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Por Um O Ponto Arquimédico

O filósofo polonês Leszek Kolakowski nos ensina que, quando começamos a cogitar a possibilidade de sermos uma grande farsa, é o momento em que realmente estamos iniciando nossa jornada pelas sinuosas veredas da filosofia.
Se não somos capazes de olhar de frente as nossas misérias demasiadamente humanas, é sinal de que a nossa alma ainda se encontra mergulhada no fundo de uma caverna lúgubre, feito o Gollum do “Senhor dos Anéis”, que não se cansa de ficar acariciando o seu precioso, ao mesmo tempo que se divorcia da realidade.
Podemos dizer que no mundo atual somos uma multidão de Gollums vagando de um lado para o outro, cada qual com o seu precioso, perdendo a lucidez, que é a pior cegueira que há, como nos lembra José Saramago. Falta de lucidez essa que nos torna cegos para o mal que se encontra aninhado em nosso coração e que nos impede de reconhecer a humanidade daqueles que odiamos - e que desumanizamos - sem saber porquê.
Hannah Arendt, em “As Origens do Totalitarismo”, nos explica que a desumanização do outro é o centro do fenômeno totalitário, desumanização essa que começa no coração de cada um. Ou seja: toda tirania totalitária necessita, sempre, apoiar-se no consentimento da sociedade (de uma parcela dela).
Nesse sentido, a raiva frente àqueles que divergem da patota tem que ser justificada com mil e uma explicações para que os abusos possam ser cometidos sem explicação alguma.
Atualmente, não são poucos os que advogam em favor daquilo que chamam de tolerância, mas que não toleram que ninguém caminhe fora do seu riscado ideológico, da mesma forma que não é pequeno o número daqueles que afirmam defender a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, são incapazes de aceitar que alguém faça um enxovalho cáustico contra suas convicções.
Sim, eu sei, todos sabem, que é difícil reconhecer que nós, da mesma forma que os outros, somos hipócritas em alguma medida, ignorantes em muitas coisas e alienados de alguma forma, mas é necessário que procuremos encarar a nossa farsa existencial, para podermos dar os primeiros passos rumo àquilo que poderíamos chamar de um amadurecimento da nossa sociedade. Amadurecimento que começa necessariamente em nós, em cada um de nós.
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