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O jovem espanhol

Carlito Peixoto Lima 23/11/2025
O jovem espanhol
Carlito Peixoto Lima - Foto: Assessoria

Carmencita Martínez, costureira, vivia em sua terra, Espanha. Bonita, mas infeliz, o marido alcoólatra, batia nela. Certo dia conheceu um brasileiro alegre, malandro; apaixonou-se. Combinaram, ela deixou o marido em Barcelona, fugiu de transatlântico para o Rio de Janeiro, levou o filho Alejandro de 12 anos. Durante a travessia do Oceano, outra decepção, flagrou seu novo amor abraçado com a camareira. Briga para lá, briga para lá, ficaram sem falar. Quando o transatlântico atracou na cidade de Maceió, Carmencita desceu para espreitar um pouco a cidade, quando conheceu as praias, ficou fascinada, retornou ao navio fez as malas, desceu para sempre, adotou a cidade nordestina como sua nova pátria. A fuga de Carmencita e seu filho aconteceu há 11 anos. Como excelente costureira, logo se adaptou. Hoje tem ótima clientela e vive com o filho num apartamento na praia de Ponta Verde.


Alejandro Martínez vinte três anos, mais de 1,80 metros de altura, corpo de atleta, cara bonita. Xodó das meninas na Faculdade de Direito.


Meses atrás, Alejandro iniciou, junto com colegas, a frequentar algumas aulas particulares de Direito Constitucional, matéria mais difícil da Faculdade e de todo o Brasil. Dora, a professora aposentada, cinquenta e poucos anos, senhora letrada, inteligente, de um bom humor notável. Dá essas aulas em seu apartamento para alunos da Faculdade, até para se ocupar, para se distrair. Tem ótimo salário de aposentada.


Dora foi muito poderosa nos bastidores da política. Nas brigas do poder ela metia a mão, elegantemente, protegendo seus partidários no emaranhado da corte. Seja no poder Executivo, Judiciário ou Legislativo, durante o mandato de seu amante governador, ela foi muito ouvida, teve poder de decisão. Esse poder conquistou pela inteligência, conhecimento de Direito, firmeza e posições tomadas, principalmente na cama.


A coroa tem ânsia de viver. O mais de meio século não deixou marcas na jovem alma. Corpo bem cuidado, bem moldado; com ajuda das academias e cirurgiões plásticos.


Mulher de muita leitura, gosta de fazer cursos, atualizar-se, aprender. Inventou esse curso de três meses, todas as quartas e sextas-feiras à noite. Os alunos são duas jovens e três rapazes. Alejandro a via como uma irmã mais velha, mas apreciava os decotes ousados dos vestidos de alegre professora.


Certa sexta-feira, terminando um trabalho em grupo; mais de duas horas de discussão numa mesa circular, deixaram a conclusão do trabalho para o outro dia, sábado às dez horas. Dora ofereceu um gostoso lanche: moqueca de siri mole, regado a vinho branco e uísque. Foi o ponto alto da noite. O grupo se divertiu até tarde, ouvindo boa música, papo alegre, inteligente. Alejandro dedilhando um violão, cantou: “Dora, rainha do frevo e do maracatu…”. Recebeu um beijo lambido no ouvido.


Dia seguinte logo cedo, Dora foi ao mercado comprou camarão e arabaiana. Ligou para todos os componentes do grupo, se desculpando, pedindo para adiar o trabalho para a quarta-feira. Não telefonou para Alejandro. Quando o espanhol, carregando livros e cadernos, embaixo do braço, pontualmente tocou a campainha, Dora abriu a porta do apartamento, com um largo sorriso e um bom-dia. Estava maravilhosa de vestido azul claro bem decotado, colado ao corpo. Alejandro estranhou quando sua amiga falou no trabalho adiado. Convidou-o para entrar, seria uma companhia agradável se ficasse para bebericar um pouco.


Sentaram-se na varanda com vista para a praia, o mar e as palhas dos coqueiros. O uísque rolou, bons tira-gostos, até Dora servir o peixe com camarão. Almoço divino.


Ao voltar para a varanda, tomaram licor. Eram três horas quando Dora colocou uma música suave, americana, iniciava: “Heaven I’am heaven…”, isso é, “Paraíso, estou no paraíso”. Alejandro deu-lhe a mão, saíram dançando, escorregando pela sala, ele cantava a canção em seu ouvido, puxava seu corpo com vigor, iniciaram uma seção de carinho e carícias. Beijaram-se. Ela sussurrou, pediu para ser levada ao quarto. Num impulso, colocou-a nos braços, empurrou a porta, entrou no quarto, soltando-a ternamente na cama. O resto é silêncio, como diria Shakespeare.


Depois dessa tarde de muito amor, os dois continuam se encontrando secretamente no mínimo duas vezes por semana no belo apartamento da coroa, que continua poderosa. Faz o que quer do jovem espanhol.