Alagoas
Egresso da Ufal desenvolve aplicativo homenageando artista alagoana Hilda Calheiros
Aplicativo é resultado do mestrado na área de Processos de Criação Musical, concluído na USP por João Gracindo da Silva Neto, egresso do curso de licenciatura em Música
Mais um sonho realizado pelo alagoano João Gracindo da Silva Neto se concretizou em setembro deste ano: ele concluiu, na Universidade de São Paulo (USP), o mestrado na área de Processos de Criação Musical, desenvolvido na linha de pesquisa Música e Educação: processos de criação, ensino e aprendizagem. Graduado em Música pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), João, nascido no município de Atalaia, também pertence à equipe de pesquisadores do Centro de Musicologia de Penedo (Cemupe), onde diz considerar ter tido este referenciado centro, instalado na bela e histórica cidade ribeirinha, um papel fundamental em sua formação acadêmica.
“Por meio do Centro de Musicologia de Penedo, tive contato com diversos pesquisadores de diversas regiões do Brasil e do exterior. Pude conhecer vários trabalhos e pessoas que me inspiraram. Participei de eventos e congressos regionais, nacionais e internacionais. Sempre me senti bem no grupo de pesquisa que atua junto ao Cemupe, do qual faço parte”, afirma João Gracindo, que já pretende cursar o doutorado no ano que vem, como continuidade de sua formação vislumbrando um futuro profissional como docente e pesquisador.
A dissertação de João Neto teve como título "Sistema Tutor Dalhi: buscando o fluxo para o treinamento auditivo” e foi desenvolvida com a orientação da professora Ana Luisa Fridman, do corpo docente da USP. Mas o mestrado concluído teve um diferencial: resultou no desenvolvimento de um software ao qual “batizou” de Dalhi. E este nome tem genuinamente raízes alagoanas: faz uma homenagem à musicista Hilda Calheiros Teixeira.
“O nome dado ao software veio do pseudônimo de Hilda Calheiros Teixeira. Segundo Joel Bello Soares, em seu livro Alagoas e seus Músicos, Hilda costumava adotar o pseudônimo de Dalhi Hoserlaci. Decidimos atribuir o nome artístico dela ao nosso aplicativo por ele representar o nome de uma artista/educadora musical mulher; uma compositora brasileira e latino-americana; e, também, uma musicista engajada em questões políticas e sociais de assistência, inclusão e representatividade feminina. Ainda, seu pseudônimo carrega consigo uma representação artística da musicista”, explica.
E, na complementação, ele enfatiza: “O título é, portanto, uma citação à Dalhi Hoserlaci. Tentamos buscar por um título que não se restringisse a siglas, acrônimos, nomes de compositores do cânone ocidental ou termos técnicos musicais. Levamos em conta que o título deve possuir uma carga significativa. Ele deveria sintetizar toda a concepção do trabalho em poucos termos”.
João Gracindo concluiu a graduação na Ufal em 2022 e, no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), escreveu sobre um aplicativo para treinamento auditivo de intervalos musicais, desenvolvido por ele. A orientação foi do professor Milson Fireman, também seu professor de violão. O nome do software é e-Perception e está disponível na Playstore. No mestrado na USP, o pesquisador deu continuidade ao trabalho iniciado na Ufal.
“Continuei escrevendo sobre o desenvolvimento de aplicativos para o estudo de música, mas buscando suporte na Teoria do Fluxo, de Csikszentmihalyi. Por isso o subtítulo 'buscando o fluxo para o treinamento auditivo'. O que resultou no desenvolvimento de outro software, que batizei como Dalhi”, diz. E informa: “O aplicativo Dalhi ainda não está disponível em lojas virtuais, mas em breve estarei fazendo publicação. Um protótipo foi produzido para a elaboração do trabalho, apresentação em congressos e para a defesa da minha dissertação. Essa versão está no github”.
Sobre a dissertação, ele diz que uma das pautas abordadas refere-se à questão das diversidades e da decolonialidade. Segundo João Gracindo, recentemente, um musicólogo americano chamado Ewell publicou um livro sobre o tema. Após o americano analisar diversos livros populares de teoria musical, utilizados em diversas universidades, ele notou que obras de compositores que não compõem o cânone ocidental ocupam, nestes materiais, um espaço ínfimo. Questões como o eurocentrismo, o patriarcalismo e a supervalorização de compositores brancos também assolam os livros direcionados ao campo da Percepção Musical.
“Buscamos não reforçar esse vício em nosso aplicativo. Sabemos que as tecnologias refletem hábitos humanos. Por isso, acreditamos que não basta olhar para um aplicativo tutor de forma puramente positivista. É preciso ter uma postura crítica, já que se trata de um material didático. Por isso, também nos baseamos na teoria crítica da tecnologia”, enfatiza.
Sobre a contribuição do curso de Música da instituição alagoana para mais um salto acadêmico qualificado, ele destaca: “O curso de graduação em Música da Universidade Federal de Alagoas contribuiu para o meu ingresso na Universidade de São Paulo (USP) de diversas maneiras. Eu destacaria a experiência como aluno bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), enquanto estive sob orientação do professor Marcos Moreira, entre 2018 e 2021, mas também os projetos de extensão e de monitoria que participei. Além disso, a graduação me proporcionou uma rica formação artística e científica. A Ufal tem ótimos professores. Todos eles me apoiaram bastante enquanto fui aluno. Tentei aproveitar ao máximo tudo o que o curso poderia me oferecer”, diz, reconhecendo a importância da formação adquirida durante a sua trajetória acadêmica na instituição alagoana.
Atuação no Cemupe
João Gracindo da Silva Neto é um dos membros do Centro de Musicologia de Penedo (Cemupe), desde a graduação, quando bolsista de iniciação científica pela cota da Ufal, e também pelo CNPq. O centro foi criado pelo professor Marcos Moreira, da Ufal, e seu orientador no Pibic. Com elogios ao referenciado professor, ele aproveita para dizer que Moreira possui uma rica formação e maturidade acadêmica, tanto como músico, quanto como educador. “Naturalmente, seu viés pedagógico acaba sendo refletido na forma como ele lidera o grupo. Isso é um grande diferencial”.
Como participante do Cemupe, disse ter conhecido diversos pesquisadores do Laboratório de Musicologia (Lamus) da USP, cujo contato continuou sendo mantido durante toda a pós-graduação realizada na instituição paulista. Dos laços estreitados, realização de atividades em parceira, quando, em 2023, integrou a comissão organizadora do 4º Congresso da Associação Brasileira de Musicologia (ABMUS), sediado em Santos (SP). “Nesse evento, apresentamos o Dicionário Musical de Barros Leite, de 1904, editado pelo Cemupe, entre 2022 e 2023. Esse contato com os musicólogos paulistas me trouxe referências importantes para o desenvolvimento do meu trabalho. O Lamus tem sido parceiro do Cemupe desde quando foi inaugurado, estreitando os laços entre a USP e a Ufal”.
Formação e futuro acadêmico
A carreira acadêmica a ser seguida não consiste só num desejo pessoal de João Neto, mas é fruto de uma decisão ainda quando cursava o ensino médio. Já começou a viver a sua primeira experiência na docência ao ingressar, em março deste ano, como professor temporário da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no estado do Paraná. “Tem sido bastante interessante essa primeira experiência. A gente se vê do outro lado, como professor, e não mais como aluno. Está sendo um grande aprendizado”, enfatiza.
E numa breve retrospectiva sobre sua trajetória de formação e da importância do acesso à educação, como aluno oriundo da Ufal, deixa como reflexão e mensagem: “Em primeiro lugar, o fato de ser uma universidade pública. Sempre estudei em instituições públicas: municipais, estaduais e federais. A educação pública garante que as pessoas possam ter uma boa formação. É importante valorizar isso, pois há muitas injustiças. Ainda, a Ufal é uma universidade que conta com um quadro docente diversificado e bastante competente. Como alunos, temos acesso a um ensino de qualidade. Isso é um reflexo da qualificação dos professores e dos demais servidores da instituição. É, também, uma universidade que nos forma tanto tecnicamente quanto humanamente”.
E, nesse reconhecimento, acrescenta: “Sinto que carrego comigo mais do que os conteúdos técnicos que aprendi no curso Música. Percebo também toda a maturação humana que a universidade me proporcionou”.
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