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Uma sociedade cansada
José Ortega y Gasset, em seu livro "Misión del Bibliotecario", publicado no início do século XX, chamou a atenção para a grande quantidade de livros que inundava o mercado editorial, o que, por sua vez, se tornava um problema para qualquer pessoa que desejasse adentrar o universo do conhecimento.
Também na primeira metade do século XX, Gilberto Freyre, em seu livro "Retalhos de jornais velhos", apontou para esse mesmo fenômeno e lembrou que a maioria absoluta das obras publicadas não trazia nada que realmente merecesse a atenção dos leitores. Aliás, Ortega y Gasset apontava o mesmo em sua reflexão, lembrando que, a seu ver, essa tendência apenas aumentaria com o passar do tempo.
Bem, cá estamos nós, navegando com o barquinho de papel da nossa consciência em meio a esse oceano bravio de informações, sem saber muito bem o que fazer ou por onde começar.
Diante disso, penso que o primeiro ponto que devemos ter claro é que não é bom querermos saber tudo, nem desejarmos estar informados sobre todas as notícias. O que realmente importa é sabermos, com clareza, o que nós realmente queremos e precisamos saber, e não o que os meios de comunicação querem que "saibamos".
Procedendo desse modo, sem querer, estamos a empregar o método de Sherlock Holmes: o procedimento de exclusão daquilo que, no momento, não nos interessa, para centrarmos nossa atenção no que realmente importa para nós. E o que importa não é aquilo que é estridentemente noticiado, mas sim o que nos ajuda a compreender com maior clareza e profundidade as questões que nos inquietam. Se não conseguirmos fazer essa distinção com relativa clareza, francamente, estamos lascados.
Agora, se considerarmos esse critério de orientação, constataremos rapidamente que grande parte do nosso tempo é direcionada para temas e assuntos que nos foram sugeridos de forma sutil pela grande mídia e pelas redes sociais e, por pura distração, passamos a crer, tolamente, que fomos nós que, de forma “crítica”, decidimos ponderar essas questões e temas como assuntos de suma importância para nossa vida.
Por fim, Umberto Eco, em "De la estupidez a la locura", nos diz que isso seria uma espécie de "bulimia sem objetivo", como é, aliás, a vida de um modo geral em nossa fatigada sociedade, que não se cansa de chafurdar na lama do autoengano e sair contando vantagem.
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