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Para calçar as velhas sandálias

Tem gente que fica ansiosa para saber quais serão os ganhadores do Oscar, outros acompanham apaixonadamente os campeonatos futebolísticos; enfim, todos nós, cada um no seu quadrado existencial, queremos saber quem são os melhores entre os melhores em alguma atividade humana que toca o nosso coração.
Eu, com minhas idiossincrasias, gosto de, todo ano, saber quem é o vencedor do Nobel de literatura. Não fico, de jeito-maneira, acompanhando as discussões e especulações sobre os nomes que poderão vir a ser laureados, nada disso. Gosto apenas de saber quem recebeu os louros.
A razão para isso é muito simples: para mim, ficar sabendo quem é laureado por tão distinto prêmio é um tremendo exercício de humildade porque, na grande maioria das vezes, eu nunca, nunquinha, havia ouvido falar do abençoado, tamanha é minha ignorância.
Aliás, se deitarmos nossas vistas na lista dos escritores que foram brindados com esse reconhecimento, veremos que a grande maioria nos são ilustres desconhecidos e que, dos nomes que nos são conhecidos, as obras de poucos nos são familiares.
Dito de forma curta e direta: não tem como não nos sentirmos achatados pela nossa pequenez diante da imensidão da nossa presunçosa ignorância. É, meu caro Watson, e põe presunçosa nisso.
Frequentemente emitimos juízos maldosos e levianos sobre tudo e a respeito de todos, sem ao menos levantarmos, por um instante que seja, a pergunta que não quer calar, mas que é silenciada com vergonhosa frequência: o que, de fato, sabemos a respeito disso que estamos falando? Entendo.
Sobre esse modo de ser que, infelizmente, abunda nestas terras de Pindorama, há uma historieta que certa vez fora apresentada por José Guilherme Merquior, onde ele nos diz que existia um senhor que desfazia amizades quando ousavam dizer que Machado de Assis era melhor que Lima Barreto. Inclusive teria rompido relações com o genro que teria murmurado na mesa, durante o jantar, que o Bruxo do Cosme Velho era melhor que J. Caminha. Ao final da sua vida, antes de fechar seus olhos para o mundo e abri-los para a eternidade, teria sussurrado: “e eu que nunca li um nem o outro”.
Pois é. Assim somos nós com nossas opiniões supostamente críticas, não é mesmo?
Ah! Sim, o ganhador do Nobel de literatura em 2025 foi o escritor húngaro László Krasznahorkai que, até então, me era um ilustre desconhecido e que, agora, estou tendo o prazer de conhecê-lo.
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