa, faz tempo, no País. Penso que não se estabelece correspondência entre o nosso descaso com as instituições republicanas e o consequente arremedo de república que nos acaba resultando dessa desconsideração
República é a expressão formal-legal de uma prática política. A consistência objetiva de uma república depende da adesão a ela de uma cidadania republicana. Política, por sua vez, é uma relação complexa de interesses e de poder, sendo – ou devendo ser – o pleito eleitoral o seu momento culminante. O ato de votar consubstancia a vontade popular (claro, na curta medida em que a vontade popular é consubstanciável pelo voto).
E quem se interessa por isso? Embora evidentes mudanças quanto ao Executivo Federal, há farto material disponível mostrando que a maioria liquidante do\as brasileiro\as não sabe, logo após os pleitos, quem sufragou. Não sabe e não quer saber. Em verdade, conhece pouquíssimo de assunto público. Menos ainda quando se trata de político\as municipais.
Pergunte-se, todavia, a um\a popular sobre qual time de futebol jogou com qual outro em tal ano e quais os escretes, árbitro\as, bandeirinhas, técnico\as, reservas, goleadores, faltas, cartões vermelhos e amarelos etc., e se vai obter respostas bem precisas. Certo, futebol já não está tão em alta. As gerações mais jovens talvez saibam mais sobre as baixas intrigas do “bbb”.
Não é politicamente correto dizer isso, mas sabemos que somos assim. Agora, não há como negar que político\a eleito\a o é por uma relação eleitoral. Como os procedimentos eleitorais são, para muito\as político\as tanto quanto para muito\as eleitore\as, um balcão de negócios, o que vem depois vem prenhe de corrupção.
Contabilidade: uma relação eleitoral corrupta produz um\a político\a que paga eleitore\as. Para pagar eleitore\as que cobram algum benefício pelo voto, o\a político\a "rouba" dinheiro público. Não há inocentes nessa relação em que, ideologicamente, o sufrágio é havido por mercadoria, e é impossível mudar apenas uma das partes envolvidas e culpadas\responsáveis. (qual a melhor expressão?)
Não foi ensinado assim e, às vezes, não queremos saber. porém, os jeitos de uma sociedade, sua cultura, não são naturais, mas criação histórica. As coisas são de uma ou de outra maneira conforme encaramos as relações de poder e de interesses estabelecidas, que não se vão transformar por moto próprio; se ficarem diferentes é porque foram transformadas.
A agência de mudanças é a cidadania. Para quem “não gosta” de partido político, há várias outras ferramentas sociais de intervenção na realidade: ONG, associação de bairro, movimento estudantil, sindicato, entidade profissional, movimentos independentes etc. Tome alguma e faça algo, ou não reclame do\a abominável corrupto\a ser, por ato ou inação sua, apenas um reflexo seu.
Um reflexo nosso enquanto nação: da nossa tolerância com as tantas práticas corruptas que ocorrem ao nosso redor, às nossas vistas, com a nossa ciência um tanto condescendente e um tanto cumplice, principalmente quando disso nos sai alguma vantagem pessoal.
“Se você fura fila, se você suborna guarda de trânsito, se você troca seu voto por favores, se você tira vantagem dos outros por se achar mais ‘esperto’, se você recebe um troco a mais e não devolve, se você pra tudo na vida dá um jeitinho... você em nada difere dos políticos corruptos deste país. Eles são apenas um reflexo seu” (Facebook).
Esse rol é banal e de menor potencial ofensivo, contudo, denuncia uma “cultura”. A citação prevalece como uma de tantas manifestações de descontentamento com práticas corruptas; isso é bom. Todavia, corrupção é associada generalizadamente a político\as; isso é mau, posto que não se indicam pessoa e fato, mas se acusam político\as pelo simples fato de político\as serem.
Parênteses: interessante é que essa acusação, “tradicionalmente”, era generalizada. Mais recentemente, com a paixão de torcida por mitos à esquerda e à direita, passou-se a considerar corrupto\a o\a político\a alheio\a. Se o político\a flagrado\a em desonestidade é da minha turma, está justificado\a: “Ele\a tem que jogar as regras sujas do jogo, ou não governa”. Poisé!
Tenho insistido e solicito reflexão: político\as são flagrados em atos de corrupção porque o Legislativo e o Executivo são expostos a razoável transparência. Suas ações e contas são públicas e publicadas; quem queira fazê-lo pode avaliar números e atividades (aliás, é de se registrar que, proporcionalmente, as mulheres políticas são menos corruptas).
Já do Poder Judiciário nada se sabe, e não poucos magistrados têm feito de tudo para que nada se fique sabendo. Como a opacidade é a maior causa de corrupção, suspeito que o Poder mais corrupto pode, mesmo, ser o Judiciário. Bastou a imprensa voltar-lhe um pouco de olhos e já viu muito mais do que tantos crentes na Justiça aceitariam sequer imaginar.
O que desejo considerar, todavia, é o estranho entendimento do povo acerca das causas da corrupção que crassa, faz tempo, no País. Penso que não se estabelece correspondência entre o nosso descaso com as instituições republicanas e o consequente arremedo de república que nos acaba resultando dessa desconsideração.
República é a expressão formal-legal de uma prática política. A consistência objetiva de uma república depende da adesão a ela de uma cidadania republicana. Política, por sua vez, é uma relação complexa de interesses e de poder, sendo – ou devendo ser – o pleito eleitoral o seu momento culminante. O ato de votar consubstancia a vontade popular (claro, na curta medida em que a vontade popular é consubstanciável pelo voto).
E quem se interessa por isso? Embora evidentes mudanças quanto ao Executivo Federal, há farto material disponível mostrando que a maioria liquidante do\as brasileiro\as não sabe, logo após os pleitos, quem sufragou. Não sabe e não quer saber. Em verdade, conhece pouquíssimo de assunto público. Menos ainda quando se trata de político\as municipais.
Pergunte-se, todavia, a um\a popular sobre qual time de futebol jogou com qual outro em tal ano e quais os escretes, árbitro\as, bandeirinhas, técnico\as, reservas, goleadores, faltas, cartões vermelhos e amarelos etc., e se vai obter respostas bem precisas. Certo, futebol já não está tão em alta. As gerações mais jovens talvez saibam mais sobre as baixas intrigas do “bbb”.
Não é politicamente correto dizer isso, mas sabemos que somos assim. Agora, não há como negar que político\a eleito\a o é por uma relação eleitoral. Como os procedimentos eleitorais são, para muito\as político\as tanto quanto para muito\as eleitore\as, um balcão de negócios, o que vem depois vem prenhe de corrupção.
Contabilidade: uma relação eleitoral corrupta produz um\a político\a que paga eleitore\as. Para pagar eleitore\as que cobram algum benefício pelo voto, o\a político\a "rouba" dinheiro público. Não há inocentes nessa relação em que, ideologicamente, o sufrágio é havido por mercadoria, e é impossível mudar apenas uma das partes envolvidas e culpadas\responsáveis. (qual a melhor expressão?)
Não foi ensinado assim e, às vezes, não queremos saber. porém, os jeitos de uma sociedade, sua cultura, não são naturais, mas criação histórica. As coisas são de uma ou de outra maneira conforme encaramos as relações de poder e de interesses estabelecidas, que não se vão transformar por moto próprio; se ficarem diferentes é porque foram transformadas.
A agência de mudanças é a cidadania. Para quem “não gosta” de partido político, há várias outras ferramentas sociais de intervenção na realidade: ONG, associação de bairro, movimento estudantil, sindicato, entidade profissional, movimentos independentes etc. Tome alguma e faça algo, ou não reclame do\a abominável corrupto\a ser, por ato ou inação sua, apenas um reflexo seu.
Um reflexo nosso enquanto nação: da nossa tolerância com as tantas práticas corruptas que ocorrem ao nosso redor, às nossas vistas, com a nossa ciência um tanto condescendente e um tanto cumplice, principalmente quando disso nos sai alguma vantagem pessoal.
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